sexta-feira, janeiro 11, 2013

Pibão

O ano que acabou pode ser avaliado de duas maneiras. Um otimista olharia para a realidade do pleno emprego e diria que está tudo bem. A taxa de desemprego é a mais baixa da história, de 5% da força de trabalho, e a renda média dos assalariados mantém-se em alta, dando continuidade a um processo de distribuição de renda e ascensão social que trouxe cerca de 40 milhões de brasileiros para a classe C nos últimos dez anosUm pessimista olharia para o PIB e diria que as expectativas foram completamente frustradas. De uma Previsão de crescimento de 4% no início do ano, a taxa foi definhando até chegar a 1%, nível esperado para a expansão do PIB em 2012. Alguém fez uma observação interessante sobre isso: se o IBGE e outros órgãos de pesquisa não existissem e não tivéssemos como olhar para os números do PIB, todos diriam que o otimista está certo. Afinal, com emprego e renda em alta, o nível de felicidade das famílias é atualmente muito elevado quando comparado com o de tempos atrás. Mas o IBGE existe, felizmente, e seus números são importantes, porque indicam que, mantida a tendência atual de baixo crescimento, logo, os níveis de emprego e de renda começarão a baixar e tenderão a derrubar também o índice de felicidade geral. Então, não há dúvidas, o principal desafio brasileiro do ano que começa é elevar a taxa de crescimento econômico. É importante contestar uma observação que já se tornou lugar-comum, a de que estimular o consumo para impulsionar a economia representa uma política errada e perigosa. Não há perigo algum em estimular o consumo interno, porque ele é a força poderosa que puxa os investimentos. Aliás, ênfase ao consumo interno é a política recomendada para que a China mantenha seu crescimento econômico de dois dígitos. Essa política serviu e serve para o Brasil. Se a economia mundial continua problemática, com estagnação na Europa e abismo fiscal nos EUA, nada mais importante do que apostar no crescimento do consumo interno. Com a ressalva de que, dadas as condições atuais de demanda fraca no mundo, é preciso estar muito atento para proteger setores atingidos por concorrência desleal de estrangeiros. Será um grave erro desmontar ou desativar em 2013 o arcabouço de medidas incentivadoras do consumo, as reduções de impostos, bem como o estímulo à expansão do crédito com juros cada vez menores. No setor privado, não haverá investimentos se não houver perspectivas de crescimento de demanda. Com demanda à vista, o investimento produtivo flui, principalmente quando a remuneração de aplicações financeiras tende a minguar. Isso é o óbvio. Não há, portanto, nenhuma contradição entre defender a manutenção de um consumo interno robusto e a ênfase aos investimentos. Entre os desafios de 2013, está justamente fazer avançar os grandes investimentos em infraestrutura no país, que empacam mais por problemas burocráticos do que por falta de recursos. Outro desafio de 2013, e dos anos vindouros, é aumentar a produtividade e a competitividade da economia. Reduzir a absurda taxa de juros básica foi uma política correta nesse sentido. Colocar a taxa de câmbio em um nível mais apropriado foi outra. Reduzir o custo da energia elétrica e cortar impostos são também medidas de fundamental importância. Não gosto da expressão "pibinho", usada quase como um deboche por alguns analistas para zombar do crescimento de apenas 1% da economia brasileira. O melhor seria encarar o tema com crítica séria e equilibrada. O país não está à beira do abismo e muito menos moribundo, condições que exigiriam mudança radical de política. Mas também não está com o ritmo desejável de crescimento. Ainda há muito por fazer.

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