terça-feira, outubro 08, 2013

Dobrar a Renda

A FIESP lançou o documento 'Estratégia de Potencial Socioeconômico Pleno para o Brasil' em que apresenta um conjunto de ideias para dobrar a renda per capita em 15 anos, de US$ 11 mil em 2013 para US$ 22 mil em 2028. É um documento abrangente, bem elaborado e consistente que coloca em debate uma questão central: como atender aos anseios da grande massa da população brasileira de ter rapidamente acesso ao padrão de vida dos países desenvolvidos???
Hoje, todos concordamos que não é possível atender aos anseios de 200 milhões de brasileiros desindustrializando o Brasil como fizemos no Plano Real. Se a população brasileira fosse de 10 milhões, o setor agrícola poderia gerar renda suficiente para termos todos um bom padrão de vida. A FIESP aponta os maiores responsáveis por esta perda de competitividade da indústria e esgotamento do crescimento no Brasil: carga tributária distorciva (eleva os preços de produtos domésticos em detrimento dos importados), taxa de juros e spreads acima da média mundial, taxa de câmbio sobrevalorizada, infraestrutura deficiente e excesso de burocracia. Mais importante, mostra com dados que a carga tributária do setor representa, em média, 40% do preço industrial; só o custo do capital de giro responde por 8%; e a burocracia e a infraestrutura deficiente representam um custo adicional extraordinário, quando comparado aos nossos parceiros comerciais, de 5% nos preços. 
Dobrar a renda per capita em 15 anos é um enorme desafio. O PIB precisaria crescer a uma taxa média de mias  de 5% a.a.. É bom lembrar que neste início de século crescemos a uma taxa média de menos de 4% a.a.. Então, a meta proposta pela Fiesp é irrealista? Não. É excessivamente ambiciosa? Também não: trata-se de ter, uma renda per capita que representa 50% da atual renda per capita americana! É perfeitamente possível se formos capazes de aproveitar plenamente o nosso potencial estritamente econômico. Crescimento é uma questão de vontade nacional. É preciso um planejamento estratégico com objetivos claramente estabelecidos e com descrição dos meios para alcançá-los. É preciso ter um mínimo consenso sobre as prioridades nacionais. E para isto, precisamos de liderança política capaz de fazer compromisso crível de crescimento e de inclusão social. E isto já tivemos no século passado. E aí está a importância do documento, ao abrir o debate sobre a necessidade de um plano estratégico para o Brasil. As causas mais imediatas para alcançar o objetivo de dobrar a renda per capita são conhecidas: aumentar a taxa de investimento; aumentar a produtividade do trabalhador, melhorando a qualidade da educação; e reduzir o custo Brasil, afinal vivemos num mundo globalizado. O problema está nas causas mais profundas: as instituições que regem o poder efetivo, não o formal, para a sociedade se organizar de forma a controlar aqueles que detém o controle do Estado, definem as regras e a cultura que rege as decisões políticas fundamentais. São estas instituições que definem a natureza do nosso estado, da burocracia brasileira e do sistema de representação política. No Brasil estas instituições são excludentes, para utilizar uma terminologia na moda, de forma que a população participa formalmente do processo político, mas de fato e efetivamente são excluídas. Em outras palavras, nossa carga tributária é um ponto tão fora da curva. Os serviços públicos brasileiros são ineficientes quando comparados internacionalmente. A taxa de juros é mais elevada do que nos nossos parceiros comerciais. Os investimentos públicos e privados em infraestrutura são baixos. Nossa taxa de câmbio esta, persistentemente, apreciada, transferindo empregos para o exterior. 
Com certeza a sociedade brasileira não aprova estas condições nas quais opera nossa economia. Se as instituições se tornarem inclusivas e permitirem que todos os grupos da sociedade participem efetivamente nas decisões politicas, com certeza resolveremos estes problemas. Dobrar a renda per capita em 15 anos deixará de ser sonho, para ser um projeto de todos.

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