quinta-feira, novembro 04, 2010

É a economia, estúpido!!!

As duas eleições, a Brasileira e a Americana reafirmaram a tese que ficou famosa a partir da eleição de Bill Clinton: “É a economia, estúpido”, avisava o marqueteiro James CarvillePois foi a economia que ditou o resultado nos dois países, que passam por momentos bastante distintos. Dilma Rousseff foi eleita alavancada pela sensação de bem-estar trazida pelo crescimento econômico, que também é o grande responsável pela popularidade presidencial. A base aliada do governo dominou as duas Casas do Congresso com uma maioria de cerca de 70% que, embora seja apenas teórica, mostra sua força eleitoral. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama vive momento oposto. Sua popularidade desceu aos níveis mais baixos desde que foi eleito, e a economia americana só fez desabar desde então, fazendo com que o índice de desemprego chegasse aos maiores números da história recente. Ao contrário, no Brasil, a taxa de desemprego é das menores já registradas. Este ano materializou-se de forma mais clara o desafio enorme que os EUA enfrentam como conseqüência de opções feitas ao longo desses anos de pós-guerra, com uma sociedade movida a alto consumo interno. O candidato Obama, que parecia ter a solução para todos os problemas que a crise econômica que eclodiu em 2008 trouxe à tona, transformou-se no presidente que, contrariamente a Lula, teve muito azar e virou o pára-raios da frustração dessa mesma sociedade que não está acostumada a ter que poupar e conter seus gastos. O que ocorre é uma espécie de catarse coletiva, com o Partido Republicano tornando-se o desaguadouro de todas as reclamações da sociedade americana, que não sente efeitos positivos nas medidas econômicas adotadas pelo governo Obama. A mesma catarse que transformou Barack Obama na solução mágica contra a era Bush, com guerras que levavam inquietação ao país, e a crise econômica que vinha se aprofundando. Provavelmente por inexperiência, Obama estabeleceu prioridades equivocadas e falhou na execução. O governo gastou muita energia na aprovação da reforma da Saúde, que era uma das prioridades da campanha, mas que deveria ter sido postergada diante do agravamento da crise econômica, que se mostrou muito mais severa do que se imaginava. Há uma percepção negativa exagerada de Obama, provavelmente fabricada por Wall StreetO Partido Republicano recusou desde o primeiro momento a proposta de Obama de fazer um governo bipartidário para enfrentar a crise, e atacou sem piedade as medidas do governo, ressaltando o alto custo da reforma da saúde. Essa postura radicalizada da oposição nos Estados Unidos também pode ser comparada com a oposição brasileira durante os últimos oitos anos. Ao mesmo tempo, os radicais do Tea Party ressaltam o que consideram ser indícios de um Socialismo de ObamaÉ difícil afirmar que a carreira política de Obama esteja encerrada com esta derrota espetacular que sofreu, mas que ele corre o risco de se tornar um Jimmy Carter, isto corre. O semblante do presidente Barack Obama durante a entrevista coletiva em que admitiu que o recado de descontentamento das urnas era muito claro, mostra como ele se abalou com o tamanho da surra que o Partido Democrata levou nas eleições. O paralelo mais comentado depois da derrota foi o que aconteceu com Bill Clinton, quando também sofreu uma derrota acachapante nas eleições de meio de mandato e depois se recuperou. Em 1994, porém, a economia dos Estados Unidos estava em recuperação, o que não acontece hoje e provavelmente não acontecerá nos próximos dois anos. Ao contrário, a crise está levando as empresas a cortarem suas gorduras, e o aumento da produtividade no país pode segurar o desemprego em taxas altas pelos próximos anos.

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