segunda-feira, dezembro 17, 2012

Mensalão


Os brasileiros parecem ter chegado à conclusão de que o moralismo da mídia é cínico. Algumas coisas pegam, algumas coisas mobilizam a opinião pública, e outras provocam essencialmente indiferença. 
Na Inglaterra, a revelação de que o celular de uma garota sequestrada fora invadido por repórteres do News of the World, de Rupert Murdoch, gerou entre os ingleses uma raiva tão forte e tão espalhada que em menos de uma semana o jornal, de 168 anos, estava simplesmente fechado. Na Tunísia, a autoimolação de um vendedor maltratado derrubou, em menos de um mês, uma ditadura de mais de 20 anos. O caso inverso é o Mensalão. Não vou entrar sequer no mérito da discussão sobre se o Mensalão deveria ter inflamado os brasileiros. Mas o fato indiscutível é que o caso jamais foi relevante para a opinião pública brasileira, a despeito da cobertura enorme e estrepitosa da imprensa. Se a medição do poder de influência da grande mídia se der em torno do que o Mensalão significa para os brasileiros, a conclusão a que se chega é que a sociedade não está ouvindo tanto assim o chamado Quarto Poder. Se estivesse, a voz rouca das ruas estaria gritando palavras de ordem contra Lula, Dirceu e Dilma. O Brasil se transformaria numa Praça Tahrir, o célebre centro de protestos do Egito. Deu ontem na Folha que Lula e Dilma se elegeriam no primeiro turno em 2014. Deu também que que a confiança da sociedade brasileira na imprensa diminuiu consideravelmente durante a cobertura do MensalãoNão me surpreendi. Os brasileiros estão profundamente insatisfeitos com sua mídia. Este sentimento se manifesta com estrépito na internet. Qualquer editor sério estudaria com urgência os resultados do Datafolha, em nome da sobrevivência de sua credibilidade e, consequentemente, do seu negócio. É aquela história: ou os brasileiros estão errados ou a mídia. Faça sua escolha. A revolta que a mídia gostaria de ver espalhada se manifesta num grupo localizado. Por exemplo, Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, ao estilo superlativo de Machado de Assis, classificou o Mensalão como a “maior agressão” que a democracia poderia sofrer. Como classificar, então, o golpe militar que derrubou em 1964 um governo eleito pelas urnas? 
Sabemos todos que muitas bobagens antidemocráticas são ditas em nome da democracia, mas Gurgel extrapolou. Mas ainda uma vez. A opinião pública brasileira parece surda a toda a exaltação retórica de Gurgel, tão repercutida pela grande mídia. De novo: algumas coisas pegam, outras não. O Mensalão não pegouCerta ou errada, a voz rouca parece ter chegado à conclusão de que é a versão 2012 do ‘Mar de Lama’ dos anos 1950, uma cruzada pseudomoralista cujo real objetivo era, ele próprio, um mar de lama.

sábado, dezembro 15, 2012

Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável

O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o PIB brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de mai de 5% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia. A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group, que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE. O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90", diz o relatório "Da riqueza para o bem-estar". O estudo também faz referencia ao programa Bolsa Família, destacando que a ajuda do governo as famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola. Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola, Albânia, Camboja e Uruguai. A Argentina ficou na 26ª colocação. Chile e México ficaram ainda mais atrás. Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança, educação, saúde, ambiente e infraestrutura. O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidasComo seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária. Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais." Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos, Peru e Uruguai, aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis, Angola, Etiópia e Ruanda, e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação a padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã. Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%. O estudo também compara o desempenho recente dos Brics na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil. O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país." Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo. com base no qual os governos possam agir."

Revolução Silenciosa

Guido Mantega tem razão quando adverte que a economia brasileira passa por um período de transição profunda provocado pela queda dos juros. Por isso, todos agentes econômicos, inclusive os governos, têm de mudar certas práticas ligadas ao comportamento do mercado financeiro. Mantega chamou a atenção para o impacto sobre as empresas provocado pela redução do retorno nas aplicações financeiras. Isso exigirá que todo o setor produtivo concentre a busca de resultados nas suas atividades operacionais e não mais nas aplicações. O Estadão destaca outro efeito do mergulho dos juros. Trata-se da quebra do fator de multiplicação do patrimônio. A matéria aponta para análise do Opportunity de que, a juros básico de 7% ao ano e inflação da ordem de 5% ao ano, agora serão necessários nada menos que 100 anos para que alguém possa dobrar um patrimônio financeiro. Em 1999, mostra esse estudo, em somente 5 anos um patrimônio financeiro poderia dobrar seu valor real. Já havíamos alertado para o fato de que essa novidade impõe sérias implicações para a aposentadoria do brasileiro. Ou o aplicador terá de prever retiradas bem mais baixas do que as anteriormente previstas; ou terá de estender o período de contribuição para seu fundo de aposentadoria complementar; ou, ainda, precisará correr mais risco, por meio de investimentos em ações ou em títulos privados que oferecem garantia mais baixa. A queda dos juros escancarou outra distorção. As elevadas taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras para gerir fundos de investimento. Enquanto os juros permaneceram lá em cima, o aplicador não chegou a questionar a cobrança. Mas agora já não faz mais sentido a imposição de taxas de administração que variam entre 1% e 3% ao ano quando a remuneração líquida é inferior a esses níveis. O ministro Mantega vem observando que um dos beneficiários dos juros mais baixos é o próprio setor público, na medida em que o Tesouro terá que pagar uma remuneração menor pelos seus passivos. E que esse benefício de natureza fiscal acabará fortalecendo as finanças públicas. No entanto, o que o ministro Mantega ainda não reconheceu é o fato de que a redução dos juros também derruba a arrecadação federal. Apenas em cotas de fundos de renda fixa havia em setembro um saldo de quase R$ 2 trilhões. Se diminui a importância da renda financeira, também cairá a arrecadação média do Imposto de Renda sobre esse patrimônio, que é de 15%.

Palestina

É impraticável a convivência de duas tribos quando uma consegue criar zona de conforto só para ela. Há cerca de um mês, o jornal israelense Haaretz publicou texto que fechava com: "Precisamos finalmente desistir da esperança de que as coisas possam melhorar", em relação ao conflito entre israelenses e palestinos. Profético, não? Seu autor é um dos mais notáveis jornalistas de Israel, Gideon Levy, crítico das políticas de seu país, mas que não pode ser chamado de antissemita, como muitos judeus fazem quando alguém escreve algo que não lhes agrade. Veio-me logo à cabeça a frase de Dante, "abandone qualquer esperança você que entra", que encima a porta do inferno, e os palestinos e israelenses vivem em um inferno. O texto de Gideon Levy foi provocado por pesquisa que mostrava, segundo sua análise, que um terço dos israelenses querem negar aos cidadãos árabes de Israel o direito de votar de que hoje gozam. Seria uma maneira adicional de acentuar seu caráter de cidadãos de segunda classe. Cerca de 50% dos israelenses são a favor de transferir os árabes para fora do país. Seria a versão judaica de limpeza étnica, o que deveria ser aberrante para a comunidade que sofreu a mais violenta e odiosa limpeza étnica da história. Seria, além disso, uma aberta violação da legislação internacional que consagra o direito dos palestinos a um território, hoje em grande parte ocupado por Israel. A maioria admite que há apartheid em Israel, o que deveria ser rejeitado violentamente, não aceito alegremente. Levy extrai então as seguintes conclusões, entre outras: "Considerada a presente realidade, fazer a paz seria quase um ato antidemocrático; a maioria dos israelenses não a quer. Uma sociedade justa e igualitária também viola os desejos de muitos israelenses. Também é algo que eles não querem. Estão satisfeitos com o racismo, confortáveis com a ocupação, satisfeitos com o apartheid; as coisas vão muito bem para eles neste país. É o que disseram aos pesquisadores". De fato, os israelenses acomodaram-se em sua zona de conforto, a partir do instante em que a construção do muro que separa os territórios palestinos de Israel, e de pedaços de terras que são legalmente palestinas, controlou o terrorismo. Sucessivos governos israelenses foram, a partir de então, criando as condições para que Israel passasse a viver em segurança, sem se incomodar minimamente em respeitar as resoluções da ONU que exigem a retirada dos territórios ocupados, única forma de que possam de fato ser criados dois Estados viáveis. A imposição pelo mais forte criou essa situação em que um lado acha, para citar Levy, "que as as coisas vão muito bem para eles", e o outro lado vive miseravelmente. Aí vêm os ataques promovidos pelo Hamas. Israel descobre penosamente que não dá para viver ao lado do inferno sem sentir o calor das chamas. Os dois lados acabam dando razão a Dante.

BaCen

Desde que se descolou dos analistas do mercado, há pouco mais de um ano, o Banco Central tem acertado bem mais do que errado. Suas avaliações da conjuntura e o desenho das perspectivas macroeconômicas que elabora, base para a expressiva redução promovida nos juros básicos, têm sido, em grande medida, confirmadas pela realidade. O fato é que, acertando ou não, a autoridade monetária continua sob fogo de barragem de críticas à sua atuação. Essas críticas insistentes, que querem fazer acreditar ter havido um abandono não declarado do tripé de metas e normas no qual se assenta o modelo vigente de estabilidade monetária, não têm origem nas ambiguidades dos documentos produzidos e veiculados pelo BC sobre a evolução da conjuntura econômica e as ações de política monetária. São antes fruto de visões sedimentadas da dinâmica econômica, visivelmente desatualizadas em certos casos, que nem mesmo a comunicação mais transparente seria capaz de abalar. Mas nem por isso é possível dizer que o BC tem cumprido bem o papel crucial de indicar com clareza os alvos que persegue e os caminhos que escolhe para atingi-los. A economia global, depois da instalação da crise de 2008, tem ensejado cambalhotas conceituais que muitos estão se revelando incapazes de acompanhar. Operar economias com taxas de juros reais negativas por longos períodos, em meio a um ambiente global de baixo crescimento ou recessão, é um novo desafio para os responsáveis pelas políticas econômicas, ainda sem respostas convincentes. Assim, flexibilizar regras estabelecidas e experimentar caminhos alternativos são atitudes, mais do que aceitáveis, exigidas para momentos de transição em que as verdades conhecidas não funcionam mais como antes. Exatamente por serem inovadores, os novos movimentos de política econômica precisam ser disseminados para o público da forma mais clara possível. É aí que o nosso BC tem contribuído menos do que deveria para coordenar expectativas e reduzir o ruído num ambiente de tantas incertezas. Se a mensagem é a de que o mundo mudou, os meios usualmente usados para transmitir as mensagens também deveriam mudar. O conjunto de documentos oferecidos ao público pelo BC, dentro do sistema de metas de inflação, não passou por atualizações dignas de nota desde a sua introdução há 13 anos. A abertura da informação do voto de cada integrante do Copom foi a mudança mais relevante em mais de uma década, na qual se instalou uma crise de grandes proporções e enormes consequências. Os relatórios continuam escritos em legítimo "coponês", o idioma rococó só acessível a iniciados, característico das atas das reuniões. Referência nesse departamento, o formato dos "papers" do Federal Reserve está a anos-luz de distância do que é produzido no congênere brasileiro. Sem falar no uso de outros espaços de comunicação, como é o caso da entrevista coletiva concedida pelo presidente do Fed, logo após o encerramento, pelo menos a cada duas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), o Copom deles. Comparados com a abertura de informações das atas das reuniões do Fomc, os textos das atas do Copom parecem códigos criptografados. A propósito, na ata da última reunião do comitê americano estão expostos detalhes de um debate sobre a necessidade de ampliar o grau de abertura de informações nos seus documentos, com a divulgação de metas explícitas para um maior número de variáveis com as quais o Fed constrói seus cenáriosÉ preciso lembrar, para não cometer injustiças, que os membros do Fomc desfrutam de mandato fixo, o que não ocorre no caso dos membros do Copom. Essa diferença, institucionalmente relevante, pode explicar a distância entre o grau de abertura dos votos no Fomc e no Copom, assim como o nível de detalhamento da transcrição das discussões nas reuniões dos dois comitês. Mas não é argumento para justificar enigmas que pipocam nos relatórios do BC, caso da "estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado", como "estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear". 

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Agência da Educação


Nosso Brasil registrou, em 2011, 6.739.689 matrículas no ensino superior. O número de profissionais com título superior na economia ativa é menor do que o dobro de matrículas acima. Assim, somos um país de aproximadamente 200 milhões de habitantes, onde o somatório daqueles que ainda estudam com os que já concluíram o nível superior e estão trabalhando representa inaceitáveis 10% da população. Somos a sexta economia do mundo, mas ainda não contamos com a garantia de um crescimento social e econômico sustentável. Ao lado da certeza da abundância de nossos recursos naturais, a principal fonte de nossas incertezas recai na deficiente escolaridade, demandando urgente plano com estratégias de crescimento qualitativo e quantitativo em todos os níveis educacionais, incluindo o ensino superior. O ensino superior, além das conhecidas deficiências, tem seu quadro agravado pela insuficiência, numérica e de qualidade, dos formandos do ensino médio. O crescimento de matrículas no nível superior só será viável se, adicionalmente, promovermos o aumento do número e da qualidade de formandos do nível médio, viabilizarmos que aqueles que estão no mundo do trabalho possam ser atraídos para completarem a formação que abdicaram anteriormente. Compatibilizar estudo e trabalho é indispensável nas economias contemporâneas e as ferramentas da educação a distancia são imprescindíveis. A utilização da modalidade já responde hoje por quase 15% do total de matrículas. Adicionalmente, na modalidade presencial contribuiria estender a já prevista utilização de até 20% a distância na integralização curricular para até 40% naqueles cursos que, tendo feito uso de 20%, demonstrem comprovados resultados positivos. Ao lado de um conjunto de outras medidas similares, a mais importante do ponto de vista estrutural seria a consolidação de uma Agência Reguladora capaz de estabelecer com o Poder Público um contrato de gestão plurianual, renovável bem como denunciável, com metas claras e verificáveis de qualidade e quantidade, sendo responsável pela implementação de uma política de expansão e garantia de qualidade do ensino superior. Adicionalmente, liberaria o INEP para desempenhar as funções para as quais ele foi efetivamente criado. Uma Agência de Regulação bem desenhada poderia impor a todas as instituições educacionais o compromisso de manterem página pública contendo informações detalhadas e atualizadas sobre cada uma das disciplinas com os respectivos professores e seus currículos, salas de aula e infraestruturas disponíveis e utilizadas, demais elementos próprios de cada modalidade e metodologias empregadas, bem como número de estudantes por sala, taxas de evasão e nível de sucesso de seus formandos. Mesmo não se tratando de auto regulação, a permanente vigilância dos estudantes, via uma Ouvidoria, e das instituições concorrentes seria muito mais eficiente e eficaz do que uma pesada estrutura que subestima a utilização plena das tecnologias digitais e desconhece a premissa da confiabilidade conjugada com previsão de punição severa ao falseamento. A composição da direção deste órgão é complexa e crítica, mas viável. O Poder Público deve ter uma centralidade compartilhada com entidades setoriais afetas à área, gerando indicações de profissionais idôneos, competentes, conhecedores profundos do tema e compromissados com os planos previstos de expansão e qualidade do ensino superior. Trata-se, portanto, de um grande desafio explorar a possibilidade de uma alternativa baseada em modelos contemporâneos, operando por contratos de gestão, ágeis, eficientes e eficazes, auditáveis nas metas que se propuserem a cumprir e que não onerem ou hipertrofiem o setor público ou os demais interessados em termos de gastos, seja com pessoal ou custeio.

Provocador


É um privilégio se meter numa briga envolvendo Luciano Huck e Rafinha Bastos. É raro quando as duas partes estão erradas. Vamos aproveitar. A carta de Rafinha espinafrando Huck é realmente grosseira. Fosse comigo, tamanha a baixaria, ignorava solenemente. O polêmico escritor Oscar Wilde tinha um lema: escolha os inimigos pela inteligência; e os amigos, pela belezaSeguindo o mesmo ditado, não faria amizade com Luciano. A Angélica deve achar o marido uma fofura. Eu não. Seu bom-mocismo é tão do mal que, sintomaticamente, foi capa da revista Veja, que, todos sabemos, elege como heróis gente como Demóstenes Torres, ACM  Serra e Fernando Collor. Nem entro no mérito dele ter se recusado ao teste de bafômetro. Não fez nada de ilegal. E, como não sou hipócrita, acho essa história de tolerância zero coisa de fascista. Tomar um copo de vinho não torna ninguém um assassino em potencial. Acidentes fatais de trânsito são mais comuns, aos milhares, por conta das más condições de nossas avenidas e rodovias abandonadas pelo poder público. Um motorista deve ser severamente punido quando mata ao volante. E, se estiver alcoolizado, que isso sirva como agravante seríssima. Pessoas sóbrias também são irresponsáveis, participam de rachas e atropelam inocentes. Rafinha, novamente, faz graça onde não há nenhuma. Já pagou caro na Justiça por seu espírito rancoroso travestido de humorismo. Tem quem goste. E ele não está sozinho nessa. Na verdade, humor no Brasil virou sinônimo de excrecência, humilhação, demagogia e pistolagem. Que Luciano Huck vá procurar seus “direitos” diante do que considera uma ofensa só deixa claro o quanto ele se leva a sério demais. Sua imagem é seu patrimônio de vida, embora a use basicamente para fazer assistencialismo barato e caríssimas publicidades para quaisquer produtos, até mesmo universidades chinfrins. Isso porque o cara já é milionário. Falta pudor a todos os envolvidos. Se querem dar bom exemplo ou praticar humorismo de cangaço, eles que vão procurar cada um a sua turma. A minha está se lixando pros dois.

Lulismo

Cenários sobre o futuro do Brasil precisam se apoiar em boa interpretação dos "sentidos do lulismo," conforme a modesta expressão adotada por André Singer, professor de ciência política da USP, para título do excelente livro que coroou mais de 20 anos de pesquisas sobre o tema. O lulismo foi um "pulo do gato" consolidado por "ousadia". O pulo veio da opção preferencial por manter a ordem e driblar qualquer tipo de confronto com artilharias de capitalistas, com o objetivo de melhorar as condições de vida das camadas mais miseráveis da população, fortemente concentradas no Nordeste. A ousadia foi turbinar essa orientação sob o choque global de setembro de 2008, ao conclamar a população a "manter a confiança e comprar, arriscando-se a quebrar junto com os endividados". Os dois movimentos foram confirmados nas eleições de 2006 e 2010. Primeiro os miseráveis substituíram as camadas médias que haviam prevalecido no "lulalá" de 2002, depois essa inversão foi até aprofundada com a votação de Dilma no Nordeste. Esse ordeiro combate à miséria, essência da agenda lulista, já despontara de forma muito insipiente no segundo mandato de FHC. E só foi mesmo relançado a partir de setembro de 2003, com o descarte dos quase 2.400 "comitês gestores" do programa Fome Zero. O ordeiro combate à miséria se manterá como importante componente programático de uns dez futuros governos Daí ser das mais cativantes a descrição analítica proposta por André Singer do processo de adaptação do PT ao seu "condottiero". Um ótimo exemplo, mesmo que tardio, além de tropical, de como organizações políticas evoluem com desconcertante rapidez ao reformismo gradualista por evitarem confrontos para conseguir governar. Claro, debates infindáveis decorreriam de frágeis analogias históricas e até de alguns recursos a uma retórica só descodificável por leitores com séria formação marxista. Nada disso diminui, contudo, a extrema utilidade desse livro para exercícios especulativos sobre os desdobramentos do processo civilizador nestas paragens. Tudo indica que a agenda lulista permanecerá imprescindível para muitos dos próximos governos, sejam quais forem as oscilações eleitorais. Pois, mesmo que melhore muito a qualidade do crescimento econômico, a efetiva miséria só se tornará comparável à de país desenvolvido lá por 2030, na melhor das hipóteses. Podendo se prolongar ao menos até 2060, caso sejam abalados os fundamentos materiais do lulismo, com destaque para o predatório desempenho do bloco agromineral exportador no aproveitamento das vantagens comparativas oferecidas pela abundância de recursos naturais. O mais provável, portanto, é que o pós-lulismo, seja lá o que vier a ser, dificilmente surja antes de meados do século, a menos que seja antecipado por circunstâncias excepcionais. Tais estimativas são necessárias para enfatizar que o ordeiro combate à miséria deverá se manter como importante componente programático de uns dez futuros governos. Isto é, que o sentido fundamental das políticas públicas revigoradas a partir de setembro de 2003 continuará a ser, em caso de alternâncias, dimensão programática básica de quaisquer outras coalizões governamentais. A grande incógnita se refere ao eixo de uma agenda pós-miséria, a ser adotada quando começarem a surgir os sinais de seu arrefecimento. Talvez um foco explícito no combate às desigualdades, bem mais difícil de ser executado com dribles em setores economicamente dominantes, a começar pelos que estão fazendo a América nos mercados imobiliários, talvez até mais nos rurais que nos urbanos. Poderosos interesses patrimoniais serão ferozes obstáculos para que continuem a ser significativamente reduzidas desigualdades de renda, de acesso, e de oportunidades. Isto é, para que em algumas décadas os níveis de desigualdade do Brasil se aproximem dos de países como o Canadá, por exemplo. O pior é que, além dessas resistências do patrimonialismo tupiniquim, tudo dependerá demais de fatores que nem podem ser domesticamente controlados. Mesmo na hipótese de que uma guerra nuclear continue a ser evitada, serão inviabilizados até os melhores projetos anti-miséria, quanto mais planos para a redução das desigualdades, caso não venha a ser organizada ainda nesta década uma efetiva governança multilateral do desenvolvimento sustentável. É isso que escancara a crucial importância da política externa para a viabilização dos interesses nacionais. Se o Brasil persistir em alianças com potências das mais reticentes ao engajamento em favor da sustentabilidade, com certeza estará contribuindo para cavar sua própria cova, pois nada será mais sério contra uma plena realização do lulismo, do que a desordem global decorrente de um predomínio do negacionismo ecológico.

EaD


Ainda hoje no Brasil, os cursos online são geralmente vistos como picaretagem. As pessoas tendem a desconfiar de tudo no Brasil, com razão, e os cursos de ensino a distância (EAD) são só mais uma vítima. O grande medo é que o curso seja de baixa qualidade. Diante desse estigma, instituições de alto nível evitam entrar nesse mercado para não prejudicar a imagem da instituição. É um equilíbrio ruim, que só pode ser quebrado quando as instituições de alta qualidade entrarem nesse mercado. Acho que esse setor tem grandes possibilidades de se expandir com qualidade. A nova geração entende como a internet funciona e sabe como usá-la para adquirir conhecimento. É claro que é impossível ensinar engenharia ou medicina pela internet. Mas, acho que muitas disciplinas podem ser lecionadas via web. Vejo da seguinte forma. Se as instituições de alta qualidade conseguirem aumentar a oferta de cursos simplesmente transmitindo as aulas presenciais e propiciando acompanhamento off-line e via web, a qualidade das outras, inclusive presenciais, terá que aumentar. É simplesmente o efeito da competição. Vai demorar um tempo até o mercado entender que ensino a distância pode ser bom e a pessoa pode aprender tanto quanto nos cursos presenciais. Essa compreensão passa inicialmente por perceber que mesmo em faculdades de ensino presencial o professor pode não estar presente. Imagino que um curso como o de Administração, por exemplo, possa ter disciplinas presenciais e outras online. Cursos de extensão e de curta duração totalmente online já existem. Drexel, por exemplo, é uma das universidades pioneiras, ela tem um MBA em Sacramento (CA) que tem, além dos módulos presenciais, várias disciplinas ministradas diretamente da Philadelphia (PA). Hoje, muitas universidades de prestígio, como Harvard e Stanford, já oferecem cursos online nos EUA. Vagando pela internet descobri um post do Becker sobre o tema (AQUI). Fiquei feliz em ler que ele pensa de modo parecido. Está aí um setor que pode mudar drasticamente com as mudanças previstas para o setor de banda larga no Brasil. O EAD já vem crescendo muito, mas hoje está muito limitado pela capacidade das bandas. Um bom EAD precisa ter aulas ao vivo, com interação aluno-professor. E isso só é possível com boas conexões. Bom, fica aí um pouco do meu pensamento sobre o futuro da educação online.

terça-feira, novembro 20, 2012

O último medo

O abismo fiscal nos EUA está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo. Nos últimos 30 dias, o Dow Jones caiu mais de 6%. O Ibovespa perdeu, neste mesmo período, mais de 5%. Esse recente movimento brusco de queda das ações nas Bolsas de Valores ao redor do mundo está associado ao que se chama hoje de abismo fiscal nos Estados Unidos e que representa o último grande medo dos mercados. O ano que se encerra foi povoado por fantasmas econômicos assustadores e que levaram a uma redução dos investimentos em escala global. O colapso do euro, depois da crise política na Grécia em março passado, dominou o imaginário dos investidores por mais de seis meses. Paralelamente a isso, desenvolveu-se nos mercados a teoria de que o modelo de crescimento da China estava esgotado e que ocorreria uma recessão no país asiático, com efeitos deletérios sobre o mundo emergente. O cenário de caos estava completo, mundo rico e os emergente juntos na crise, e o medo do futuro incorporou-se na grande maioria das direções das empresas em todo o mundo. Somente com a intervenção decisiva do Banco Central Europeu uma espiral psicológica destrutiva que se criava foi interrompida e um pouco de bom senso e racionalidade voltaram a comandar as decisões econômicas nos últimos meses. Mais recentemente, a economia chinesa vem dando sinais de normalização. Mas o estrago sobre a dinâmica dos investimentos privados já estava feito, e o ano de 2012, perdido para o crescimento. Transcrevo um comentário que faz parte do último relatório da empresa de consultoria Macroeconomic Advisors sobre a economia norte-americana. "Apesar da redução das incertezas associadas à crise do euro e evidências de que a confiança do consumidor nos Estados Unidos e seus gastos melhoraram nos últimos meses, a fragilidade recente do comportamento dos investimentos privados aumentou nossos medos de que a falta de confiança entre os empresários em seus negócios vai atrasar a recuperação econômica." Essa observação pode ser aplicada a outras economias importantes, como mostram os dados mais recentes do Japão. No país do sol nascente, a economia voltou a se contrair no terceiro trimestre deste ano, principalmente em razão da redução do investimento privado. Da mesma forma, o crescimento econômico do Brasil continua a ser revisto para baixo e a redução dos investimentos privados é claramente o grande fator por trás disso. Por essa razão é que esta nova fonte de risco e incerteza, o ajuste fiscal já contratado para o início do ano que vem nos Estados Unidos, está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo e uma nova corrida aos títulos de renda fixa. Se os dois polos políticos no Congresso americano não conseguirem um acordo para refazer o programa de ajuste de longo prazo das contas fiscais, a maior economia do mundo vai sofrer um novo choque deflacionário e, certamente, entrar em um novo mergulho na recessão. Em um mundo já fragilizado pelas crises na Europa e no Japão, a recessão americana traria consequências terríveis mesmo para países que, como o Brasil e a China, têm uma demanda interna sólida. Por isso, a queda do valor das ações que está acontecendo nos quatro cantos do mundo tem uma forte razão para ocorrer. Mas devemos entender que esse comportamento do investidor global está centrado na hipótese de que não haverá acordo político no Congresso americano. Eu, particularmente, não creio nisso e tenho minhas razões objetivas para tal. Os políticos, em todo o mundo, adoram chegar perto de um abismo, seja ele político, seja econômico, mas sempre se acomodam na última hora para não cair nele. Por essa razão, apesar da irracionalidade política de parte do Partido Republicano, acredito que, no final, um acordo, mesmo que provisório, vai ser conseguido, e o abismo fiscal, evitado. E, se estiver certo, os mercados de ações vão recuperar rapidamente todas as perdas recentes.

Dragão Ortodoxo

Uma transição de liderança representa uma oportunidade para mudanças em qualquer regime. A China não constitui exceção. Mas dos 7 homens escolhidos para integrar o Comitê Permanente do Politburo, o órgão mais poderoso da China, a maioria é formada por conservadores. Dois candidatos reformistas não conseguiram ser selecionados. O único líder com histórico de gestão econômica, Wang Qishan, foi promovido. Mas, em razão de disputas políticas internas, Wang virou chefe da agência anticorrupção do partido, em vez de ser o vice-premiê executivo. As implicações são enormes. A hegemonia no Comitê Permanente dos conservadores avessos a correr riscos jogou por terra as esperanças dos liberais e empreendedores privados chineses de que a nova liderança adote medidas políticas e sociais progressistas. Com isso, podemos prever a radicalização das forças moderadas e a intensificação adicional do conflito entre Estado e sociedade. Ao mesmo tempo, a comunidade empresarial internacional vem rezando para que os novos líderes adotem medidas pró-mercado para reduzir a atuação do Estado, liberalizar mercados e descartar o capitalismo de Estado. Muitas das reformas vistas como essenciais para manter o crescimento provavelmente não farão parte da agenda desta liderança conservadora. O que preocupa a comunidade empresarial, na China e fora dela, é que a nova liderança é muito fraca em termos de gestão econômica. A única pessoa que poderia inspirar confiança, Wang Qishan, terá pouco controle sobre a política econômica. Como está previsto que a China enfrente uma séria crise nos próximos anos, provocada pelo acúmulo de dívidas impagáveis no sistema bancário, uma bolha imobiliária, a ausência de novos motores de crescimento e a enorme capacidade excedente, a nova liderança, aparentemente, não conta com talentos para administrá-la. O que o resultado da transição de liderança revela é que os governantes da China hoje estão muito mais interessados em proteger seus interesses particulares do que preocupados com o bem-estar coletivo do país. Lealdades políticas e trocas de favores estão por trás dos nomes escolhidos. A única boa notícia a sair da transição é que o presidente e chefe do partido anterior, Hu Jintao, deixou de controlar as Forças Armadas -um precedente histórico. Isso vai possibilitar que o novo líder chinês, Xi Jinping, consolide seu poder mais fácil e rapidamente. Mas, no panorama maior, esse talvez não passe de um detalhe de pouca importância. Se a orientação da liderança é conservadora, a China corre o risco de perder mais uma década de reformas.

A derrota e a renovação

O PSDB poderia ter sido bem mais competitivo na eleição de São Paulo. Bastaria que tivesse escolhido um nome desvinculado da administração Kassab. Um candidato com esse perfil ficaria livre para criticar a Prefeitura e se colocar como oposição. Fazer exatamente o que Haddad, o vitorioso, fez. Nomes com esse perfil não faltaram e se colocaram nas prévias do partido. O próprio resultado dessa consulta interna do partido já indicava as dificuldades que Serra enfrentaria. Ele venceu com pouco mais de 50%, o que revelou uma grande rejeição junto àqueles que, teoricamente, deveriam desejar ardentemente que fosse candidato. O PSDB impediu a renovação, tanto agora como em 2010. Caso Aécio Neves tivesse sido candidato a presidente naquela ocasião, agora seria um nome nacionalmente reconhecido e muito dificilmente haveria a especulação que hoje há sobre Eduardo Campos como possível candidato em 2014. A eleição em São Paulo teve o mesmo desfecho. Serra é um político em fim de carreira. FHC e outros líderes do PSDB declararam, após essa nova derrota, que o partido precisa de renovação. Levar a sério esse propósito implica não oferecer uma Secretaria de Estado para Serra. É hora de o velho político se retirar do cenário. É hora de abrir espaço para outras figuras que esperam que a fila ande. Isso premiaria a lealdade política. É algo importante, porque Serra não é leal a Alckmin, como foi possível constatar na eleição de 2008. Considerando-se a fama de bem preparado, surpreendem os erros crassos cometidos por Serra em todas as eleições nas quais foi derrotado, em particular na última eleição presidencial. Naquela oportunidade, ele era o candidato de oposição a um governo muito bem avaliado. Tudo indicava que iria perder. Mesmo assim, quis ser candidato. Não fosse esse erro, ele seria hoje um importante ator político, seria reeleito governador de São Paulo e estaria ocupando o segundo cargo mais importante do Brasil. A propósito, Serra jamais será presidente. As decisões erradas de Serra contrastam com as decisões corretas de Lula. A escolha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo não foi uma renovação em qualquer direção. Pelo contrário, Lula sabe que a cidade de São Paulo é conservadora. Por isso, sua indicação recaiu em um quadro político que se assemelhasse ao mundo tucano. Haddad é professor universitário, tem sólida formação acadêmica e foi ministro da Educação. Nada mais importante para os conservadores do que a educação. Além disso, Haddad tinha o que mostrar como gestor público durante a campanha. A principal peça de comunicação da campanha petista não foi o bilhete único mensal nem a rede Hora Certa de consultas médicas, mas o próprio candidato. Mais interessante ainda é como Lula escolhe seus objetivos políticos. Na eleição de 2010 o ex-presidente teve duas metas claras: eleger sua sucessora e aumentar o número de cadeiras do PT no Senado. Várias decisões de aliança abrindo mão de candidaturas a governos estaduais foram tomadas com a finalidade principal de conseguir maioria no Senado. Hoje, o PT tem a segunda maior bancada de Senadores. Agora em 2012, a prioridade foi vencer em São Paulo. Política é relação de poder. Não existe na política a visão cristã de que o certo vence no final e o errado é derrotado. O motivo é simples: não há um lado certo ou errado; são apenas ideologias que estão em jogo. Por isso existem as eleições. E há as circunstâncias, que são de grande importância. Muito dificilmente um candidato ligado a Kassab venceria em 2012. Ainda mais, sendo esse candidato alguém sem carisma e pouco agregador. O que Lula e seus liderados fizeram foi aproveitar as circunstâncias favoráveis a um candidato de oposição. Como diz o ditado popular, quem não arrisca não petisca. Lula sempre foi um tomador de risco. Para aqueles que prezam o empreendedorismo, cumpre reconhecer que, dos anos 1980 para cá, Lula vem sendo o maior empreendedor político do Brasil. A trajetória dele no mundo político se inicia como a maioria dos empreendedores. Lula não tinha nada a perder quando fez a transição do sindicalismo para a política. Não tinha um partido, fundou um e iniciou do zero. Foi por isso que pôde ser candidato a presidente três vezes consecutivas para só vencer na quarta. O PT ainda era um partido muito pequeno, com pouca competição interna. Agora que o PT é grande e em São Paulo há muitas estrelas, Lula decidiu assumir outro tipo de risco, o de indicar um candidato novato em eleições, um marinheiro de primeira viagem. Ele continua arriscando e empreendendo. Mudou a forma e o estilo, mas o conteúdo é o mesmo. Depois de oito anos na Presidência, Lula passou a combinar essas características de personalidade com o enorme aprendizado político que teve. Hoje, o PT conta com Dilma cuidando do governo federal e Lula cuidando de conquistar mais espaço político para seu partido. É uma óbvia vantagem sobre seus adversários. Caso o PSDB leve a sério as palavras de renovação pronunciadas por seus líderes, será bom para todo o sistema político, inclusive para o PT. Renovar hoje significa livrar-se de Serra, impedi-lo de ser candidato. É o PT que está obrigando o PSDB a se renovar. Por outro lado, uma eventual renovação do PSDB vai obrigar o PT também a se renovar ainda mais. O Brasil ganhará com isso.

Quem paga a conta???

No dia em que anunciaram a fraude do Banco Cruzeiro do Sul, anunciava-se a intervenção branca, onde a gestão passava a ser administrada pelo Banco Central, que já havia nomeado um interventor, e com a decretação do Regime de Administração Especial Temporária, mais uma crise operacional para o Fundo Garantidor de CréditoMas muito se falou sobre o assunto, que a fraude não era de R$ 1 bi, mas de R$ 3 bi, será? Acredito que tenha mais coisa a ser levantada, pois os processos de fraudes são sempre os mesmos: alteram valores da contabilidade, criam despesas para retirada de dinheiro, aumentam seus bônus com lucros inexistentes, entre outros crimes de colarinho branco. Falar de compliance, controles internos, gestão de riscos, governança e controladoria para um banco liquidado, neste momento, é jogar conversa fora. Mas, deve ser o momento de refletir, como controlar os outros que ficam, pois atualmente, segundo os dados do BaCen temos em torno de 120 Bancos de pequeno porte no Brasil. Estes Bancos sofrem com dificuldades de captação a cada crise como esta que aconteceu, ou como podemos evidenciar aqui: o Banco Santos, PanAmericano, Schahin, Matone, Morada, Oboé, Prosper e Cruzeiro do SulEntretanto, os correntistas e investidores destes Bancos, contam com a regra do FGC, que garante a devolução de até R$ 70 mil por CPF e por banco. Mas e o restante, quando poderá resgatar? Como será feito o resgate?? E se os investidores estavam com dinheiro aplicado de sua aposentadoria, até quando esperar??? Agora pergunto sobre os empregados destes Bancos, os prestadores de serviços, e o mercado que recebe um sinal ruim, fica por isso mesmo???? Como já venho falando há muito tempo é chegada a hora de mudar, profissionalizar realmente a governança corporativa, os controles internos e contábeis, a gestão de riscos e compliance, que mesmo sendo implementada por melhores práticas, deve ser exigida a cada dia pelos órgãos reguladores. Digo isso, pois a cada ano aparecem escândalos como estes, sempre acontecem do mesmo jeito, e quem sai lesada é a população que confia nas Instituições Financeiras para guardar seu rico e suado dinheiro. Afinal para que servem os Bancos? O dinheiro captado dos clientes é utilizado pelos Bancos para conceder empréstimos a outros clientes, desta forma os Bancos cobram juros e assim ajudam a circulação do dinheiro. Os Bancos são instituições essenciais à manutenção do comércio, porque além de oferecer serviços financeiros, facilitam transações de pagamento e oferecem crédito, ajudando no desenvolvimento do comércio nacional e internacional. Fica aqui a pergunta, quando eles quebram quem paga a conta?