São cada vez mais frequentes as opiniões de analistas sobre a iminência da elevação dos juros básicos pelo Banco Central. Para uma parcela significativa do mercado financeiro, essa elevação, depois de um longo período de baixa e estabilidade, se dará em abril. A persistente inflação brasileira, embora em nível baixo para quem viveu os anos tenebrosamente inflacionários das décadas de 1980, 1990 e 2000, explicaria essas previsões. A elevação dos juros teria como objetivo trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano. Nos últimos 12 meses, a taxa atingiu 6,15%. A inflação se dá quando há desequilíbrio entre oferta e demanda de bens e serviços na economia. A elevação dos juros, tal como proposta pelo mercado financeiro, atuaria para conter a demanda interna. A meu ver, essa postura é equivocada. Mais eficiente é atuar para estimular a oferta desses bens e serviços e com isso incentivar o crescimento econômico. Felizmente, parece que o foco principal do comando da economia no governo Dilma está exatamente voltado para isso: elevar a oferta de bens e serviços por meio da aceleração dos processos de concessão para obras de infraestrutura e por desonerações que tenham efeito positivo na competitividade do setor privado. Além disso, o governo deve anunciar medidas para incentivar o oferecimento de crédito de longo prazo para investimentos por parte dos Bancos privados. Essa tarefa está exageradamente concentrada no BNDES. Estimular a oferta é, sem nenhuma dúvida, o melhor caminho para combater a inflação, porque as demais opções são de alta periculosidade para a atividade econômica. O aumento dos juros esfriaria ainda mais o consumo geral, algo obviamente não recomendável num momento em que a expansão do PIB corre a uma taxa anual de apenas 1% e a geração de emprego está claramente em queda. Outra opção, a valorização do real frente ao dólar, usada como âncora anti-inflacionária nos últimos anos, já deixou sequelas muito significativas na indústria. Se for adotada novamente, vai concorrer para ampliar a desindustrialização. Também é preciso considerar que não há razão prática para achar que a inflação atual vá disparar. Aparentemente, o problema é mais de percepção e expectativa de perigo do que de perigo real. A redução das tarifas de energia terá um efeito positivo importante para conter a taxa média de inflação. A boa safra agrícola que vem por aí e a provável estabilização dos preços das commodities no mercado internacional também vão colaborar para segurar preços. O reajuste menor do salário mínimo, indexado ao PIB, é outro fator favorável, que atua principalmente para aliviar a pressão sobre os serviços. Não existe, portanto, razão objetiva para fazer terrorismo com a ameaça inflacionária, embora a experiência do passado recente indique que não se deve descuidar da vigilância nessa área. Talvez haja um problema na comunicação oficial, que não consegue passar percepções positivas ao mercado. Problemas de comunicação também já se deram recentemente no caso do superavit fiscal. O Brasil terminou o ano com um dos resultados fiscais mais positivos no grupo das 20 maiores economias do mundo, mas a percepção que se espalhou foi a de que o governo fez uma pirotecnia fiscal. O superavit foi inferior à meta de 3% basicamente porque ocorreram desonerações fiscais da ordem de R$ 45 bilhões. Essas desonerações concorrem para uma saudável redução de custos das empresas e de toda a economia. Mas, infelizmente, não houve, em tempo hábil, explicações sobre a operação. Os efeitos da política de estímulo à oferta de bens e serviços não são geralmente sentidos no curto prazo. É preciso ter paciência, disposição para diálogo e controle da ansiedade até que essas medidas tenham impacto na contenção e redução de preços. Mas esse é o caminho mais recomendável.
quinta-feira, março 14, 2013
sexta-feira, janeiro 11, 2013
Pibão
O ano que acabou pode ser avaliado de duas maneiras. Um otimista olharia para a realidade do pleno emprego e diria que está tudo bem. A taxa de desemprego é a mais baixa da história, de 5% da força de trabalho, e a renda média dos assalariados mantém-se em alta, dando continuidade a um processo de distribuição de renda e ascensão social que trouxe cerca de 40 milhões de brasileiros para a classe C nos últimos dez anos. Um pessimista olharia para o PIB e diria que as expectativas foram completamente frustradas. De uma Previsão de crescimento de 4% no início do ano, a taxa foi definhando até chegar a 1%, nível esperado para a expansão do PIB em 2012. Alguém fez uma observação interessante sobre isso: se o IBGE e outros órgãos de pesquisa não existissem e não tivéssemos como olhar para os números do PIB, todos diriam que o otimista está certo. Afinal, com emprego e renda em alta, o nível de felicidade das famílias é atualmente muito elevado quando comparado com o de tempos atrás. Mas o IBGE existe, felizmente, e seus números são importantes, porque indicam que, mantida a tendência atual de baixo crescimento, logo, os níveis de emprego e de renda começarão a baixar e tenderão a derrubar também o índice de felicidade geral. Então, não há dúvidas, o principal desafio brasileiro do ano que começa é elevar a taxa de crescimento econômico. É importante contestar uma observação que já se tornou lugar-comum, a de que estimular o consumo para impulsionar a economia representa uma política errada e perigosa. Não há perigo algum em estimular o consumo interno, porque ele é a força poderosa que puxa os investimentos. Aliás, ênfase ao consumo interno é a política recomendada para que a China mantenha seu crescimento econômico de dois dígitos. Essa política serviu e serve para o Brasil. Se a economia mundial continua problemática, com estagnação na Europa e abismo fiscal nos EUA, nada mais importante do que apostar no crescimento do consumo interno. Com a ressalva de que, dadas as condições atuais de demanda fraca no mundo, é preciso estar muito atento para proteger setores atingidos por concorrência desleal de estrangeiros. Será um grave erro desmontar ou desativar em 2013 o arcabouço de medidas incentivadoras do consumo, as reduções de impostos, bem como o estímulo à expansão do crédito com juros cada vez menores. No setor privado, não haverá investimentos se não houver perspectivas de crescimento de demanda. Com demanda à vista, o investimento produtivo flui, principalmente quando a remuneração de aplicações financeiras tende a minguar. Isso é o óbvio. Não há, portanto, nenhuma contradição entre defender a manutenção de um consumo interno robusto e a ênfase aos investimentos. Entre os desafios de 2013, está justamente fazer avançar os grandes investimentos em infraestrutura no país, que empacam mais por problemas burocráticos do que por falta de recursos. Outro desafio de 2013, e dos anos vindouros, é aumentar a produtividade e a competitividade da economia. Reduzir a absurda taxa de juros básica foi uma política correta nesse sentido. Colocar a taxa de câmbio em um nível mais apropriado foi outra. Reduzir o custo da energia elétrica e cortar impostos são também medidas de fundamental importância. Não gosto da expressão "pibinho", usada quase como um deboche por alguns analistas para zombar do crescimento de apenas 1% da economia brasileira. O melhor seria encarar o tema com crítica séria e equilibrada. O país não está à beira do abismo e muito menos moribundo, condições que exigiriam mudança radical de política. Mas também não está com o ritmo desejável de crescimento. Ainda há muito por fazer.
domingo, janeiro 06, 2013
PT - 10 anos no Poder
No início de 2013, o PT completa dez anos no poder.
Período de avanços inegáveis, especialmente na área social, com redução das desigualdades e emersão da nova classe média. Além da manutenção da estabilidade econômica, que muita gente achava que o PT jogaria pelos ares. Mas também foi um período em que o partido revelou-se igual aos demais.
A despeito dos erros e falhas do PT nesta década, que não foram poucos, o governo Dilma segue muito bem avaliado. E as pesquisas apontam a própria Dilma e o ex-presidente Lula como os dois candidatos mais fortes para a sucessão de 2014.
Sinal de que, no balanço de perdas e ganhos, a população ainda enxerga mais pontos positivos do que negativos no PT. E de profunda incompetência da oposição.
2013
É difícil prever o PIB do Brasil em 2013. Analistas costumam cravar nas casas decimais um crescimento da economia que pode se revelar, ao fim e ao cabo, totalmente fora do esperado. Consultorias chegavam a apontar um aumento de 4,5% em 2012 e o PIB deverá ficar em 1%. Menos instáveis têm sido as previsões políticas. O ano-novo marca a metade do mandato da Presidenta Dilma Rousseff e uma coisa que se pode dizer é que a petista já tem motivos para comemorar até um feliz 2014, quando, ao que tudo indica, concorrerá à reeleição. Dilma abre o terceiro ano de governo com uma combinação de fatores econômicos e, principalmente, políticos que lhe deixam numa situação bastante favorável. Há a ameaça constante de contaminação da crise dos Estados Unidos e da Europa, o crescimento da economia nacional é baixo, mas a situação de pleno emprego e a manutenção do poder de consumo têm pesado mais na balança. A aprovação ao governo Dilma, de 62%, supera com folga à obtida por Lula, 41%, e Fernando Henrique Cardoso, 47%, no segundo ano do primeiro mandato dos dois ex-presidentes. PSD e PSB grudam no governo ao se armar tabuleiro. Muito pode acontecer até 2014, a eleição parece longe, mas o tempo político exige a antecipação dos movimentos em pelo menos um ano, devido ao prazo de filiação partidária. A entrada ou não de Marina Silva no páreo, por exemplo, deve ser definida neste mês. Caso queira fundar um novo partido, a candidata que surpreendeu em 2010, com 20% dos votos, precisa agir rápido para mobilizar seu grupo, reunir quase meio milhão de assinaturas e obter o registro até outubro. A participação de Marina é uma incógnita que pode ter algum efeito sobre o resultado da disputa, mas não deve ser nem sub nem superestimada. Tende forçar, no máximo, como em 2010, à realização de um segundo turno no qual Dilma permanece favorita. Pelo menos duas razões alimentam o favoritismo. Em primeiro lugar, a Presidenta encontrará uma oposição mais enfraquecida. O PSDB, principal legenda adversária, tem o desafio de reunir suas hostes em torno do Senador Aécio Neves. O ex-governador de Minas encontra dificuldade de empolgar o QG do partido, desde sempre concentrado em São Paulo. Os tucanos têm ainda problemas crônicos no terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro, a ponto de cogitar saídas heterodoxas para criar um palanque no Estado. Transferir o título de José Serra para o Rio, lançar Luciano Huck ou economistas da era FHC sem carreira política dão a medida da escassez de alternativas do PSDB. O racha no DEM, segunda maior sigla de oposição, não só dividiu os adversários, como trouxe um naco relevante deles para o campo governista. Liderada por Gilberto Kassab, sob a bandeira do recém-criado PSD, uma nova tropa aderiu à já ampla coalizão que sustenta a Presidenta. De tão grande, esta coalizão passou todo o ano de 2012 sob o risco de esgarçamento. Nos últimos meses, porém, Dilma recebeu indicações de que seu exército marchará unido. É a segunda razão para o favoritismo. O emergente governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), deixou de lado seu discurso ambíguo, afirmou que não será candidato em 2014 e apoiará a reeleição da Presidenta. É uma declaração que deixa o cenário ainda mais claro e favorável à Dilma, uma vez que se especulava sobre a possibilidade de Campos romper com o governo federal. Não o fará. Seja pela expectativa de ser apoiado ou se ver livre de compromissos com o PT, em 2018, seja porque atualmente enfrenta resistências dentro do próprio partido, a começar pelos irmãos Ciro e Cid Gomes que hipotecam apoio a Dilma. Ao mesmo tempo, a Presidenta amarra o PSD. Apesar de criado para fazer a transposição de oposicionistas em direção à base do governo, nada garantia que Kassab e sua turma dessem meia volta volver. Mas as tratativas para a entrada do partido no ministério grudam os pessedistas à administração do PT justamente no momento em que se arma o tabuleiro para 2014. Até a Senadora ruralista Kátia Abreu (TO), única com condições de desafiar Kassab no PSD e crítica ferrenha durante o governo Lula, está na órbita de Dilma Rousseff. A adesão do PSD tornou-se uma necessidade ainda maior para a sobrevivência da liderança partidária do ex-prefeito depois da derrota nas eleições municipais, quando sua administração foi reprovada e seu candidato, Serra, saiu derrotado. As eleições locais, embora não sejam preditores para a disputa presidencial, deram a medida da correlação de forças. E as siglas de oposição, no geral, minguaram. O PSDB perdeu quase cem prefeituras e o DEM, mais de 200. Legendas aliadas ao governo federal, mas ideologicamente distantes do PT, como PR, PP e PTB, deixaram juntas o poder em mais de 300 municípios. Ao todo, as cinco siglas perderam 631 cidades, número semelhante às 684 ganhas a mais por PT e PSB somadas às conquistadas pelo novato PSD. Isso mostra que o impacto do julgamento do mensalão nos resultados foi não apenas nulo, como não evitou a vitória mais cobiçada pelo PT, que elegeu Fernando Haddad, em São Paulo. Para piorar, a pressão da opinião pública nos próximos meses foi empurrada para o lado da oposição, que se verá às voltas com o julgamento do Mensalão Mineiro, do PSDB, como prometeu o STF. Por fim, o vento sopra a favor da reeleição quando entram na conta atores da sociedade civil como os sindicatos e o empresariado. Os primeiros não se sentem tão representados quanto na era Lula, mas suas preferências estão longe da agenda da oposição. Já os empresários, sobretudo os da indústria, tiveram suas demandas atendidas pelo Executivo, especialmente na cruzada pela redução da tarifa de energia elétrica. A luta de Dilma em prol da energia barata foi saudada em generosos anúncios publicitários pela Fiesp e Firjan. É mais um sinal de que a Presidenta ruma para a sucessão tão ou mais forte que seu antecessor.
segunda-feira, dezembro 17, 2012
Mensalão
Os brasileiros parecem ter chegado à conclusão de que o moralismo da mídia é cínico. Algumas coisas pegam, algumas coisas mobilizam a opinião pública, e outras provocam essencialmente indiferença.
Na Inglaterra, a revelação de que o celular de uma garota sequestrada fora invadido por repórteres do News of the World, de Rupert Murdoch, gerou entre os ingleses uma raiva tão forte e tão espalhada que em menos de uma semana o jornal, de 168 anos, estava simplesmente fechado. Na Tunísia, a autoimolação de um vendedor maltratado derrubou, em menos de um mês, uma ditadura de mais de 20 anos. O caso inverso é o Mensalão. Não vou entrar sequer no mérito da discussão sobre se o Mensalão deveria ter inflamado os brasileiros. Mas o fato indiscutível é que o caso jamais foi relevante para a opinião pública brasileira, a despeito da cobertura enorme e estrepitosa da imprensa. Se a medição do poder de influência da grande mídia se der em torno do que o Mensalão significa para os brasileiros, a conclusão a que se chega é que a sociedade não está ouvindo tanto assim o chamado Quarto Poder. Se estivesse, a voz rouca das ruas estaria gritando palavras de ordem contra Lula, Dirceu e Dilma. O Brasil se transformaria numa Praça Tahrir, o célebre centro de protestos do Egito. Deu ontem na Folha que Lula e Dilma se elegeriam no primeiro turno em 2014. Deu também que que a confiança da sociedade brasileira na imprensa diminuiu consideravelmente durante a cobertura do Mensalão. Não me surpreendi. Os brasileiros estão profundamente insatisfeitos com sua mídia. Este sentimento se manifesta com estrépito na internet. Qualquer editor sério estudaria com urgência os resultados do Datafolha, em nome da sobrevivência de sua credibilidade e, consequentemente, do seu negócio. É aquela história: ou os brasileiros estão errados ou a mídia. Faça sua escolha. A revolta que a mídia gostaria de ver espalhada se manifesta num grupo localizado. Por exemplo, Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, ao estilo superlativo de Machado de Assis, classificou o Mensalão como a “maior agressão” que a democracia poderia sofrer. Como classificar, então, o golpe militar que derrubou em 1964 um governo eleito pelas urnas?
Sabemos todos que muitas bobagens antidemocráticas são ditas em nome da democracia, mas Gurgel extrapolou. Mas ainda uma vez. A opinião pública brasileira parece surda a toda a exaltação retórica de Gurgel, tão repercutida pela grande mídia. De novo: algumas coisas pegam, outras não. O Mensalão não pegou. Certa ou errada, a voz rouca parece ter chegado à conclusão de que é a versão 2012 do ‘Mar de Lama’ dos anos 1950, uma cruzada pseudomoralista cujo real objetivo era, ele próprio, um mar de lama.
sábado, dezembro 15, 2012
Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável
O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o PIB brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de mai de 5% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia. A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group, que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE. O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90", diz o relatório "Da riqueza para o bem-estar". O estudo também faz referencia ao programa Bolsa Família, destacando que a ajuda do governo as famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola. Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola, Albânia, Camboja e Uruguai. A Argentina ficou na 26ª colocação. Chile e México ficaram ainda mais atrás. Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança, educação, saúde, ambiente e infraestrutura. O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidas. Como seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária. Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais." Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos, Peru e Uruguai, aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis, Angola, Etiópia e Ruanda, e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação a padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã. Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%. O estudo também compara o desempenho recente dos Brics na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil. O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país." Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo. com base no qual os governos possam agir."
Revolução Silenciosa
Guido Mantega tem razão quando adverte que a economia brasileira passa por um período de transição profunda provocado pela queda dos juros. Por isso, todos agentes econômicos, inclusive os governos, têm de mudar certas práticas ligadas ao comportamento do mercado financeiro. Mantega chamou a atenção para o impacto sobre as empresas provocado pela redução do retorno nas aplicações financeiras. Isso exigirá que todo o setor produtivo concentre a busca de resultados nas suas atividades operacionais e não mais nas aplicações. O Estadão destaca outro efeito do mergulho dos juros. Trata-se da quebra do fator de multiplicação do patrimônio. A matéria aponta para análise do Opportunity de que, a juros básico de 7% ao ano e inflação da ordem de 5% ao ano, agora serão necessários nada menos que 100 anos para que alguém possa dobrar um patrimônio financeiro. Em 1999, mostra esse estudo, em somente 5 anos um patrimônio financeiro poderia dobrar seu valor real. Já havíamos alertado para o fato de que essa novidade impõe sérias implicações para a aposentadoria do brasileiro. Ou o aplicador terá de prever retiradas bem mais baixas do que as anteriormente previstas; ou terá de estender o período de contribuição para seu fundo de aposentadoria complementar; ou, ainda, precisará correr mais risco, por meio de investimentos em ações ou em títulos privados que oferecem garantia mais baixa. A queda dos juros escancarou outra distorção. As elevadas taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras para gerir fundos de investimento. Enquanto os juros permaneceram lá em cima, o aplicador não chegou a questionar a cobrança. Mas agora já não faz mais sentido a imposição de taxas de administração que variam entre 1% e 3% ao ano quando a remuneração líquida é inferior a esses níveis. O ministro Mantega vem observando que um dos beneficiários dos juros mais baixos é o próprio setor público, na medida em que o Tesouro terá que pagar uma remuneração menor pelos seus passivos. E que esse benefício de natureza fiscal acabará fortalecendo as finanças públicas. No entanto, o que o ministro Mantega ainda não reconheceu é o fato de que a redução dos juros também derruba a arrecadação federal. Apenas em cotas de fundos de renda fixa havia em setembro um saldo de quase R$ 2 trilhões. Se diminui a importância da renda financeira, também cairá a arrecadação média do Imposto de Renda sobre esse patrimônio, que é de 15%.
Palestina
É impraticável a convivência de duas tribos quando uma consegue criar zona de conforto só para ela. Há cerca de um mês, o jornal israelense Haaretz publicou texto que fechava com: "Precisamos finalmente desistir da esperança de que as coisas possam melhorar", em relação ao conflito entre israelenses e palestinos. Profético, não? Seu autor é um dos mais notáveis jornalistas de Israel, Gideon Levy, crítico das políticas de seu país, mas que não pode ser chamado de antissemita, como muitos judeus fazem quando alguém escreve algo que não lhes agrade. Veio-me logo à cabeça a frase de Dante, "abandone qualquer esperança você que entra", que encima a porta do inferno, e os palestinos e israelenses vivem em um inferno. O texto de Gideon Levy foi provocado por pesquisa que mostrava, segundo sua análise, que um terço dos israelenses querem negar aos cidadãos árabes de Israel o direito de votar de que hoje gozam. Seria uma maneira adicional de acentuar seu caráter de cidadãos de segunda classe. Cerca de 50% dos israelenses são a favor de transferir os árabes para fora do país. Seria a versão judaica de limpeza étnica, o que deveria ser aberrante para a comunidade que sofreu a mais violenta e odiosa limpeza étnica da história. Seria, além disso, uma aberta violação da legislação internacional que consagra o direito dos palestinos a um território, hoje em grande parte ocupado por Israel. A maioria admite que há apartheid em Israel, o que deveria ser rejeitado violentamente, não aceito alegremente. Levy extrai então as seguintes conclusões, entre outras: "Considerada a presente realidade, fazer a paz seria quase um ato antidemocrático; a maioria dos israelenses não a quer. Uma sociedade justa e igualitária também viola os desejos de muitos israelenses. Também é algo que eles não querem. Estão satisfeitos com o racismo, confortáveis com a ocupação, satisfeitos com o apartheid; as coisas vão muito bem para eles neste país. É o que disseram aos pesquisadores". De fato, os israelenses acomodaram-se em sua zona de conforto, a partir do instante em que a construção do muro que separa os territórios palestinos de Israel, e de pedaços de terras que são legalmente palestinas, controlou o terrorismo. Sucessivos governos israelenses foram, a partir de então, criando as condições para que Israel passasse a viver em segurança, sem se incomodar minimamente em respeitar as resoluções da ONU que exigem a retirada dos territórios ocupados, única forma de que possam de fato ser criados dois Estados viáveis. A imposição pelo mais forte criou essa situação em que um lado acha, para citar Levy, "que as as coisas vão muito bem para eles", e o outro lado vive miseravelmente. Aí vêm os ataques promovidos pelo Hamas. Israel descobre penosamente que não dá para viver ao lado do inferno sem sentir o calor das chamas. Os dois lados acabam dando razão a Dante.
BaCen
Desde que se descolou dos analistas do mercado, há pouco mais de um ano, o Banco Central tem acertado bem mais do que errado. Suas avaliações da conjuntura e o desenho das perspectivas macroeconômicas que elabora, base para a expressiva redução promovida nos juros básicos, têm sido, em grande medida, confirmadas pela realidade. O fato é que, acertando ou não, a autoridade monetária continua sob fogo de barragem de críticas à sua atuação. Essas críticas insistentes, que querem fazer acreditar ter havido um abandono não declarado do tripé de metas e normas no qual se assenta o modelo vigente de estabilidade monetária, não têm origem nas ambiguidades dos documentos produzidos e veiculados pelo BC sobre a evolução da conjuntura econômica e as ações de política monetária. São antes fruto de visões sedimentadas da dinâmica econômica, visivelmente desatualizadas em certos casos, que nem mesmo a comunicação mais transparente seria capaz de abalar. Mas nem por isso é possível dizer que o BC tem cumprido bem o papel crucial de indicar com clareza os alvos que persegue e os caminhos que escolhe para atingi-los. A economia global, depois da instalação da crise de 2008, tem ensejado cambalhotas conceituais que muitos estão se revelando incapazes de acompanhar. Operar economias com taxas de juros reais negativas por longos períodos, em meio a um ambiente global de baixo crescimento ou recessão, é um novo desafio para os responsáveis pelas políticas econômicas, ainda sem respostas convincentes. Assim, flexibilizar regras estabelecidas e experimentar caminhos alternativos são atitudes, mais do que aceitáveis, exigidas para momentos de transição em que as verdades conhecidas não funcionam mais como antes. Exatamente por serem inovadores, os novos movimentos de política econômica precisam ser disseminados para o público da forma mais clara possível. É aí que o nosso BC tem contribuído menos do que deveria para coordenar expectativas e reduzir o ruído num ambiente de tantas incertezas. Se a mensagem é a de que o mundo mudou, os meios usualmente usados para transmitir as mensagens também deveriam mudar. O conjunto de documentos oferecidos ao público pelo BC, dentro do sistema de metas de inflação, não passou por atualizações dignas de nota desde a sua introdução há 13 anos. A abertura da informação do voto de cada integrante do Copom foi a mudança mais relevante em mais de uma década, na qual se instalou uma crise de grandes proporções e enormes consequências. Os relatórios continuam escritos em legítimo "coponês", o idioma rococó só acessível a iniciados, característico das atas das reuniões. Referência nesse departamento, o formato dos "papers" do Federal Reserve está a anos-luz de distância do que é produzido no congênere brasileiro. Sem falar no uso de outros espaços de comunicação, como é o caso da entrevista coletiva concedida pelo presidente do Fed, logo após o encerramento, pelo menos a cada duas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), o Copom deles. Comparados com a abertura de informações das atas das reuniões do Fomc, os textos das atas do Copom parecem códigos criptografados. A propósito, na ata da última reunião do comitê americano estão expostos detalhes de um debate sobre a necessidade de ampliar o grau de abertura de informações nos seus documentos, com a divulgação de metas explícitas para um maior número de variáveis com as quais o Fed constrói seus cenários. É preciso lembrar, para não cometer injustiças, que os membros do Fomc desfrutam de mandato fixo, o que não ocorre no caso dos membros do Copom. Essa diferença, institucionalmente relevante, pode explicar a distância entre o grau de abertura dos votos no Fomc e no Copom, assim como o nível de detalhamento da transcrição das discussões nas reuniões dos dois comitês. Mas não é argumento para justificar enigmas que pipocam nos relatórios do BC, caso da "estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado", como "estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear".
quinta-feira, dezembro 06, 2012
Agência da Educação
Nosso Brasil registrou, em 2011, 6.739.689 matrículas no ensino superior. O número de profissionais com título superior na economia ativa é menor do que o dobro de matrículas acima. Assim, somos um país de aproximadamente 200 milhões de habitantes, onde o somatório daqueles que ainda estudam com os que já concluíram o nível superior e estão trabalhando representa inaceitáveis 10% da população. Somos a sexta economia do mundo, mas ainda não contamos com a garantia de um crescimento social e econômico sustentável. Ao lado da certeza da abundância de nossos recursos naturais, a principal fonte de nossas incertezas recai na deficiente escolaridade, demandando urgente plano com estratégias de crescimento qualitativo e quantitativo em todos os níveis educacionais, incluindo o ensino superior. O ensino superior, além das conhecidas deficiências, tem seu quadro agravado pela insuficiência, numérica e de qualidade, dos formandos do ensino médio. O crescimento de matrículas no nível superior só será viável se, adicionalmente, promovermos o aumento do número e da qualidade de formandos do nível médio, viabilizarmos que aqueles que estão no mundo do trabalho possam ser atraídos para completarem a formação que abdicaram anteriormente. Compatibilizar estudo e trabalho é indispensável nas economias contemporâneas e as ferramentas da educação a distancia são imprescindíveis. A utilização da modalidade já responde hoje por quase 15% do total de matrículas. Adicionalmente, na modalidade presencial contribuiria estender a já prevista utilização de até 20% a distância na integralização curricular para até 40% naqueles cursos que, tendo feito uso de 20%, demonstrem comprovados resultados positivos. Ao lado de um conjunto de outras medidas similares, a mais importante do ponto de vista estrutural seria a consolidação de uma Agência Reguladora capaz de estabelecer com o Poder Público um contrato de gestão plurianual, renovável bem como denunciável, com metas claras e verificáveis de qualidade e quantidade, sendo responsável pela implementação de uma política de expansão e garantia de qualidade do ensino superior. Adicionalmente, liberaria o INEP para desempenhar as funções para as quais ele foi efetivamente criado. Uma Agência de Regulação bem desenhada poderia impor a todas as instituições educacionais o compromisso de manterem página pública contendo informações detalhadas e atualizadas sobre cada uma das disciplinas com os respectivos professores e seus currículos, salas de aula e infraestruturas disponíveis e utilizadas, demais elementos próprios de cada modalidade e metodologias empregadas, bem como número de estudantes por sala, taxas de evasão e nível de sucesso de seus formandos. Mesmo não se tratando de auto regulação, a permanente vigilância dos estudantes, via uma Ouvidoria, e das instituições concorrentes seria muito mais eficiente e eficaz do que uma pesada estrutura que subestima a utilização plena das tecnologias digitais e desconhece a premissa da confiabilidade conjugada com previsão de punição severa ao falseamento. A composição da direção deste órgão é complexa e crítica, mas viável. O Poder Público deve ter uma centralidade compartilhada com entidades setoriais afetas à área, gerando indicações de profissionais idôneos, competentes, conhecedores profundos do tema e compromissados com os planos previstos de expansão e qualidade do ensino superior. Trata-se, portanto, de um grande desafio explorar a possibilidade de uma alternativa baseada em modelos contemporâneos, operando por contratos de gestão, ágeis, eficientes e eficazes, auditáveis nas metas que se propuserem a cumprir e que não onerem ou hipertrofiem o setor público ou os demais interessados em termos de gastos, seja com pessoal ou custeio.
Provocador
É um privilégio se meter numa briga envolvendo Luciano Huck e Rafinha Bastos. É raro quando as duas partes estão erradas. Vamos aproveitar. A carta de Rafinha espinafrando Huck é realmente grosseira. Fosse comigo, tamanha a baixaria, ignorava solenemente. O polêmico escritor Oscar Wilde tinha um lema: escolha os inimigos pela inteligência; e os amigos, pela beleza. Seguindo o mesmo ditado, não faria amizade com Luciano. A Angélica deve achar o marido uma fofura. Eu não. Seu bom-mocismo é tão do mal que, sintomaticamente, foi capa da revista Veja, que, todos sabemos, elege como heróis gente como Demóstenes Torres, ACM Serra e Fernando Collor. Nem entro no mérito dele ter se recusado ao teste de bafômetro. Não fez nada de ilegal. E, como não sou hipócrita, acho essa história de tolerância zero coisa de fascista. Tomar um copo de vinho não torna ninguém um assassino em potencial. Acidentes fatais de trânsito são mais comuns, aos milhares, por conta das más condições de nossas avenidas e rodovias abandonadas pelo poder público. Um motorista deve ser severamente punido quando mata ao volante. E, se estiver alcoolizado, que isso sirva como agravante seríssima. Pessoas sóbrias também são irresponsáveis, participam de rachas e atropelam inocentes. Rafinha, novamente, faz graça onde não há nenhuma. Já pagou caro na Justiça por seu espírito rancoroso travestido de humorismo. Tem quem goste. E ele não está sozinho nessa. Na verdade, humor no Brasil virou sinônimo de excrecência, humilhação, demagogia e pistolagem. Que Luciano Huck vá procurar seus “direitos” diante do que considera uma ofensa só deixa claro o quanto ele se leva a sério demais. Sua imagem é seu patrimônio de vida, embora a use basicamente para fazer assistencialismo barato e caríssimas publicidades para quaisquer produtos, até mesmo universidades chinfrins. Isso porque o cara já é milionário. Falta pudor a todos os envolvidos. Se querem dar bom exemplo ou praticar humorismo de cangaço, eles que vão procurar cada um a sua turma. A minha está se lixando pros dois.
Lulismo
Cenários sobre o futuro do Brasil precisam se apoiar em boa interpretação dos "sentidos do lulismo," conforme a modesta expressão adotada por André Singer, professor de ciência política da USP, para título do excelente livro que coroou mais de 20 anos de pesquisas sobre o tema. O lulismo foi um "pulo do gato" consolidado por "ousadia". O pulo veio da opção preferencial por manter a ordem e driblar qualquer tipo de confronto com artilharias de capitalistas, com o objetivo de melhorar as condições de vida das camadas mais miseráveis da população, fortemente concentradas no Nordeste. A ousadia foi turbinar essa orientação sob o choque global de setembro de 2008, ao conclamar a população a "manter a confiança e comprar, arriscando-se a quebrar junto com os endividados". Os dois movimentos foram confirmados nas eleições de 2006 e 2010. Primeiro os miseráveis substituíram as camadas médias que haviam prevalecido no "lulalá" de 2002, depois essa inversão foi até aprofundada com a votação de Dilma no Nordeste. Esse ordeiro combate à miséria, essência da agenda lulista, já despontara de forma muito insipiente no segundo mandato de FHC. E só foi mesmo relançado a partir de setembro de 2003, com o descarte dos quase 2.400 "comitês gestores" do programa Fome Zero. O ordeiro combate à miséria se manterá como importante componente programático de uns dez futuros governos Daí ser das mais cativantes a descrição analítica proposta por André Singer do processo de adaptação do PT ao seu "condottiero". Um ótimo exemplo, mesmo que tardio, além de tropical, de como organizações políticas evoluem com desconcertante rapidez ao reformismo gradualista por evitarem confrontos para conseguir governar. Claro, debates infindáveis decorreriam de frágeis analogias históricas e até de alguns recursos a uma retórica só descodificável por leitores com séria formação marxista. Nada disso diminui, contudo, a extrema utilidade desse livro para exercícios especulativos sobre os desdobramentos do processo civilizador nestas paragens. Tudo indica que a agenda lulista permanecerá imprescindível para muitos dos próximos governos, sejam quais forem as oscilações eleitorais. Pois, mesmo que melhore muito a qualidade do crescimento econômico, a efetiva miséria só se tornará comparável à de país desenvolvido lá por 2030, na melhor das hipóteses. Podendo se prolongar ao menos até 2060, caso sejam abalados os fundamentos materiais do lulismo, com destaque para o predatório desempenho do bloco agromineral exportador no aproveitamento das vantagens comparativas oferecidas pela abundância de recursos naturais. O mais provável, portanto, é que o pós-lulismo, seja lá o que vier a ser, dificilmente surja antes de meados do século, a menos que seja antecipado por circunstâncias excepcionais. Tais estimativas são necessárias para enfatizar que o ordeiro combate à miséria deverá se manter como importante componente programático de uns dez futuros governos. Isto é, que o sentido fundamental das políticas públicas revigoradas a partir de setembro de 2003 continuará a ser, em caso de alternâncias, dimensão programática básica de quaisquer outras coalizões governamentais. A grande incógnita se refere ao eixo de uma agenda pós-miséria, a ser adotada quando começarem a surgir os sinais de seu arrefecimento. Talvez um foco explícito no combate às desigualdades, bem mais difícil de ser executado com dribles em setores economicamente dominantes, a começar pelos que estão fazendo a América nos mercados imobiliários, talvez até mais nos rurais que nos urbanos. Poderosos interesses patrimoniais serão ferozes obstáculos para que continuem a ser significativamente reduzidas desigualdades de renda, de acesso, e de oportunidades. Isto é, para que em algumas décadas os níveis de desigualdade do Brasil se aproximem dos de países como o Canadá, por exemplo. O pior é que, além dessas resistências do patrimonialismo tupiniquim, tudo dependerá demais de fatores que nem podem ser domesticamente controlados. Mesmo na hipótese de que uma guerra nuclear continue a ser evitada, serão inviabilizados até os melhores projetos anti-miséria, quanto mais planos para a redução das desigualdades, caso não venha a ser organizada ainda nesta década uma efetiva governança multilateral do desenvolvimento sustentável. É isso que escancara a crucial importância da política externa para a viabilização dos interesses nacionais. Se o Brasil persistir em alianças com potências das mais reticentes ao engajamento em favor da sustentabilidade, com certeza estará contribuindo para cavar sua própria cova, pois nada será mais sério contra uma plena realização do lulismo, do que a desordem global decorrente de um predomínio do negacionismo ecológico.
EaD
Ainda hoje no Brasil, os cursos online são geralmente vistos como picaretagem. As pessoas tendem a desconfiar de tudo no Brasil, com razão, e os cursos de ensino a distância (EAD) são só mais uma vítima. O grande medo é que o curso seja de baixa qualidade. Diante desse estigma, instituições de alto nível evitam entrar nesse mercado para não prejudicar a imagem da instituição. É um equilíbrio ruim, que só pode ser quebrado quando as instituições de alta qualidade entrarem nesse mercado. Acho que esse setor tem grandes possibilidades de se expandir com qualidade. A nova geração entende como a internet funciona e sabe como usá-la para adquirir conhecimento. É claro que é impossível ensinar engenharia ou medicina pela internet. Mas, acho que muitas disciplinas podem ser lecionadas via web. Vejo da seguinte forma. Se as instituições de alta qualidade conseguirem aumentar a oferta de cursos simplesmente transmitindo as aulas presenciais e propiciando acompanhamento off-line e via web, a qualidade das outras, inclusive presenciais, terá que aumentar. É simplesmente o efeito da competição. Vai demorar um tempo até o mercado entender que ensino a distância pode ser bom e a pessoa pode aprender tanto quanto nos cursos presenciais. Essa compreensão passa inicialmente por perceber que mesmo em faculdades de ensino presencial o professor pode não estar presente. Imagino que um curso como o de Administração, por exemplo, possa ter disciplinas presenciais e outras online. Cursos de extensão e de curta duração totalmente online já existem. Drexel, por exemplo, é uma das universidades pioneiras, ela tem um MBA em Sacramento (CA) que tem, além dos módulos presenciais, várias disciplinas ministradas diretamente da Philadelphia (PA). Hoje, muitas universidades de prestígio, como Harvard e Stanford, já oferecem cursos online nos EUA. Vagando pela internet descobri um post do Becker sobre o tema (AQUI). Fiquei feliz em ler que ele pensa de modo parecido. Está aí um setor que pode mudar drasticamente com as mudanças previstas para o setor de banda larga no Brasil. O EAD já vem crescendo muito, mas hoje está muito limitado pela capacidade das bandas. Um bom EAD precisa ter aulas ao vivo, com interação aluno-professor. E isso só é possível com boas conexões. Bom, fica aí um pouco do meu pensamento sobre o futuro da educação online.
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