quarta-feira, novembro 30, 2011

Sampa

Início da temporada das chuvas na Grande São Paulo. Nem é bem o começo. Mas menos de uma hora de chuva, relativamente forte, mas não muito, e o resultado: 19 pontos de alagamentoNa Vila Madalena carros foram arrastados pelas águas e o comércio ficou inundado. Eu fico imaginando o que fazem ou dizem nessas horas o Governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o Prefeito Gilberto Kassab (PSD). Será que refletem sobre as consequências e o prejuízo causados pela decisão que tomam, invariavelmente ao fim de cada temporada de enchentes, de cortar as verbas e paralisar a maior parte das obras contra as cheias???
No último levantamento feito, constatou-se que estes dois não chegaram a aplicar nem 10% do orçamento originalmente programado para esse tipo de obra. Pior é que Kassab não cuida de inundações, não prioriza o social e não cuida sequer das áreas de maior carência. A fila de espera por vaga em creches ultrapassou 174 mil. Agora a Prefeitura anunciou que pretende adotar "cotas" para as crianças mais pobres terem vagas nas creches. A Prefeitura vai instituir, então,  cotas ao contrário. Há dúvidas, inclusive, sobre o aspecto legal da medida e se ela não representa uma transgressão ao principio da igualdade. Em matéria de prioridade ao social, atenção à crianças e jovens e aos professores da rede pública estadual, o governador Alckmin não fica atrás. Forçado por determinação judicial, ele anunciou que aumentará a jornada extra-classe dos professores do ensino básico da rede estadual no ano que vem. Naquele estilo mirabolante do governo dele, anunciou que vai chamar 16 mil professores já aprovados, aumentar a jornada de quem já está em atividade e convocar mais temporários. Em São Paulo, a categoria é paga só por 17% do tempo fora da sala de aula e não por 33% como manda a lei. Alckmin toma a decisão mais de dois anos depois daquela lei instituindo o piso nacional de professor, assinada pelo Presidente Lula, e que também já tratava dessa questão da remuneração por hora/aula. Aliás, em São Paulo a questão já é regulamentada há anos, mas nunca foi cumprido antes - nem por Alckmin, governador pela 3ª vez, e nem por seus antecessores, os tucanos Goldman e Serra.

Pq o poço da Chevron vazou???

Exclusivo: Chevron "economizou" sapata e não cumpriu projeto de perfuração de poço que vazou

sexta-feira, novembro 18, 2011

Visões Diferentes

Em sua essência Banqueiros são conservadores . Eles sabem que a maré sempre pode mudar. Quando as coisas vão bem, nada garante que não possam piorar. E quando as coisas vão mal, é muito provável que voltem a melhorar. E os banqueiros brasileiros são os melhores do mundo.  Sobreviveram a globalização, a hiperinflação e ao confisco do Collor. Logo, eles sabem o que fazem. Para enfrentar os ciclos econômicos naturais do capitalismo, os bancos fazem provisões para perdas futuras de crédito ou calotes. Uma parte do lucro apurado trimestre a trimestre é guardado para cobrir eventuais perdas futuras com créditos que não serão pagos, ou seja, para cobrir os calotes futuros. Assim, quando ocorrerem as perdas com créditos problemáticos, os resultados serão pouco afetados, pois há um colchão, uma provisão para cobrir tais perdas, que fora construída durante o período de vacas gordas. O BC exige um nível mínimo de provisionamento, porém vários bancos adotam modelos internos que demandam provisões ainda maioresA arte está em definir quanto de colchão será necessário ter para se enfrentar o próximo ciclo de problemas de crédito que inevitavelmente ocorrerá. Como ninguém sabe prever exatamente quando e quão severo será tal ciclo negativo, cabe aos banqueiros usarem sua experiência para estimar o montante de reservas necessárias para tal evento. Cada banco tem um modelo próprio para calcular o volume de provisões necessárias com base em sua experiência histórica, nas características de sua carteira de crédito e nas perspectivas para a economia.  Se um banco provisiona em excesso no tempo das vacas gordas, aumenta demais o custo do crédito concedido e se torna pouco competitivo. Se provisionar pouco, sofre ataques em crises, como a que aconteceu nos EUA em 2008 e está ocorrendo hoje com os bancos na Europa. Para os investidores em ações de bancos esta flutuação do nível de provisionamento é extremamente importante para se avaliar o nível de retorno sustentável daquela instituiçãoUma maneira de se medir o tamanho dos colchões de cada banco é calcular a relação entre o volume de provisões e o montante de créditos com mais de 90 dias em atraso. É o chamado índice de cobertura. Este número simplesmente quer dizer que, na visão deste banco, é preciso manter, em determinado momento, um volume tal de provisões que permita que este absorva perdas em cenários de estresse sem afetar sua saúde e sua percepção de risco pelos depositantes. Neste aspecto podemos dizer que os grandes bancos brasileiros são mestres, e graças às elevadas margens de lucro, eles podem manter níveis de provisionamento bastante elevados. Esta é a razão que os grandes bancos brasileiros estarem hoje entre os mais sólidos e rentáveis do mundo. Além disto, o seu nível de capitalização é bem mais elevado do que o praticado na Europa ou nos EUA. Nunca os nossos bancos ganharam tanto e estiveram tão fortes. É importante frisar que o fato de um banco ter um índice de cobertura superior ao de outro banco não quer dizer que aquele seja mais seguro; diferenças na qualidade dos ativos, nas garantias dos empréstimos, na velocidade de crescimento das diversas carteiras de cada banco e em sua composição por setores, podem exigir mais ou menos provisões. Logo, não dá para comparar os números de provisões entre os bancos. Bancos que historicamente tem perdas baixas por serem mais conservadores na concessão de empréstimos precisam provisionar menos e vice versa. Logo, não dá para avaliar a solidez de um banco com base apenas em seu nível de provisionamento, sem levar em conta a qualidade de sua carteira de crédito, as garantias dos créditos e a eficiência de seu processo de cobrança de créditos inadimplentes. A saúde dos grandes bancos no Brasil, a sua segurança e seu nível de provisionamento tem se provado extremamente elevados, tendo sobrevivido com louvor à enorme volatilidade dos ciclos econômicos que vivemos nas últimas décadas. Porém é interessante analisar a evolução dos índices de cobertura de alguns bancos no tempo, isto é, suas variações ao longo do tempo, pois tal tendência pode dar sinalizações interessantes sobre as expectativas de perdas de crédito por parte dos diversos bancos e sinais sobre o que tais bancos esperam com relação ao momento do ciclo em que nos encontramos. O que importa não é o nível de seu provisionamento mas sim como este nível tem flutuado vs. seu comportamento histórico. O gráfico abaixo foi fornecido por um amigo que é analista de bancos. Ele mostra a evolução trimestral do índice de cobertura para o Itaú, Bradesco e BB desde o segundo trimestre de 2008:
Notamos que tais índices evoluíram de forma bem diferente:
A. Marcado em amarelo: em 2008 o BB chegou à crise com mais reservas. O Bradesco permaneceu com seu volume de provisões inalterado até começo de 2009. O Itaú chegou à crise com um volume de provisões menores e teve que subi-las durante a crise. Durante os primeiros meses de 2009, tanto BB como Itaú reduziram suas reservas, ou seja, aproveitaram suas reservas para absorver o impacto da crise. Bradesco permaneceu mais estável. Vemos assim que o nível de provisionamento de cada banco foi suficiente para aguentar um tranco como aquele que vivemos em 2008 e 2009 sem afetar sua rentabilidade. Logo, provamos que o que importa não é o nível, mas sim sua tendência!
B. Marcado em marrom: conforme a crise ia acabando, os três bancos foram recompondo suas provisões, aproveitando os bons ventos de 2010.
C. Marcado em vermelho: os três bancos têm adotado uma postura bastante diferente desde o início de 2011: O BB continuou a acumular provisões como se preparando para uma crise em 2012. O Bradesco estabilizou suas provisões em nível acima daquele que havia em 2008, porém não as reduziu, dentro de seu comportamento de manter o nível de provisionamento estável ao longo dos ciclos. Já o Itaú vem diminuindo suas provisões, provisões que estão hoje próximas aos menores níveis desde o início de 2008.
Surgem aqui algumas dúvidas:
Será que o BB está bastante pessimista com economia? Ou será que o mix de seus ativos mudou de 2009 para cá, o que demanda mais provisões? Ou será que a carteira de crédito do BB é mais sensível aos ciclos econômicos que a carteira dos bancos privados? Será que o Bradesco acredita que daqui para frente será preciso manter mais provisões de forma sustentada dada a elevação do endividamento em nossa economia? Ou será que ele está prevendo um aumento nas perdas em 2012? Ou será que o Itaú acredita que os ciclos econômicos daqui para frente serão menos intensos e que a economia em 2012 deve andar bem, e, portanto o volume de provisões necessárias é menor? Ou será que o modelo do Itaú leva em conta que os spreads bancários sobem durante as crises o que o permitirá aumentar provisões no momento de crise sem afetar sua rentabilidade? Ou será que as diferenças de risco de crédito nas carteiras dos bancos tenham mudado bastante ao longo dos últimos três anos, de forma a justificar as diferentes trajetórias?
Enfim, é difícil responder a estas perguntas sem olhar cada banco com mais detalhesPorém os gráficos mostram trajetórias bastante diferentes… Se você tem ou pretende investir em ações de bancos sugiro que faça estas perguntas…

quarta-feira, novembro 09, 2011

Confraria de Tolos

A gente não consegue mais discutir nada sem que o assunto não enverede pelo sectarismo partidário. O Brasil está ficando insuportável. Nesse lugar cada vez mais burro e intolerante, qualquer opinião é desprezada a priori e enterrada num fosso ideológico. O negócio é escolher o lado, juntar-se aos amigos, e apedrejar quem não concorda com você. Dois assuntos importantes dos últimos dias – a doença de Lula e a ocupação da reitoria da USP – provaram, mais uma vez, que a maioria prefere matar o mensageiro a discutir a mensagem. O câncer de Lula virou uma batalha de mau gosto nas redes sociais, com manifestações preconceituosas e elitistas. Uma pena. Porque o caso, se discutido com a razão e não com a jugular, poderia servir de exemplo da necessidade de melhoria de nosso sistema de saúde.
Que mal há em sugerir aos gestores públicos que utilizem os serviços pelos quais são responsáveis??? O problema, no caso de Lula, foi não estender a sugestão a todos os políticos, independentemente de partidos. Eu adoraria ver os ex-presidentes se tratando no SUS, assim como o Alckmin indo para o Bandeirantes espremido num vagão de metrô ou parado no trânsito da Marginal que ele prometeu que nunca mais alagaria. Eu poderia morrer feliz depois de ver o Kassab entrando na prefeitura, pedindo um alvará, e depois de meses acompanhá-lo sendo achacado por uma romaria de burocratas corruptos. Sobre a invasão a USP, falta bom senso aos dois lados. Acho que é possível ser a favor de um maior policiamento no campus, que há muito sofre com roubos e crimes, sem ser um reacionário da Opus Dei. Acho que é possível ser contra prender pessoas, qualquer pessoa, não só alunos da USP, por fumar maconha, sem ser um anarquista doidão. Acho possível concordar com Gilberto Dimenstein, que classificou os invasores da reitoria de “delinqüentes mimados”. E acho que é possível concordar com André Forastieri, que escreveu sobre a crescente militarização de São Paulo pelo governo tucano e o assustador apoio de parte da população. Só não tenho mais paciência para discutir, porque cansei de ser reduzido a um estereótipo pelos revoltadinhos covardes das redes sociais. Eles são só soberba, arrogância, mentiras e boatos. Hoje mesmo, recebi e-mails de pessoas GARANTINDO que o DCE está ligado a um grupo de traficantes de uma favela próxima a USP, e outro e-mail GARANTINDO que a reitoria está fazendo uma lista de alunos para expulsá-los. É muita verdade absoluta para o meu gosto. E não esqueça: Leu na Veja, azar o seu...

A Fila não anda...

Balanço divulgado, hoje, mostra que chegou a 174 mil o número de crianças inscritas na fila para obter uma vaga em creche em São Paulo. Só de 2006 para cá, o déficit de vagas aumentou em mais 15 mil crianças. Isso a despeito de a construção de creches na capital ser uma das promessas solenes de Gilberto Kassab em suas duas últimas campanhas eleitorais: quando se elegeu em 2004 vice-prefeito de José Serra (que largou a prefeitura um ano e quatro meses depois nas mãos dele); e em 2008, quando se reelegeu prefeito de São Paulo. Das mais de 200 promessas, Kassab não cumpriu nem 10%. No caso das creches, o que se pode destacar, além do recorde na falta de vagas, é que são aquelas construções que, sob a batuta da administração do prefeito, aumentaram de preço em quase 30% em um ano. Apesar da dimensão social da tragédia, há pouco a dizer. A não ser que temos aí mais uma comprovação da falência social do governo Serra-Kassab...

terça-feira, novembro 08, 2011

Globalização e Internacionalização


Percebo que existe uma grande confusão entre globalização e internacionalização, mesmo para experientes observadores das relações internacionais e do mercado financeiro. Muitos confundem globalização com fluxo de investimentos e abertura da economia. Creem que se mede uma economia globalizada por tais vetores. Deixam de considerar que globalização é, sobretudo, a intensificação das relações sociais além das fronteiras geográficas. O que envolve não apenas economia, mas pessoas, hábitos, costumes e culturas. A globalização representa muito mais do que investimentos diretos e especulativos em determinado país. Até mesmo porque tais investimentos podem não significar que o país seja verdadeiramente globalizado. O Brasil é, no campo da globalização, paradoxal. Altamente globalizado, mas com uma economia pouco internacionalizada. É evidente que os aspectos econômicos da globalização aprofundaram a inserção do Brasil nas relações econômicas mundiais. Vamos considerar, para efeito de nossos argumentos, o processo de abertura de nossa economia a partir do final dos anos 80, quando basicamente, três aspectos foram tratados. No mercado de capitais, já no governo Sarney, ocorreram alguns movimentos com a edição da Resolução do CMN nº 1.289/87. Collor aprofundou tais movimentos. O segundo aspecto refere-se à redução das barreiras tarifárias. O terceiro, ao estímulo maior ao investimento estrangeiro. Em 1990, o Brasil recebeu US$ 4 bilhões em investimentos diretos estrangeiros. Em 2000, chegamos a US$ 33 bilhões. Em 2010, o montante superou US$ 49 bilhões. Este ano, os investimentos estrangeiros diretos no Brasil já acumulam US$ 51 bilhões, o maior valor desde 1947, segundo o Banco Central. Em 2005, cerca de 34% do PIB era composto por empresas com algum tipo de participação estrangeira em sua composição acionária. Já 25% do PIB eram constituídos por empresas com capital majoritariamente estrangeiro. Embora os números sejam extraordinários, o Brasil continua sendo um país pouco internacionalizado. Nosso comércio internacional representa menos de 3% do comércio mundial. O impacto do comércio exterior no PIB é inferior a 20%. Apesar da relevância das empresas multinacionais no Brasil, seu papel na economia não é central. Ainda viajamos pouco para o exterior e recebemos poucos turistas, em comparação a outros destinos. Paradoxalmente à baixa internacionalização do país, que apenas recentemente se descobriu sul-americano, somos um país altamente globalizado no que tange à cultura e às comunicações. Somos o quinto país em termos de acesso à internet, com mais de 80 milhões de usuários. O Brasil tem mais celulares do que habitantes. Na esteira das comunicações, nossos costumes e hábitos são influenciados pelos modismos e tendências de fora. Na prática, ainda estamos na adolescência da globalização e na infância da internacionalização de nosso país.

Estagnamos???

Os dados do IBGE mostram que produção industrial está estagnada, como vemos marcado em vermelho no gráfico abaixo que mostra a taxa anual de crescimento trimestral:
Já estávamos desacelerando em 2010, porém vindo de níveis elevadíssimos. Ensaiamos uma estabilização no início do ano. Porém de março para cá a coisa veio caindo e a taxa de crescimento anual está ao redor de zero há alguns meses. O gráfico abaixo mostra a tendência da produção industrial e indica que estamos indo para baixo da tendência  que temos mantido desde 2004:
Na margem a produção está caindo como vemos acima. Nada dramático como o ocorrido em 2008 e 2009, porém uma queda suficientemente grande e rápida para preocupar o governo e garantir que os juros continuarão caindo.

Do vício à virtude

Uma das origens admitidas da palavra hipocrisia era a prática dos atores na Grécia de representarem um papel atrás de uma máscara. A definição descreve perfeitamente o papel desempenhado por Fernando Henrique Cardoso, no artigo que publica nos jornais. Ele diz que “agora, os partidos exigem ministérios e postos administrativos para obterem recursos que permitam sua expansão, atraindo militantes e apoios com as benesses que extraem do Estado”. “É sob essa condição que dão votos ao governo no Congresso. O que era episódico se tornou um “sistema”, o que era desvio individual de conduta se tornou prática aceita para garantir a “governabilidade”. Bem, não foge o senhor Fernando Henrique da comuníssima tendência humana de julgar os fatos e pessoas segundo suas próprias experiências e natureza íntima. FHC, que chegou ao Planalto embalado no “critério Ricupero” de transparência republicana – “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde” – teve uma trajetória no poder onde não faltaram experiências nas quais os “desvios de conduta” foram elemento essencial “para garantir a governabilidade”. Do ponto de vista da moralidade pública, o marco inicial do Governo FHC já se deu menos de três semanas após sua posse, quando, no dia 19 de janeiro, baixou decreto extinguindo a Comissão Especial de Investigação criada pouco mais de um ano antes por Itamar Franco, na esteira das repercussões das denúncias – aliás, falsas – contra o então ministro da Casa Civil Henrique Heargraves. FHC só em 2001, e sob a ameaça de criação de uma CPI da Corrupção, criaria, em seu lugar, a Corregedoria Geral da Uniãoentão um apenso do seu gabinete, que só ganharia o status de ministério por ato de Lula, no seu primeiro dia de mandato. Como os leitores deste blog não têm tempo a desperdiçar e possuem boa memória, basta listar: Sivam, BC-Cacciola- Francisco Lopes, compra de votos para a reeleição, os precatórios do DNER, os “grampos” da privatização da Vale (“limite da responsabilidade”), os telefonemas entre Eduardo Jorge e o juiz Nicolau “Lalau”, as irregularidades com o seu filho no caso do pavilhão brasileiro da festa dos 500 anos do descobrimento, em Hannover… Chega, né, porque não se deve passar o tempo remoendo estas coisas… Aliás, FHC deveria se lembrar que o então presidente de seu partido, Teotônio Vilela Filho, presidia uma ONG envolvida no  desvio de verbas do FATNo seu artigo, FHC diz que “os dossiês da mídia devem estar repletos de denúncias”. Sempre estão e tudo deve ser apurado. Coisa que ele não fez e agora se faz.  Basta ver quem eram e como agiam o Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, e o Advogado Geral da União, Gilmar Mendes. Mas, como dizia o Conde de La  Rochefoucauld, o comportamento hipócrita quase sempre é o tributo que o vício rende à virtude.

segunda-feira, novembro 07, 2011

Incômodo silêncio

Só a Folha mantém em sua pauta e dá algumas matérias sobre a venda de emendas por parlamentares paulistas, uma prática, segundo o deputado Roquinho seguida por pelo menos 30% dos 94 deputados estaduais. Nos demais veículos, silêncio absoluto na mídia nacional sobre o tema, tanto em relação à denúncia, quanto ao sepultamento abrupto das investigações pela Assembléia Legislativa de São Paulo. A questão foi e continua ignorada, também, pelas TVs, particularmente a Rede Globo. Primaram pela falta de cobrança. O esquema é indecente, um verdadeiro balcão de negócios de venda de emendas. Mas, para a mídia, não há responsáveis. Para elas não há partidos, nem governos, nem líderes envolvidos ou responsáveis por esse escândalo. Nada disso, é citado no noticiário. Pela cobertura, é como se o esquema vergonhoso de distribuição de emendas tivesse caído do céu. Ninguém vai atrás e nem entrevista as pessoas, instituições e entidades envolvidas. O deputado Major Olímpio, um dos denunciantes, tornou pública a disposição de depor de Teresa Barbosa, dirigente de uma ONG paulistana, testemunha do esquema.  Ninguém foi procurá-la, nem ouvi-la. Mais estranho, ainda, é não aparecerem denúncias e nem denunciantes envolvidos na distribuição das emendas, na contratação das empresas, nas comissões pagas. Não há, sequer investigações sobre as obras e serviços financiados pelas emendas em transações com empreiteiras, prefeituras e ONGs. Apesar de já se saber muitos nomes de gente envolvida, alguns confirmados até pelos denunciantes.  Por pura conveniência e para ajudar os tucanos esqueceram-se até da confissão do deputado Bruno Covas. Ele disse ter recebido uma oferta de propina, orientando o autor a doá-la a uma Santa Casa e não tomou nenhuma outra providência. Quer dizer, a mídia age de forma totalmente contrária ao que faz quando surge alguma denúncia, por mais vazia e inepta que seja, em nível nacional. No escândalo paulista da venda de emendas  nada. Nem o partido, nem os autores, os comerciantes do balcão de negócios são citados. Temos aí, mais um caso típico do jornalismo político e partidário que se pratica no Brasil. Sem falar no Ministério Público (SP), que instalou uma apuração que não anda.

quinta-feira, novembro 03, 2011

A + Preparada

Qualquer pessoa com um mínimo de equilíbrio há de reconhecer que, entre erros e acertos, a gestão de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo teve mais acertos. Os CEUs são um marco histórico na cidade. Não necessariamente como escola, mas como um projeto para criar centros saudáveis na periferia. Tanto assim que continuaram o projeto. O Bilhete Único forçou uma política de barateamento dos transportes que, depois, se estendeu ao metrô. Foi uma gestão que acertadamente investiu em corredores de ônibusEla viu que a gestão da cidade de São Paulo só faz sentido se for integrada com a região metropolitana, criando um eixo de governabilidade. Também sabia que a cidade deveria fazer parte de um projeto global, no qual pudesse atrair empresas e fortalecer uma vocação. O que mais criticam nela - as taxas - podem até ter sido mal geridas, mas faziam parte de um esforço de assegurar as contas de uma administração destruída pela dobradinha Maluf/Pitta. Isso garantiu uma situação menos trágica para seus sucessores. Mas, o maior problema de Marta é a própria Marta. Apesar de psicóloga, ela tem baixo quociente de inteligência emocional. Isso dificultou que soubesse trabalhar em equipe e adquirir mais apoio para suas políticas públicas. Até faz sentido a aposta de Lula de que Marta Suplicy, apesar de estar bem nas pesquisas, teria dificuldade de vencer por causa de sua rejeição. Daí sua aposta em Fernando Haddad. Mas a verdade, gostem ou não de Marta, é que ela, entre todos os pré-candidatos é a mais preparada administrativamente. Pode até não ser muita coisa, mas esse é o fato.

terça-feira, novembro 01, 2011

Tijolaço

A educadora Paula Bouzan, doutora em Políticas Educacionais pela Universidade de Harvard e pesquisadora da Fundação Lemann, deu nesta segunda-feira uma entrevista à CBN, que foi extremamente didática e séria sobre os problemas que ocorreram com o EnemPaula aponta o interesse das escolas privadas em usarem seu ranqueamento no Enem como elemento de marketing como um dos principais problemas de segurança do exame. Ela explica a grandeza do exame, o maior realizado simultaneamente em todo o mundo, sua seriedade metodológica e as vantagens que tem, sobretudo para os estudantes de mais baixa renda, sobre o vestibular. Confesso que só depois de sua entrevista fui entender, com mais exatidão, o que está em jogo nesta prova. Recomendo a todas as pessoas preocupadas com a educação que a escutem. E que cobrem dos jornais que dêem atenção ao fato de que uma instituição que, dez dias antes do Enem distribuiu a seus alunos questões idênticas às de um pré-teste aplicado no ano passado, com compromisso de confidencialidade, como fez o Colégio Christus, de Fortaleza…