segunda-feira, dezembro 04, 2006

Lula: bem situado

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, prestes a confirmar mais um mandato presidencial, não fala com o vizinho peruano, Alan Garcia, que não tem a simpatia do recém-eleito presidente esquerdista do Equador, Rafael Correa. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, também tem problemas com Chávez. Ao sul, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, promove uma escalada de hostilidades contra o vizinho presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez. Um único chefe de Estado na região tem reconhecimento internacional e trânsito relativamente fácil nos palácios de todos esses políticos: Luiz Inácio Lula da Silva. A inclinação do continente à esquerda com as eleições presidenciais em vários países sul-americanos tem importantes repercussões no campo comercial. Os dissabores da Petrobras na Bolívia, apontados por análises ligeiras como sinal de fraqueza e de fracasso da política externa, funcionam, ao contrário, como cacife para o governo brasileiro, que recebe sinais discretos de satisfação por parte de outras multinacionais brasileiras muito bem sucedidas em negócios na vizinhança - da Ambev à Embraer, da Odebrecht à Abimaq. A decisão de não partir para hostilidades contra o boliviano Evo Morales, porém, foi importante do ponto de vista diplomático, para garantir ao Brasil um canal de diálogo político com o governo da Bolívia, frágil como a maioria dos governos da região andina. O ministro de Hidrocarbonetos mais radicalmente hostil ao Brasil, Andrés Soliz Rada, foi ejetado do governo, e o acordo fechado pelo sucessor, Carlos Villegas, para a continuidade das operações da Petrobras na extração de gás, está longe do confisco que se chegou a ensaiar. Lula atravessou a crise com a Bolívia sem concessões reais excessivas e sem rupturas, credenciando- se a participar - e até ser o principal interlocutor - de um futuro esforço internacional de conciliação, caso se agrave a incipiente crise institucional naquele país. A longa e ríspida negociação entre Petrobras e Bolívia, além do aval concedido pelo governo para a interrupção dos investimentos antes programados pela estatal para a economia boliviana, são uma demonstração, a outros governos, especialmente ao recém-eleito presidente do Equador, de que há riscos sérios embutidos na radicalização do nacionalismo contra os interesses de empresas brasileiras.

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