quarta-feira, junho 22, 2011

A "Banca" não aprende

Em 2008, num ato de bravura, os americanos deixaram o banco Lehman Brothers quebrar. A justificativa adotada na época foi que não valeria a pena salvá-lo, pois bilhões seriam gastos no salvamento do banco e se criaria assim uma situação moral adversa onde a atitude de se fazer empréstimos malucos não seria punida, o que incentivaria os agentes do mercado a continuarem emprestando sem pensar. O raciocínio fazia sentido.  Porém o que não se levou em conta naquele momento foram as implicações sistêmicas de uma quebra desta magnitude. Deu no que deu. O governo dos EUA colocou o sistema financeiro americano a beira da falência. Ninguém confiava em mais ninguém. O crédito interbancário secou levando os EUA a uma recessão enorme. O déficit fiscal dos EUA explodiu o que elevou o custo para os contribuintes americanos dramaticamente. Pois bem, parece que há gente na Europa que deseja repetir o mesmo erro. Se deixarem a Grécia dar um calote em sua dívida pública, os bancos gregos quebram. Com isto o BC europeu e vários bancos europeus vão amargar perdas enormes. Mas não para aí não. No dia seguinte haverá uma corrida aos bancos portugueses e irlandeses que hoje dependem do BCE para se financiar. Isto vai elevar ainda mais o volume de grana que o BCE empresta aos bancos daqueles países com problemas, volume que chega hoje aos 400 Bilhões de Euros. Isto fará com que os títulos da dívida daqueles países afundem, levando-os também a uma situação de calote. Em pouco tempo o pânico se espalhará e atingirá os bancos espanhóis e os papéis da dívida espanhola. Isto exigiria que o BCE atue de novo, aumentando seus empréstimos aos bancos com problemas, elevando seu risco junto ao sistema financeiro a casa do Trilhão de Euros. As prováveis perdas do BCE em tais empréstimos demandariam um aporte enorme de capital por parte dos governos centrais da Europa, levando o Euro a uma queda enorme. E imagine se tal pânico chegar à Itália ou Bélgica, que também têm dívidas enormes e bancos bastante alavancados!!! A economia européia entraria em parafuso, levando junto os países do leste Europeu. Tal tsunami atingiria a Turquia também, que depende do fluxo de capital externo para financiar seu déficit externo que caminha para os 10% do PIB. A “solução” de se retirar os PIIGS da região do Euro fazendo com que estes adotem outras moedas causaria uma crise bancária na Europa de proporções enormes: a dívida dos PIIGS junto aos países centrais da Europa seria impagável após a mega desvalorização que ocorreria em suas moedas após saírem do Euro. Isto geraria perdas patrimoniais gigantescas aos bancos e poupadores alemães, franceses, suíços, suecos, holandeses e ingleses que investiram nestes países periféricos. A quebra dos bancos locais levaria as economias periféricas a um caos similar ao vivido pela Argentina em 2001. O dólar dispararia de preço, o que iria piorar ainda mais a recuperação americana ao aumentar seu déficit externo. As commodities despencariam. O crédito ficaria de novo apertado e a crise atingiria o mundo todo. Sem falar das tensões geopolíticas decorrentes de uma crise como esta, com a volta do espírito nacionalista a Europa. Tudo isto num momento que economia dos BRICS está esfriando, que o Japão ainda tenta se recuperar da tragédia recente e que economia dos EUA dá sinais de fraqueza. Para não dizer do esforço fiscal americano que deve começar em 2012, pois não dá para continuar com déficit de 10% do PIB, o que deve reduzir a atividade naquele país. Por estas razões eu acho muito difícil que não se chegue a alguma solução que evite tal crise ou que a torne pelo menos gerenciável. Acho, pois não tenho certeza. Os acontecimentos recentes são muito preocupantes. A situação política na Grécia está se deteriorando, e a pressão popular contra os ajustes necessários nos outros PIIGS também aumenta. Se não se agirem rápido, passaremos do ponto de retorno. O governo da principal liderança na Europa, a Alemanha, dá sinais erráticos sobre a maneira que pretende conduzir o processo. Sem a liderança de Merkel o gerenciamento da crise fica impossível. Estamos no momento mais delicado desde a quebra do Lehman em 2008. É hora de torcer para que os políticos da Europa tenham sabedoria.

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