segunda-feira, dezembro 18, 2006

Lula tem um exemplo a seguir

Há um mito no mundo da ciência política. Dizem que um segundo mandato é sempre pior do que o primeiro. A imagem do líder se desgasta, o Poder perde sua capacidade de iniciativa e o presidente se transforma no "pato manco". Embora seja uma daquelas teses jamais comprovadas, ela conta com algumas evidências empíricas. FHC, por exemplo, saiu-se melhor com o Plano Real, do que no governo seguinte, marcado pelo Apagão e pela estagnação econômica. Bush hoje é uma sombra do seu passado . Dito isso, nada indica que a maldição de um segundo mandato medíocre se repetirá com o presidente Lula. Ao contrário, os sinais surgidos após sua reeleição apontam na direção inversa. Um Lula 2.0, conciliador e mais experiente. E o paralelo histórico mais adequado talvez seja o de François Mitterrand, um líder socialista que também chegou ao poder após uma vitória cercada de expectativas e simbolismos. O primeiro mandato de Mitterrand teve dois componentes centrais: a sua forte coloração ideológica e o seu compromisso com os ideais da gauche française. Ainda assim, Mitterrand foi reeleito. O povo francês deu uma segunda chance a um dos seus heróis da Resistência. A diferença é que no seu segundo mandato, Mitterrand teve a sabedoria de captar os ventos da mudança. A mudança entre o primeiro e o segundo mandato foi tão profunda que seus velhos aliados passaram a chamá-lo de "mythe errant". A despeito disso, ele deixou um legado de modernidade e ainda hoje é tido pelos franceses como um de seus melhores presidentes. No Brasil de hoje, Lula é nitidamente um presidente em busca de um modelo que o inspire. Seu único compromisso é com a imagem que deixará para os livros de História. Talvez por isso, ele tenha dito que, enquanto o seu primeiro mandato foi o da "divergência", o segundo será o da "convergência". E a habilidade que Lula vem tendo para formar uma ampla coalizão no segundo mandato indica um governo mais suave, mais estável e com menos fricções. Há poucos dias, o presidente também fez uma confidência. Quer crescimento, pressente a necessidade de mudança e tenta asfaltar um ambiente político menos carregado. A única coisa que lhe falta, nessa versão 2.0, é a coragem de ousar.

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