quinta-feira, junho 30, 2011

Cápsula da Cultura

Desafios e Oportunidades

Muitos têm a sensação de que o futuro chegou e que nada mais impedirá o Brasil de realizar o seu futuro glorioso. Não é bem assim. Em que pese os enormes avanços dos governos Itamar e Lula, o Brasil ainda tem um árduo caminho a percorrer para se consolidar. No campo empresarial, urge fazer uma revisão tributária. A União pode abrir mão de receitas e simplificar o processo de arrecadação. Também cabe ao governo reduzir a burocracia e ressuscitar o velho programa de desburocratização de Helio Beltrão. Simplificar a vida do brasileiro deveria ser uma das metas principais do governoNo campo social, o programa de combate à miséria é uma boa ideia que pode funcionar se a economia continuar a crescer e os programas sociais forem eficientes. Um ponto que parece descuidado refere-se aos direitos da cidadania. Governo e sociedade devem trabalhar para melhor informar sobre os direitos que o cidadão tem no Brasil. O exercício da cidadania começa com a boa informação. Normalmente se confunde informar com fazer propaganda. Ainda no campo social, as UPP´s do Rio de Janeiro serão revolucionárias se aprofundarem a ocupação territorial com a possibilidade do exercício da cidadania. O que ocorre no Rio é um bom exemplo que deve frutificar. No campo da educação, muitos avanços foram feitos. A educação começa a melhorar no Brasil com iniciativas como o FUNDEF, o FUNDEB, o ProUni e o ENEM. Agora a Presidente Dilma quer oferecer 75 mil bolsas de estudo no exterior. É uma iniciativa extraordinária, no entanto, pode não ser suficiente para combater a escassez de mão de obra qualificada. O governo deveria considerar iniciativas adicionais. O mapa para um futuro melhor continua claro e disponível para o Brasil. As decisões dependem muito mais de nós do que das circunstâncias do exterior. Lamentavelmente, o campo político que deveria ser o pólo transformador das mudanças que precisamos ainda não se deu conta da importância do Brasil no mundo de hoje e, também, das imensas oportunidades que se apresentam.

quarta-feira, junho 29, 2011

Bolha de Crédito









A onda da bolha de crédito é para surfar nos juros. É conversa fiada esta agitação na mídia sobre um crescimento explosivo do crédito. Isso não existeO Brasil tem uma relação crédito/PIB ainda muito baixa em comparação a outros países, como você pode ver no gráfico acima, já que a taxa, agora, está em 47%. O crescimento, aliás, já era previsto. E foi menor até do que o estimado pelo BNDES. O forte crescimento do crédito é uma imposição do crescimento econômico e do consumo em qualquer parte do mundo.









O importante é que este crédito esteja saudável. Isto é, que tenha uma composição, taxas  e prazos adequados e que as condições da economia – produção, vendas, emprego e renda – estejam positivas, como estão, para que ele possa ser honrado. A bolha de crédito que estourou na crise do subprime dos EUA foi antecedida de um longo processo especulativo de troca de títulos podres. Não há o menor sinal de que isto esteja acontecendo aqui. Se olharmos num prazo maior, veremos que retomamos um ritmo de crescimento do crédito compatível com o que havia antes dos anos neoliberais. Era de 37% em 1994 e caiu, ao final do período FHC, a 24%, conforme gráfico abaixo. E isso porque o PIB cresceu pouco.












A qualidade do crédito melhorou, porque, contra um crescimento de 20% total, o crédito imobiliário, de mais longo prazo, cresceu quase 50%. Esse crédito, que representava quase 8% do volume total quando FHC assumiu, caiu a 1% no final do seu mandato e só agora volta a representar 4% do volume total de crédito. Os prazos também tiveram variação positiva, seguindo num ritmo de ampliação, exceto por uma insignificante redução no prazo para as empresas, normal quando se tem uma perspectiva de alta das taxas de juros. Idem com as taxas de inadimplência, que apresentaram oscilações pouco significativas, embora gostem de fazer escândalos sobre isso com variações de uns décimos de pontos percentuais. Se há algum risco para nossa cadeia de crédito, é o risco cambial. Do relatório oficial do Banco Central, publicado hoje, sem nenhum comentário da imprensa: “Os passivos internacionais apresentaram expansão trimestral de 15% em reais e de 17% em dólares, ao atingirem R$269 bilhões em março. Nesse sentido, a participação dos passivos internacionais no total de passivos exigíveis do sistema bancário elevou-se para 7%, contra 6% registrado em dezembro. A exemplo do ocorrido com os ativos, a representatividade dos bancos estrangeiros registrou avanço expressivo, passando a responder por 40% dos passivos internacionais, maior valor observado desde dezembro de 2009.” E não é para financiar geladeira em 12 meses que se toma tanto recurso em dólar. O noticiário sobre o assunto segue a tal lógica de mercado.

terça-feira, junho 28, 2011

Lucro Brasil

O jornalista Joel Silveira Leite prestou um imenso serviço ao jornalismo hoje, em sua coluna Mundo em MovimentoEscreveu o que centenas de jornalistas de economia não escrevem, às vezes nem por censura, mas pelo hábito de repetir, sem pensar, o que lhe dizem empresários, banqueiros e homens do mercado. Leite vai a um tema  sobre o qual muita gente sabe e quase ninguém escreve. Que o preço dos automóveis no Brasil é um dos mais altos do mundo não por uma carga tributária elevada, mas porque as margens de lucro das montadoras são muito maiores aqui do que em outras partes do planeta. Isto é, que o nome Custo Brasil camufla, na verdade, o “Lucro Brasil”. Ele conta que as montadoras no Brasil têm uma margem de lucro muito maior do que em outros países, citando uma pesquisa feita pelo Morgan Stanley e diz que elas respondem por boa parte do lucro das suas matrizes. As editorias de economia da grande imprensa, quando decidem usar a reconhecida capacidade de seus profissionais, desempenham um papel fundamental na informação da sociedade. Os lucros da Fiat aqui no Brasil pagaram parte da dívida da Chrysler com os governos americano e canadense, pela injeção de dinheiro na crise de 2008. Joel Leite usa um exemplo de um modelo da Honda que, sem considerar os impostos, dá a montadora um “lucro extra”  de R$ 15.518,00 sobre os R$ 56.210,00 por que é vendido no Brasil, embora a versão vendida no México tenha muito mais equipamentos de segurança e acessórios. O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, diz que “no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países”. A reportagem é a primeira de uma série que promete muita informação. Merecidamente, era a manchete de hoje do UOLVocê pode conferir aqui.

quarta-feira, junho 22, 2011

A "Banca" não aprende

Em 2008, num ato de bravura, os americanos deixaram o banco Lehman Brothers quebrar. A justificativa adotada na época foi que não valeria a pena salvá-lo, pois bilhões seriam gastos no salvamento do banco e se criaria assim uma situação moral adversa onde a atitude de se fazer empréstimos malucos não seria punida, o que incentivaria os agentes do mercado a continuarem emprestando sem pensar. O raciocínio fazia sentido.  Porém o que não se levou em conta naquele momento foram as implicações sistêmicas de uma quebra desta magnitude. Deu no que deu. O governo dos EUA colocou o sistema financeiro americano a beira da falência. Ninguém confiava em mais ninguém. O crédito interbancário secou levando os EUA a uma recessão enorme. O déficit fiscal dos EUA explodiu o que elevou o custo para os contribuintes americanos dramaticamente. Pois bem, parece que há gente na Europa que deseja repetir o mesmo erro. Se deixarem a Grécia dar um calote em sua dívida pública, os bancos gregos quebram. Com isto o BC europeu e vários bancos europeus vão amargar perdas enormes. Mas não para aí não. No dia seguinte haverá uma corrida aos bancos portugueses e irlandeses que hoje dependem do BCE para se financiar. Isto vai elevar ainda mais o volume de grana que o BCE empresta aos bancos daqueles países com problemas, volume que chega hoje aos 400 Bilhões de Euros. Isto fará com que os títulos da dívida daqueles países afundem, levando-os também a uma situação de calote. Em pouco tempo o pânico se espalhará e atingirá os bancos espanhóis e os papéis da dívida espanhola. Isto exigiria que o BCE atue de novo, aumentando seus empréstimos aos bancos com problemas, elevando seu risco junto ao sistema financeiro a casa do Trilhão de Euros. As prováveis perdas do BCE em tais empréstimos demandariam um aporte enorme de capital por parte dos governos centrais da Europa, levando o Euro a uma queda enorme. E imagine se tal pânico chegar à Itália ou Bélgica, que também têm dívidas enormes e bancos bastante alavancados!!! A economia européia entraria em parafuso, levando junto os países do leste Europeu. Tal tsunami atingiria a Turquia também, que depende do fluxo de capital externo para financiar seu déficit externo que caminha para os 10% do PIB. A “solução” de se retirar os PIIGS da região do Euro fazendo com que estes adotem outras moedas causaria uma crise bancária na Europa de proporções enormes: a dívida dos PIIGS junto aos países centrais da Europa seria impagável após a mega desvalorização que ocorreria em suas moedas após saírem do Euro. Isto geraria perdas patrimoniais gigantescas aos bancos e poupadores alemães, franceses, suíços, suecos, holandeses e ingleses que investiram nestes países periféricos. A quebra dos bancos locais levaria as economias periféricas a um caos similar ao vivido pela Argentina em 2001. O dólar dispararia de preço, o que iria piorar ainda mais a recuperação americana ao aumentar seu déficit externo. As commodities despencariam. O crédito ficaria de novo apertado e a crise atingiria o mundo todo. Sem falar das tensões geopolíticas decorrentes de uma crise como esta, com a volta do espírito nacionalista a Europa. Tudo isto num momento que economia dos BRICS está esfriando, que o Japão ainda tenta se recuperar da tragédia recente e que economia dos EUA dá sinais de fraqueza. Para não dizer do esforço fiscal americano que deve começar em 2012, pois não dá para continuar com déficit de 10% do PIB, o que deve reduzir a atividade naquele país. Por estas razões eu acho muito difícil que não se chegue a alguma solução que evite tal crise ou que a torne pelo menos gerenciável. Acho, pois não tenho certeza. Os acontecimentos recentes são muito preocupantes. A situação política na Grécia está se deteriorando, e a pressão popular contra os ajustes necessários nos outros PIIGS também aumenta. Se não se agirem rápido, passaremos do ponto de retorno. O governo da principal liderança na Europa, a Alemanha, dá sinais erráticos sobre a maneira que pretende conduzir o processo. Sem a liderança de Merkel o gerenciamento da crise fica impossível. Estamos no momento mais delicado desde a quebra do Lehman em 2008. É hora de torcer para que os políticos da Europa tenham sabedoria.

FHC tirou nota vermelha

O resgate da herança do governo de Fernando Henrique Cardoso vai tomando ares de contravetor na luta política, um antídoto a anos de fustigamento sistemático. Na operação para reabilitar o ex-presidente tucano ganham novo fôlego as versões a respeito da suposta injustiça histórica de que é vítima, e sobre a suposta essencialidade da sua passagem pela História do Brasil. As duradouras campanhas do PT contra Fernando Henrique não têm maior importância fora da pequena política. A História não registrará FHC como presidente dos ricos, nem como entreguista. Nesse particular, a simpática missiva de Dilma Rousseff nos 80 anos do tucano deixa em maus lencóis os militantes da mistificação. O que Dilma escreveu é até certo ponto verdadeiro: FHC teve sua importância na empresa anti-inflacionária e, no essencial, sempre foi um democrata. E daí? Daí nada. Não nasce da ideologia, ou da demonização, o principal ônus político-eleitoral imposto ao PSDB pela memória das administrações federais tucanas. Por isso, a contraofensiva ideológica tampouco fará a mágica de tapar o ralo por onde escapam as oportunidades dos tucanos voltarem ao poder. O problema do PSDB é que a memória do eleitor arquivou o balanço das administrações FHC na pasta dos empreendimentos que deram prejuízo. No exame final o governo dele foi mal avaliado. Tirou nota vermelha. Um veredito registrado na derradeira pesquisa Datafolha de 2002. Na qual apenas um em cada quatro consultados classificaram como boa ou ótima a gestão que terminavaAntes de concluir mal o governo, FHC vinha de duas vitórias eleitorais em primeiro turno para o Palácio do Planalto. Na primeira, personificou a luta exitosa contra a inflação. Na segunda, vendeu o peixe de que por ter batido a inflação era o mais indicado para fazer o país voltar a crescer e gerar empregos. FHC cumpriu satisfatoriamente o primeiro contrato, tanto que acabou renovando. Mas não cumpriu o segundo, e a frustração foi profundaInclusive pelas barbeiragens gerenciais que levaram à desvalorização tardia da moeda e à crise energética, esta decisiva para abortar a decolagem econômica prometida. Ao ponto de o período FHC oferecer ao adversário um discurso vitorioso por três eleições seguidas. Em 2002, 2006 e 2010 o eleitor levou a decisão para o segundo turno. Não quis carimbar direto o passaporte do PT. Mas, no fim das contas, entre ceder a caneta ao PT e arriscar-se a um novo governo de tipo FHC preferiu sempre a primeira opçãoHá duas maneiras de olhar esse fato. Uma é dizer que o eleitor anda anestesiado pelas campanhas contra o ex-presidente tucano. Equivale à tese de que o povo não sabe votar. A segunda é admitir que a maior dificuldade tucana está em o PT ter se saído melhor no governo federal do que o PSDB. Admitir que o eleitor tem seus motivos para a escolha que vem fazendo.O realismo manda cravar a alternativa b. Todos estão sujeitos ao autoengano, inclusive o PSDB. FHC, por exemplo, pode dizer que teria vencido a eleição de 1998 mesmo se desvalorizasse o real antes de o eleitor ir às urnas. Os resultados daquela eleição deram a FHC 53% dos votos. Ele passou raspando. Estaria em sério risco eleitoral caso precisasse enfrentar numa nova rodada Lula apoiado por Ciro Gomes. Será que a devalorização do real antes das urnas não tiraria de FHC os míseros três pontos percentuais que evitaram naquele ano o segundo turno? Uma nova rodada em que FHC não teria a possibilidade de novas alianças. E precisaria encarar um Lula revigorado, e destinatário natural dos votos não dados ao tucano. Em meados de 2002 o PT tratou de superar a herança programática no terreno econômico, e a iniciativa da Carta aos Brasileiros foi o marco simbólico. Uma ruptura necessária, sem trocadilhos. Só assim o PT chegou ao poder. E o movimento foi tão consistente que vem intocado, uma longa década depois. É o caso de especular se o PSDB, em vez de persistir no autoengano, não deveria quebrar a cabeça para encontrar uma maneira de romper explicitamente com a herança de FHC que tanta sobrevida tem proporcionado aos adversários.

sexta-feira, junho 17, 2011

A Copa de 2014

Vinha fazendo enorme esforço para não escrever sobre a Copa de 2014. O tema tem sido abordado com grande frequência por muita gente. Depois, porém, da divulgação do milionário pacote em isenções fiscais  e ao relaxamento das regras das licitações, não resisto. E quero, agora, não apenas falar do Itaquerão, mas também do Morumbi, embora pareça meio fora de moda. Ontem, 16 de junho, completou-se um ano de um dos episódios mais marcantes do período pré-Copa: a exclusão do Morumbi. Durante o Mundial da África do Sul, a Fifa e a CBF anunciaram que o estádio do São Paulo estava fora do evento por falhas no projeto e, sobretudo, por não ter apresentado as garantias financeiras exigidas. Na ocasião, poucos levavam a sério, era compreensível. Sem o Morumbi, afinal, qual seria a arena de São Paulo??? Não havia. E o centro econômico do País fora da festa sempre foi algo impensável. O Pacaembu e o Palestra Itália não têm capacidade para uma abertura. E a construção de um novo local não estava em pauta. Assim que saiu a decisão oficial da queda do Morumbi, surgiram algumas alternativas, como Pirituba e Itaquera. No fim, o estádio corintiano acabou virando a "salvação". Mas já faz um ano e nada saiu do lugar. Corremos o risco de passar vergonha, não bastasse o espanto de ter de ler nos jornais informações como a da edição do último sábado: "Kassab dá R$ 420 milhões em incentivos fiscais ao Corinthians". Algo próximo do que a Prefeitura concede a hospitais e maternidadesA cidade está esburacada, vira um lago a cada chuva, a saúde, a educação e a segurança vivem os graves problemas que todos conhecemos. Quando o dinheiro público passa a empurrar a construção de um estádio, a preocupação só aumenta. Não sou daqueles que acham que uma Copa faz mal ao País. Ela garante empregos, benefícios, como a melhoria no transporte, e movimenta a economia. E não é o Mundial que vai transformar um homem honesto num corrupto. O desonesto sempre encontrará meios de levar vantagem. Também não sou contrário a investimentos em palcos de eventos, mesmo que tenhamos teoricamente outras questões prioritárias. Eles podem resultar em mais vagas de trabalho, dinheiro ao município e, consequentemente, melhorar a condição de muitas famílias. Mas não precisamos do Itaquerão. Se Andrés Sanchez quiser construí-lo para receber os jogos do Corinthians, que o faça. Não para 2014. As coisas andam devagar... "A água já bate no pescoço e o governo começou a operação socorro cedo demais". A exclusão do Morumbi se deu por questões políticas, todos conhecem o racha entre SPFC e a CBF. Mas um ano depois está claro que a única solução viável para a capital paulista e sem prejuízos aos contribuintes é mesmo o estádio tricolor. Há tempo para uma reaproximação. São Paulo não pode ficar fora do Mundial. E o Itaquerão é um grande risco. Um gesto bonito e humilde do Comitê Organizador de 2014 seria voltar atrás em sua decisão. Em Maio, fiz um tour pelo Morumbi. O campo do São Paulo é mais moderno que o japonês Sapporo Stadium ou a Allianz Arena, de Munique? Claro que não, a diferença é gigantesca. Mas o Morumbi não perde, por exemplo, para o Westfalenstadion, de Dortmund, sede de grandes jogos na Copa de 2006. O São Paulo fez algumas reformas que tornaram o estádio bem mais agradável e confortável para o público. Os banheiros, por exemplo, têm outra apresentação. O anel inferior não fica mais tão perto do campo. O contrato da cobertura já esta assinado. Com poucas mudanças, o Morumbi pode fazer bom papel em 2014

terça-feira, junho 14, 2011

Infraestrutura

Em todos os importantes centros urbanos, as redes subterrâneas, sem dúvida, são a melhor proteção contra as tempestades. A Eletropaulo sabe disso, mas é caro, seu objetivo é de curto prazo e não teme as consequências. Reclamar ao PROCON, como sugeriu o Governador, é desviar a atenção da origem do problema: uma privatização açodada e mal-feita. Nunca se pode vender uma empresa que explora serviços públicos monopolísticos sem fixar detalhadamente os direitos e deveres de consumidores e investidores!!! Mormente quando no negócio entra dinheiro público (BNDES) para facilitar e apressar a venda. O resultado é o que aí está: São Paulo tem a terceira maior tarifa de eletricidade do mundo, associada a uma qualidade longe das mínimas exigências de um grande centro urbano. Se os sucessivos apagões que afetam a população forem atribuídos ao sistema interligado de alta-tensão, como a Eletropaulo costuma fazer, aí a coisa se complica. Há que reclamar na Colômbia com o Presidente Juan Manuel Santos, pois foi a estatal colombiana que o Dr. Alckmin vendeu o maior e mais pesado sistema de transmissão de energia elétrica de São Paulo.

Cápsula da Cultura

quinta-feira, junho 09, 2011

Cápsula da Cultura

Experiências Americanas

Terrível e chocante. Por isso mesmo precisa ser lida esta reportagem publicada hoje pelo jornal inglês The Guardian. Repugnante, enojante, mas real e oficialmente reconhecida. Leiam, me perdoem a má tradução, mas era impossível deixar no silêncio.
“Marta Orellana diz que estava brincando com amigos no orfanato, quando o chamado soou: “Orellana à enfermaria Orellana para a enfermaria.” Esperando por ela foram vários médicos que ela nunca tinha visto antes. Os homens altos, com pele clara, que falou que ela imaginou que seria inglês, além de um médico da Guatemala. Eles tinham seringas e frascos pequenos. Eles ordenaram que ela se deitar e abrir as pernas. Constrangida, ela trancou joelhos unidos e abanou a cabeça. O médico guatemalteco deu um tapa em seu rosto e ela começou a chorar. “Eu fiz o que foi mandado”, lembra ela. Hoje, a menina de nove anos de idade é uma bisavó de 74 anos e de olhos remelentos, mas a angústia do momento que perdura. Foi assim que tudo começou: a dor, a humilhação, o mistério. Era 1946 e os órfãos na Cidade da Guatemala, juntamente com os prisioneiros, recrutas e prostitutas, tinham sido selecionados para um experimento médico que atormentam muitos, e permaneceu em segredo por mais de seis décadas. Os EUA, preocupados com soldados voltando para casa (da 2ª Guerra) com doenças sexualmente transmissíveis, infectou cerca de 1.500 guatemaltecos com sífilis, gonorréia e cancro mole para testar um dos primeiros antibióticos, a penicilina. “Eles nunca me disseram o que estavam fazendo, nunca me deram a chance de dizer não”, disse Orellana esta semana, sentada em seu barraco na Cidade da Guatemala. “Vivi quase minha vida inteira sem saber a verdade. Que Deus os perdoe.” O governo dos EUA admitiu a experiência em outubro, quando a secretária de Estado, Hillary Clinton, e o secretária de Saúde, Kathleen Sebelius, emitiram uma declaração conjunta pedindo desculpas por “pesquisas tão reprováveis” sob o pretexto da saúde pública. Barack Obama, telefonou para seu colega guatemalteco, Álvaro Colon, também para pedir desculpas. Susan Reverby, professor da Faculdade Wellesley, em os EUA, descobriu a experiência enquanto pesquisava o “Estudo Tuskegee” sobre sífilis, em que centenas de homens afro-americanos não foram tratado,s durante 40 anos a partir da década de 1930. O estudo da Guatemala foi mais longe por terem infectado deliberadamente estas pessoas. Não só violam o juramento de Hipócrates não causar males, mas aproximaram-se dos crimes nazistas expostos, nesta mesma época,nos julgamentos de Nuremberg. As vítimas permaneceram em grande parte desconhecidas, mas o The Guardian entrevistou as famílias dos três sobreviventes identificados até agora pela Guatemala. Eles narraram suas vida,s destruídas por doenças, negligência e perguntas sem resposta. “Meu pai não sabia ler e o tratavam como um animal”, disse Benjamin Ramos, 57, filho de Federico, 87, um ex-soldado. “Esta foi a experiência do diabo.” Mateo Gudiel, 57, disse que seu pai, Manuel, 87, outro ex-recruta, tem infecções de sífilis ligadas à demência, e dores de cabeça. “Parte disso pode ter sido passada para mim, meus irmãos e nossos filhos.” As crianças podem herdar a sífilis congênita. Mais da metade dos indivíduos eram soldados de baixa patente, entregues por seus superiores a médicos americanos, trabalhando a partir de uma base militar na capital. Os norte-americanos, inicialmente infectavam prostitutas ao manterem relações sexuais com os presos, antes de descobrirem que era mais “eficiente” para infectar soldados, pacientes psiquiátricos e órfãos com a bactéria da sífilis. Na Guatemala, o inquérito oficial, chefiado pelo seu vice-presidente, deve publicar seu relatório em junho. “O que mais me impactou foi como pouco valor era dado a estas vidas humanas. Eles eram vistos como coisas a serem usadas”, disse Carlos Mejia, membro da comissão de inquérito e chefe do Colégio de Médicos da Guatemala. Os cientistas dos EUA trataram 87% dos infectados com sífilis, mas perderam o rasto dos outros 13%. Dos tratados, um décimo teve uma infecção recorrente. “Eles não me disseram porque me escolheram”, disse Orellana, que tinha quatro anos quando foi enviados a uma  instituição depois que seus pais morreram. Depois da sondagem ginecológica inicial, quando ela supõe que ela foi infectada,recebeu penicilina semanalmente. “Meu corpo doía e eu estava com sono, eu não queria brincar.” Pelo menos 10 outras meninas também foram escolhidas para o estudo, acrescentou. O tratamento falha – e mesmo como adulta, quando ela trabalhava como empregada doméstica e nas fábricas, os médicos diziam apenas que ela tinha “sangue ruim”, deixando seus males como um mistério. Um marido “amoroso e paciente” a ajudou a superar problemas de intimidade. Ela tem cinco filhos, 20 netos e oito bisnetos. Quando os EUA finalmente reconheceram o escândalo,em 2010, Maria Orellana estava muito lesada fisicamente , mas ainda que lúcida, estava como que hipnotizada. Ela testou positivo para a sífilis, disse Rudy Zuniga, um advogado que representa as alegadas vítimas de uma ação coletiva nos EUA. Apenas um punhado das 1500 pessoas originamente infectadas ainda podem estar vivas, mas pode haver dezenas se não centenas de crianças infectadas e netos, disse ele.”

quinta-feira, junho 02, 2011

As ideias não correspondem aos fatos

Nietzsche escreveu em algum lugar que certas ideias se tornam verdades pela repetição, mas perdem o significado com o tempo, como moedas cujas imagens se apagam e passam a ter, todas, apenas o valor do metal. Me ocorreu que a metáfora de Nietzsche pode ser usada ao Econtrário para descrever o que acontece com o Euro, a moeda única idealizada para uma Europa unida que parece estar em vias de perder o sentido. No caso do Euro a intenção era que as moedas valessem o mesmo para todos os membros do mercado comum, independentemente do estado das suas economias. Mas, ao contrário dos pedaços de metal de Nietzsche, com o tempo certos euros ganharam um valor real que para outros é artificial. E o valor dos euros saudáveis é ameaçado pelas repetidas crises dos euros anêmicos. As outras tentativas de criar uma Pan-Europa fracassaram por razões diferentes. Napoleão quis levar a Revolução Francesa para além das fronteiras da França e do seu próprio poder e provocou uma reação da Europa monárquica que acabou não só com suas pretensões imperiais mas com o regime revolucionário que o pariu. Ironicamente, Napoleão criou uma união europeia, a dos velhos regimes que se uniram para detê-lo e a ameaça republicana. Decisiva na derrota de Napoleão e do seu sonho foi a resistência da Inglaterra, aquela estranha ilha que, para quem vive dizendo que não é Europa, tem tido uma participação desproporcional na história europeia. A Inglaterra também foi, em grande parte, responsável pela derrota de Hitler, outro que sonhou com uma federação europeia e propôs sua Europa fascista como um baluarte contra o bolchevismo e as "hordas asiáticas" que já estariam na margem oriental do Danúbio prontas para atacar a civilização ocidental. Uma proposta aceita por muita gente boa, na época. A atual tentativa de unir a Europa partiu de uma conveniência de mercado, nada tão grandiloquente quanto as pretensões bonapartistas e nazistas. Em vez de um ideal revolucionário ou da civilização cristã, pretendeu-se defender a relevância da Europa no mundo da competição capitalista. Começando pelos pedaços de metal, pois afinal o dinheiro é que manda neste mundo. Também não está funcionando.