quinta-feira, agosto 18, 2011

Mistério


Uma das coisas que mais me intrigam é a velocidade da queda do desemprego no Brasil nos últimos anos a luz da taxa de crescimento que tivemos. O PIB brasileiro cresceu mais de 4% em média desde 2003,  mas mesmo com este crescimento  o  desemprego vem caindo de forma sustentada,  como vemos abaixo:
A linha vermelha mostra a evolução do PIB brasileiro, refletido no eixo vertical direito. A taxa média de crescimento de nossa economia desde outubro de 2002 até hoje foi de  aproximadamente 4%aa. Nada mal. A evolução do emprego neste mesmo período é mostrada pela linha azul , que mostra o % da população economicamente ativa que está efetivamente empregada, medida pelo eixo vertical a esquerda. O nível de emprego saiu de 88% e chegou a quase 94% da população ativa no mesmo período. Vemos que de 2003 até agora o emprego cresceu na mesma velocidade do PIB. São boas notícias! Porém o que vai acontecer se PIB continuar a crescer a 4%, como nosso governo deseja? Projetei a taxa de crescimento do PIB de 4% para os próximos anos e estimei qual seria o nível de emprego caso o PIB e o emprego permaneçam com o mesmo comportamento dos últimos anos. As linhas vermelha e azul a partir de Julho de 2011 mostram tal projeção do emprego e do PIB assumindo o mesmo padrão que vimos nos últimos anos. Se o comportamento que temos tido nos últimos anos persistir, chegaremos em junho de 2014 a um nível de emprego de 96%. Ou seja, o desemprego será de 4% apenas. Bom, né? Porém há um limite inferior para o desemprego. Ele não pode ir abaixo de zero! Não podemos ter mais do que 100% da população ativa trabalhando! Além disto, há sempre uma parcela da população desempregada em virtude da rotação de empregos, mesmo em pleno emprego. Nos EUA o desemprego nos últimos 30 anos não ficou abaixo de 4,5%, ou seja, o nível de emprego não passou de 95,5. Logo, se minhas projeções estiverem corretas teremos uma escassez de mão de obra em 2014 que impedirá que a economia cresça! Não estou projetando um crescimento econômico acelerado, mas simplesmente os mesmos 4% aa que vivemos nos últimos anos. Se este processo continuar assim, teremos a volta da inflação.  Gente é um fator de produção. Falta de gente para trabalhar implica em mais custo de produzir. Salários subirão, porém a margem das empresas irá cair, o que reduzirá crescimento. Sei que isto violenta os ideais socialistas, porém temos que ser razoáveis. Não é razoável imaginar que podemos conviver para sempre com desemprego decrescente! Para evitarmos isto deveríamos aumentar produtividade da economia, ou seja, deveríamos gerar mais produto para cada emprego gerado. Com isto o rendimento médio dos  assalariados sobe, promovendo uma melhora no padrão geral de vida das pessoas. Podemos retardar um pouco este processo trazendo mais pessoas para o mercado do trabalho, porém, dado o padrão de nosso sistema educacional, é provável que a produtividade desta mão de obra adicional seja  muito menor do que a produtividade média de nosso trabalhadores hoje empregados. Logo isto não seria uma solução definitiva. Tal produtividade adicional poderia vir através de mais investimentos na educação e na preparação de nossa mão de obra e, principalmente,  através de um aumento na taxa de investimento da economia, o que atraia uma maior produtividade, com maior automação. Assim teríamos a manutenção de um nível baixo de desemprego, e PIB crescendo, o que permitiria um aumento de renda dos trabalhadores de forma não inflacionária. É isto o que ocorre na Ásia. Acho que estamos assistindo ao resultado da falta de investimentos e de poupança na pele. A saída é aumentar os investimentos públicos e privados. Porém para isto temos que gerar mais poupança para financiar estes investimentos. Para pensar.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Olho no lance


A recente queda de atividade nos EUA traz a memória os eventos de 1937 quando os EUA, que ainda se recuperavam do crash de 1929, entraram numa forte mas curta recessão. O gráfico abaixo mostra o nível da produção industrial nos EUA desde 1920 até 1940:
Depois da Primeira Guerra, os EUA entraram em forte recuperação, até 1929. Com o grande crash houve uma queda enorme da atividade econômica, até 1933, quando a economia começou a se recuperar. Tal recuperação foi bem até 1937, quando uma forte mas curta recessão atingiu os EUA. Analistas falam que erros na condução da política econômica dos EUA nos fronts monetário, fiscal e até mesmo através do elevado intervencionismo no mercado de trabalho daquela época causaram esta recessão. Os textos abaixo analisam tal crise:
O gráfico abaixo mostra o nível da produção industrial desde 2000 nos EUA:
Ele mostra a grande exuberância. O crash de 2008 e a recuperação que temos vivido nos últimos 2 anos. A questão é: será que estamos entrando numa fase de declínio, como a vivida em 1937??? Bem, acho que devemos esperar a reação do Mr Bernanke,  que vai ter que ligar o helicóptero em breve e despejar US$ na rua, senão a coisa fica muito feia, pois o governo dos EUA perdeu toda a munição fiscal para um eventual estímulo. Se este for o caminho, o tal do dólar vai afundar. Senão houver helicóptero do FED, o mercado vai sofrer muito!!!

quinta-feira, agosto 04, 2011

Estrela que sobe


A nova pesquisa CNI-Ibope sobre a avaliação do Governo Dilma Rousseff foi a campo na semana passada e deve ser divulgada nos próximos dias, ainda esta semana. Apesar de todos os problemas políticos, com a queda de dois ministros, a avaliação positiva de Dilma deve até subir um pouco, em função da "faxina geral" com as demissões promovidas pelo Governo  no Ministério dos Transportes, medida que conta com amplo apoio popular. Segundo minhas fontes, Dilma manterá bons números nas pesquisas enquanto a crise americana não chegar aqui e os resultados na economia continuarem positivos, com os índices de emprego e renda melhorando para a maioria dos trabalhadores. A pesquisa trimestral CNI-Ibope desta vez será divulgada com 15 dias de atraso e não consegui informações sobre outros institutos.

Será???

O gráfico abaixo mostra que a recente valorização do Real está …








… fazendo a Balança Comercial subir!!!
Desde 2007 a balança vinha caindo. Porém, desde o final do ano passado o dólar só cai…. e a balança só sobe… Se a balança está subindo, é porque as exportações sobem mais que as importações. Logo, as exportações não estão caindo e as importações não estão subindo tanto por causa da alta recente do dólarSe balança sobe mesmo com a produção caindo é sinal de que a demanda interna deve estar recuando. Se for isto, haja câmbio para reverter o quadro.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Marcas de veículos tradicionais perdem espaço
















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Bendita Petrobras

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse à Agência Reuters que a balança de derivados de petróleo terá déficit até 2015, em meio à crescente demanda e à limitação na capacidade de refino. Ou seja, que a empresa terá de importar derivados de petróleo para satisfazer o consumo brasileiroDe outro lado, o que não ficou expresso, é que com nossa crescente produção de óleo bruto, teremos de exportá-lo, sem poder refina-lo aquiAs pessoas menos informadas dizem: que absurdo, importar derivados e exportar petróleo. E é mesmo, mas é uma situação da qual não se pode fugir a curto prazo. E que, de quebra, ainda é agravada pela crise do etanol. Isso é resultado da "herança maldita" de duas eras que o Brasil atravessou. A que ficou conhecida como “década perdida”, os anos 80 – Governos Figueiredo e Sarney – e o neoliberalismo – Governos Collor e FHC. Até que a Refinaria Abreu e Lima, comece a funcionar, serão mais de 30 anos sem que uma só nova refinaria tenha sido agregada ao parque de refino da Petrobras.

O motivo? Dois, basicamente. O primeiro, é que uma refinaria custa caríssimo – algo entre 10 e 20 bilhões de dólares – e consome cinco anos para ser implantada.Tanto que você não vê nenhuma "multi" falando em fazer refinaria no Brasil. Elas querem é concessão para furar poços e extrair petróleo. Beneficiá-lo é coisa para país desenvolvido. A segunda razão, claro, é que o país – na recessão ou na “roda presa”, não crescia e, assim, etanol e gás natural completavam as necessidades que surgiam. A Petrobras luta para corrigir este crime cometido contra o Brasil. E luta contra o mercado, ávido por lucros rápidos, que não tem compromisso com o desenvolvimento harmônico do Brasil.

É o preço do Ferro, não a gestão da Vale

Saiu o Roger Agnelli, entrou o Murilo Ferreira e o lucro da Vale foi lá pra cimaO resultado reflete a qualidade superior de nossos ativos em um ambiente caracterizado por forte demanda global e preços elevados de minerais e metais”, afirma a mineradora. Aí está o tão falado sucesso de Agnelli: o preço do produto que a empresa vende

A Vale estatal era ineficiente, esbanjadora ou vendia um minério que custava 20 vezes menos??? A pergunta, agora, é: o que ficou para o país de tamanho salto no valor do minério?? Grandes siderúrgicas? Empregos? Uma cadeia produtiva de fornecedores? Tecnologia? Uma rede de estaleiros montada? Royalties? NadaNem mesmo investimentos em outras áreas, lucrativas para a empresa e estratégicas para o pais. Da Vale,  ficou apenas uma ferida funda no chão e doída no peito dos brasileiros.

Obama piscou

No início do ano, a presidenta Dilma Roussef anunciou um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União. Coisa aí de US$ 31 bilhões de dólares.  Valor equivalente a 1,2% do PIB. Agora os Republicanos aprovaram um corte de US$ 917 bilhões no Orçamento dos EUA nos próximos dez anos. Grosseiramente, US$ 92 bilhões por ano. Como o PIB de lá anda na casa dos US$ 15 trilhões, equivale a 0,6% do PIB. Não é preciso ser nenhum gênio para ver que isso nem faz cócegas no modelo que levou ao endividamento do país e serve apenas para “mandar a bola” de novo para o lado da quadra de Obama. Os Republicanos “cederam” o nada. Agora é a vez de Obama ceder aos Republicanos. E, agora, não é o nada, mas o pouco que conseguiu cumprir de seu programa de ampliar os gastos sociais.

Cartilha Liberal

O Ministro Guido Mantega não é das pessoas mais exuberantes do falar. Mas os entrevistadores do Estadão foram tão radicalmente “mercadistas” que ele deu um banho. Este diálogo, se não tivesse sido reproduzido pelo próprio jornal, seria inacreditável:
Estadão: O Banco Central vem seguindo essa cautela com juros com esses aumentos bem baixinhos da Selic, de 0,25%?
Mantega: Bem baixinho? É a mais alta do mundo! Aumentou 1,5 ponto porcentual. Qual foi o país que aumentou isso?Não tem nada de baixinho.
Impressionante que quatro jornalistas de um dos maiores jornais do país se refiram como “baixinhos” aos aumentos de juros no BrasilA cabeça do jornalismo econômico brasileiro “está feita”.  Eles só ouvem e creem no “mercado”Apesar disso, a entrevista é muito boa por revelar a segurança que o Ministro da Fazenda transmite, neste momento de ameaças. Afinal, ele tem mais informações do que qualquer um de nós sobre a situação  de nossas contas e revela ter muitas das opiniões que aqui tem sido debatidas. E não demonstra, hora alguma, ter o pulso alterado pela ameaça de crise.

O Império sempre contra-ataca

Os Estados Unidos iam acabar. Não nesta semana, mas há exatos 150 anos, depois que as tropas do Sul venceram em Manassas, a primeira grande batalha da Guerra CivilGrandes políticos ingleses, bem como o "The Economist" e o "The Times", achavam que o presidente Lincoln forçara a mão com o Sul. Quatro anos e 620 mil mortos depois, a União foi preservada e acabou-se a escravidão. Passou pouco mais de meio século e, de novo, os Estados Unidos iam acabar. A Depressão desempregou 25% da mão de obra e contraiu a produção do país em 47%. A crise transformou o fascismo e o nazismo em poderosas utopias reacionárias. De Henry Ford a Cole Porter, muita gente encantou-se com Benito Mussolini. Dezesseis anos depois, as tropas americanas entraram na Europa. Em 1961, quando os soviéticos mostraram Yuri Gagarin voando em órbita sobre a Terra, voltou-se a pensar que os Estados Unidos iam-se acabar. Em 1989 acabou-se o comunismoA decadência americana foi decretada novamente em 1971, quando Richard Nixon desvalorizou o dólar, ou em 1975, quando suas tropas deixaram o Vietnã. O dólar continua sendo a moeda do mundo, inclusive para os vietnamitas. A última agonia, provocada pela exigência constitucional da aprovação, pelo Congresso, do teto da dívida do país foi uma crise séria, porém apenas uma crise parlamentar. Para o bem de todos e felicidade geral das nações, não só os Estados Unidos não se acabam, mas o que se acaba são os modelos que se opõem ao seu sistema de organização social e política. No cenário de hoje, o ocaso americano coincidiria com a alvorada de progresso e eficácia da China. Lá, o teto da dívida jamais será um problema. Basta que o governo decida. Como lá quem decide é o governo, nos últimos cem anos o Império do Meio passou por dois períodos de fome que geraram episódios de antropofagiaHoje a China não tem os problemas dos Estados Unidos, afinal, nem desastre de trem pode ser discutido pela população. Guardadas as proporções, o sistema político brasileiro, seria melhor que o americano, porque não haveria aqui a crise parlamentar provocada pelo teto da dívida. Se houvesse, o Brasil não teria quebrado nos anos 80 por ter tomado empréstimos dos banqueiros que ajudaram a criar a encrenca que hoje atormenta Washington. Aquilo que parece uma crise da decadência é uma simples e saudável manifestação do regime democrático. Quando os negros americanos foram para as ruas, marchando em paz ou queimando quarteirões, também temeu-se pelo futuro do país. O que acabou foi a segregação racialSe hoje há uma crise nos Estados Unidos, ela não está nas bancadas republicanas ou mesmo no movimento Tea Party. Eles defendem o que julgam ser o melhor caminho para o país. A crise está em outro lugar, na negação, por um tipo de conservadorismo extremado, dos valores que fizeram da nação americana o que ela é. Quando o governo Bush sequestrou suspeitos pelo mundo afora, levando-os para centros de tortura, e viu-se obrigado a soltar alguns deles, porque não eram o que se pensava, aí, sim, os Estados Unidos estavam em perigo.