terça-feira, janeiro 09, 2007

Política & Cia

José Dirceu tem muitas idéias. Lula sabe disso. O presidente está fingindo que não ouve Dirceu. É compreensível. Resta saber quem Lula está ouvindo para fazer o país andar.
José Dirceu acha que o país tem que botar em prática um plano nacional de desenvolvimento urbano. Muitos vão dizer que é conversa fiada. Mas quem quiser desbastar um pouco o preconceito pode enxergar aí matéria-prima mais consistente do que toda essa cantilena da aceleração do crescimento.
Dirceu é autoritário, despótico, e a medida de seus atos é, acima de tudo, sua tara pelo poder. Mas é preciso prestar atenção nas suas idéias. Uma das últimas mudou a história do Brasil. É dele a engenharia do Lulinha Paz e Aamor, da marcha do ex-operário, das alianças pragmáticas e da conversão relâmpago do PT ao Mercado. Ou seja, foi Dirceu quem tirou Lula de um lugar na política brasileira que hoje poucos se lembram. Dirceu ressuscitou Lula.
No governo, como se sabe, tudo tinha que passar por ele. Esse era o combinado: Lula faria o redentor mundo afora, e Dirceu governaria. Seu plano era acalentar o país com o fortalecimento da estabilidade. Bob Jeff atrapalhou a montagem do Império Petista, mas depois da saída de Dirceu o governo nunca mais teve cara. Agora está tentando se reinventar, mas falta-lhe personalidade. Lula se ressente da sua eminência parda.
De sua trincheira, o ex-deputado dispara muita laranjada ideológica, muita panfletagem chavista, mas mostra que continua sendo o Homem de Estado de Lula. Com a proposta, Dirceu cutuca a falta de imaginação que cerca o Presidente. E mostra que o debate sobre crescimento econômico não precisa estar condenado à monotonia dos juros.
Um programa de investimentos focados em infra-estrutura e segurança, sem explosão orçamentária nem delírio fiscal, mas com hierarquização de projetos e contrapartida clara aos investidores. Uma forma de mobilizar forças públicas e privadas, combater o custo Brasil e semear crescimento econômico real, fugindo da obsessão com a política monetária. Não é a descoberta da pólvora, mas é um ponto de partida mais interessante do que toda a literatura que tem saído.
A idéia tem três problemas: requer alguém no governo capaz de montar um grande plano de gestão, capaz de ter coragem para levá-lo adiante, e, antes de tudo, capaz de levar Zé Dirceu a sério.

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