quarta-feira, outubro 27, 2010

Cápsula da Cultura

terça-feira, outubro 26, 2010

Ministro Pífio

Como consequência da Guerra das Malvinas, quando a Argentina, por ter abdicado da produção própria de fármacos, ficou desabastecida de medicamentos, o Governo Militar Brasileiro aprovou um programa de desenvolvimento dos princípios ativos (fármacos) dos 350 remédios constituintes da farmácia básica nacional. Estimava-se que, em dez anos, seria possível desenvolver, por engenharia reversa, pelo menos 90% desses produtos. De fato, em pouco mais de três anos, cerca de 80 processos já haviam sido desenvolvidos e 20 produtos já estavam sendo produzidos e comercializados por empresas brasileiras. Precipitadamente, o governo Itamar Franco tentou lançar a produção de Genéricos. O poderoso Cartel de multinacionais de medicamentos se insurgiu. Ameaçou-nos de desabastecimento, derrotou e humilhou o Ministério da Saúde. Poucos anos depois, esse cartel não somente cedeu prazerosamente ao Ministro José Serra, então na pasta da Saúde, como até fez dele seu "homem do ano". Seria o costumeiro charme do ministro? Seu sorriso cândido? Senão, qual o mistério? Como consequência da isenção de impostos de importação para o setor de química fina, da infame Lei de Patentes e de outras obscenidades perpetradas pela administração FHC, mais de mil unidades de produção no setor de química fina, dentre as quais cerca de 250 relativas a fármacos, foram extintas. Além do mais, cerca de 400 novos projetos foram interrompidos. Os dados foram extraídos de boletim da Associação Brasileira de Indústria da Química Fina. Em poucos anos, o deficit da balança de pagamentos para o setor saltou de US$ 400 milhões para US$ 7 bilhões. Quem acha que, com isso, Serra não merece o título de homem do ano das multinacionais de medicamentos? Também os "empresários" brasileiros do setor de genéricos têm muito a agradecer ao ex-ministro da Saúde, pelas suas margens de lucro leoninas. Basta ver os imensos descontos oferecidos por quase todas as farmácias, que com frequência chegam a 50%. Os genéricos do Serra nada têm a ver com GenéricosE o tão aclamado programa de AIDS do Serra? Países ricos ficavam muito aquém do Brasil. Como foi possível? E por que será que, nesse mesmo período, os recursos orçamentários destinados ao saneamento básico não foram usadosO então dispendioso tratamento de um único doente de Aids correspondia à supressão de recursos para saneamento básico que salvariam centenas de crianças de doenças endêmicas, com base em uma avaliação preliminar. Será que Serra desviou recursos do saneamento básico? Mistério! Mas persiste o fato de que, durante a administração Serra na Saúde, os recursos destinados ao saneamento, à época atribuídos a esse ministério, não foram aplicadosMesmo sem contar mistérios como aqueles dos "sanguessugas" e da supressão do combate à dengue no Rio, entre outros, considero pífia a atuação de Serra no Ministério da Saúde.

Cápsula da Cultura

quarta-feira, outubro 20, 2010

Governo de SP

Desde março, o Ministério da Saúde centralizou a compra de 30 medicamentos distribuídos pelo SUS que antes eram adquiridos pelos governos estaduais. A justificativa foi ampliar a capacidade de negociação com os laboratórios para reduzir preços. A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo alega problemas de logística para atrasar a distribuição de, pelo menos, quatro remédios. Um dos casos é o do Betaferon (betainterferona 1b, da Bayer Schering Pharma) usando para controlar os sintomas da esclerose múltipla. Na cidade de São Paulo, os pacientes que têm a doença degenerativa não conseguem encontrar o medicamento há uma semana. O Ministério diz que não houve atraso na entrega. A secretaria confirma o recebimento de 31.215 ampolas de Betaferon, mas o remédio não chegou nas unidades do SUS com a rapidez necessária para atender à demanda. O consumo médio mensal do remédio na rede pública de saúde é de 71.718 unidades. "Como o custo do medicamento é alto, ele não é comercializado. A caixa com 15 doses dura um mês. E eu só tenho o remédio até quinta", diz a administradora pública Elisa Schuler, de 29 anos, que recebe o medicamento do SUS há dois anos, quando foi diagnosticada com a doença. Os outros medicamentos com problemas na distribuição são Rebiff, Avonex e Copaxone.

terça-feira, outubro 19, 2010

Guerra Cambial

Os grandes economistas, que viveram os descontroles cambiais que antecederam a Segunda Guerra Mundial (como Keynes e Nurkse) sabiam que o estabelecimento da taxa de câmbio não poderia ser deixada às "livres forças do mercado", porque - na presença de plena liberdade para o movimento de capitais - ela estaria sujeita a toda sorte de incontroláveis movimentos à procura de arbitragem. Foi isso que levou o acordo de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional, a estabelecer um regime de taxas de câmbio fixas, mas reajustáveis sob seu controle e sem exigir a livre conversibilidade. Seus construtores sabiam, pela experiência vivida, o desastre a que levou a desvalorização competitiva nos anos 30 do século passado. No desespero, cada país procurava desvalorizar sua moeda para aumentar sua exportação e "roubar emprego dos seus parceiros". O preço externo, entretanto, foi uma redução dramática do comércio internacional, causa eficiente do aprofundamento da crise dos anos 30, a maior que o capitalismo já viveu. Ela colocou em risco o sistema político apoiado na democracia, com a emergência da crença no planejamento centralizado. Uma das prováveis heranças da crise foi o Nazismo, cujo custo social para a humanidade foi incalculável. Quando assistimos, numa mesma semana, países tão distantes como Suíça, Japão, Coreia do Sul, Índia, Malásia, Taiwan, Filipinas, Cingapura e Brasil procurarem defender-se da tremenda desvalorização competitiva do dólar e do yuan, não podemos deixar de concordar e apoiar o ministro Guido Mantega, que denunciou, claramente, a existência de uma guerra cambial. Declaração, aliás, apoiada pelo ministro Meirelles, que ao reconhecer que o real está em seu maior valor, afirmou em Washington que "tomaremos todas as medidas para proteger a economia brasileira dos desequilíbrios causados pelo fluxo exagerado de capitais, gerado pelo excesso de liquidez nos países desenvolvidos". Foi uma resposta clara ao diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que deu a entender que o aumento da representação dos emergentes no FMI, depende deles assumirem responsabilidades para o equilíbrio global. Disse ele, cruamente, que "se você quer estar no centro do sistema, terá que ter mais responsabilidades sobre como as suas ações afetam a economia global", mas não teve a coragem de mencioná-la! É mais do que evidente que com a deterioração do sistema de Bretton Woods, iniciada com a dramática desvalorização do dólar nos anos 70 e com a imposição, pelo sistema financeiro internacional, da liberdade de ação que havia produzido a crise dos anos 30, o mundo exige um novo acordo global sobre as taxas cambiais e o movimento de capitais. Dos anos 30 aos 70, o setor financeiro esteve, como sempre deve estar, a serviço do setor financeiro. Com a liberdade de movimento de capitais e as suas "inovações", ele colonizou o setor real da economia e levou o mundo à beira da catástrofe. É hora de terminar com isso. 

segunda-feira, outubro 18, 2010

Gás Brasiliano

Os pedágios da Marechal Rondon

A rodovia Marechal Rondon, uma das mais importantes do interior de São Paulo, recebeu a maior quantidade de novas praças de pedágio da segunda fase de concessões do governo estadual. As duas concessionárias que a administram, no entanto, foram as que menos investiram entre todas que assumiram estradas paulistas de dois anos para cá. A ViaRondon, responsável pelo trecho oeste da rodovia, desembolsou R$ 69 milhões em melhorias, só 61% do previsto. A Rodovias do Tietê, que cuida do trecho leste da Marechal Rondon, gastou R$ 76 milhões, 69% do estimado por sua proposta original. Os resultados destoam do volume de investimentos das outras concessionárias, que, gerenciando malhas rodoviárias semelhantes, injetaram entre R$ 106 milhões e R$ 408 milhões, de 80% a 165% do programado. Os gastos podem incluir desde reforma da sinalização, da pista ou implantação de acostamentos. O ritmo mais lento nos desembolsos encontra eco na queixa de usuários. "O pavimento já começa a ter rachaduras, faltam guard-rails. Não vi nenhuma reforma significativa. Só pedágios em excesso", reclama José Angelo Cagnon, vice-diretor da Faculdade de Engenharia da Unesp em Bauru. A Marechal Rondon tem 13 praças de cobrança, 8 delas implantadas de 2009 para cá. O sistema Ayrton Senna/Carvalho Pinto foi repassado para a Ecopistas sem a instalação de novos pedágios. A concessionária desembolsou nesse período R$ 106 milhões, quase 20% acima do estimado na proposta original. 

sexta-feira, outubro 08, 2010

Sonho Americano

Economia é uma ciência temperamental. Sem pedir licença, ela invade nossos lares e remexe as nossas vidas das formas mais inusitadas. No Brasil temos assistido ao lado caridoso da Madame Economia. Nos últimos anos, muitos brasileiros pela primeira vez tiveram acesso à casa própria e ao carro zero. Nos Estados Unidos, por outro lado, Dona Economia tem andado de mau humor e chacoalhado até a estrutura da família americana. A recessão dos últimos dois anos, com a destruição de trilhões de dólares em riqueza e mais oito milhões de empregos, tem forçado americanos a cancelar a saída da casa dos pais e estudar perto de casa e postergar a troca do carro. Para azar das mocinhas do Tio Sam, os americanos casaram-se menos. Como todo mundo sabe, casar custa caro. Com menos emprego e crédito, muitas noivas estão sendo enroladas ou, na melhor das hipóteses, tendo de aceitar apenas juntar os trapos. Quem acha que casar custa caro, espere até chegarem os filhos. Temerosos, os americanos pisaram no freio também na procriação. O número de nascimentos despencou. Ampliar a família ficou para depois. Quer dizer que a crise e a recessão estão reduzindo o número e o tamanho das famílias americanas? Não necessariamente. Com a Economia, nada é tão simples. Há um fato na vida familiar que pode custar mais caro que o casório, lua de mel e filhos: a separação. O número de divórcios despencou por lá. Melhor aguentar a jararaca do que acabar quebrando, estão pensando os gringos. Muitos acreditam que esta recessão americana não passa de uma crise passageira, como tantas outras e que tudo logo volta ao normal. Se eles estiverem certos, estas tendências familiares serão revertidas. Infelizmente, eu não tenho a mesma fé. Durante três décadas, famílias, instituições financeiras e o governo americano se endividaram para sustentar um estilo de vida em que o consumo era muito superior à renda. Uma hora, chegaria o inverno e o momento das cigarras apertar os cintos, poupar, pagar dívidas e consumir menos. Desconfio que tal momento chegou. Tentativas do governo americano de aumentar os gastos públicos só conseguirão, na melhor das hipóteses, postergar o ajuste, roubando do futuro para tornar o presente menos duro. Se eu estiver correto, é possível que um período longo de desempenho econômico medíocre cause mudanças permanentes na estrutura familiar americana. Menos casamentos, menos filhos e relações desgastadas mantidas apenas por razões financeiras. Pobre sonho americano.

sábado, outubro 02, 2010

A velha mídia na campanha de 2010

Veja
Retrospectiva 2010 da Veja: As capas da Veja

Retrospectiva 2010 da GloboO padrão Globo
Retrospectiva 2010 da Folha de São PauloO estilo Folha

Retrospectiva 2010 do Estado de São Paulo, incluindo um estudo sobre as 74 "crises governamentais": Breve análise do Estadão

Vox Populi

A premissa da democracia é a liberdade do eleitor para definir seu voto. Cada um faz o que quer com ele. Toma sua decisão e a digita na urna. Uns não são mais livres que outros. Ninguém é obrigado a votar como os demais e nem a selecionar seus preferidos da mesma maneira. Não cabe discutir critérios de escolha. Não existe o modo certo de votar. Algumas pessoas definem seu voto levando em conta elementos que outras desconsideram. É possível que uns pensem ser fundamental algo que outros têm certeza que é irrelevante. Só os muito arrogantes acham que todos deveriam usar o critério deles. 
Amanhã, faremos uma eleição presidencial diferente das anteriores. Nela, os eleitores estão sendo convidados a pensar de uma nova maneira: avaliar os candidatos pelo que representam e não pelo que são no plano pessoalNossa cultura política sempre privilegiou a personalidade e as características pessoais dos candidatos como elementos diferenciadores do voto. Até hoje, quando se pergunta, nas pesquisas de opinião, o que é mais importante na hora de escolher determinado indivíduo, a maioria responde sem titubear: “a pessoa”. Essa primazia da dimensão individual leva a que as campanhas se transformem em passarelas nas quais os candidatos desfilam, disputando os olhares e as preferências. Quem fala melhor? Qual o mais preocupado com os pobres, o mais maduro, o mais honesto? É um modelo de decisão ingênuo e estressante para o eleitor. Que certeza pode ter de que consegue enxergar o íntimo dos candidatos? Como escolher, se todos se metamorfoseiam? Se todos se exibem de maneira parecida e falam coisas praticamente idênticas? Como separar o joio do trigo? 
Nestas eleições, muita gente ainda pensa dessa maneira, mas há uma nova, posta na mesa pelo principal ator de nosso sistema político. Nela, o foco da escolha deixa de ser o artista e passa a ser a obra. Por muitas razões, Lula foi levado a apresentar essa proposta ao eleitorado. Talvez porque não tivesse, do seu lado, a opção da candidatura de um notável, talvez porque calculasse que teria mais sucesso desse modo, ele terminou propondo uma mudança na lógica da escolha. Ao invés de cotejar biografias e personalidades, que a eleição fosse uma comparação dos resultados obtidos pelos partidos no poder. Goste-se ou não de Lula, essa proposta é uma inovação em nossa cultura. Ela oferece uma base racional para a escolha, na qual várias ilusões saem de cena. O mito do herói, do candidato do bem, capaz de reformar sentimentos e prioridades, é apenas um, mas dos mais importantes. Chegou a eleger um presidente há 20 anos. 
A candidatura Dilma foi sempre o inverso disso. Ela convocou as pessoas a considerá-la pelo que representava, não por seus atributos pessoais. Sua mensagem era clara: “Olhe para o que proponho, para quem está comigo, para o que fizemos no governo, de certo e de errado. Faça o mesmo com meu adversário principal. Compare e decida”. 
Serra começou a campanha acreditando que os eleitores continuariam a pensar com o modelo de antes, baseado na disputa de biografias. Sua experiência e história bastariam para elegê-lo. Visivelmente, a hipótese não se confirmou. A vasta maioria do eleitorado até admite que seu currículo é melhor que o de Dilma. Mas pensa em votar levando em conta outros fatores. 
Nestes últimos dias, uma nova encarnação da forma antiga de escolher está em voga: Marina. Ela tem tudo que conhecemos de algumas candidaturas do passado. Perguntada sobre como governaria, é franca: "com os bons dos dois lados". Ou seja, está sozinhaSó um romantismo quase pueril acreditaria que é possível governar assim. Mas é tão arraigada a fantasia a respeito das “pessoas de bem que mudam o mundo da política” que muita gente se seduz por ela. O “Povão”, mais realista, olha isso tudo com descrença.