terça-feira, fevereiro 01, 2011

A Casa do Povo

Na jovem democracia brasileira, a Casa do Povo que toma posse amanhã tem algumas características raras e/ou inéditas:
1) Fragmentação recorde - A Câmara terá 22 partidos representados. É o número mais elevado desde a volta do pluripartidarismo, no início da década de 80. Na Colômbia, há 12 partidos com deputados eleitos. No Chile, 8. No México, só 7. Já a exótica e em crise eterna Argentina tem 35 blocos políticos no Congresso - eleitos pelo modelo distrital, o que serve de alerta aos defensores desse sistema como panaceia para o Brasil;
2) Concentração - 8 dos 22 partidos com deputados eleitos receberam 75% dos votos para a Câmara na eleição do ano passado;
3) Nanicos - O Brasil tem hoje 27 partidos. Os 5 que não elegeram deputados tiveram, juntos, 0,6% do total de votos para a Câmara;
4) PMDB grande - Desde 1986, nunca um partido havia eleito deputados em todas as 27 unidades da Federação. No ano passado, o PMDB foi o único a repetir a façanha.
Como se observa, a democracia brasileira tem defeitos e assimetrias. O principal problema é corolário do democratismo de leis benemerentes com agremiações sem o apoio popular devido. Com o fim da ditadura, fazia sentido dar tempo de TV, dinheiro do fundo partidário e benefícios fartos a todos os novos partidos. Mas passaram-se 25 anos. Se em um quarto de século uma sigla não se estabeleceu, é lesivo à democracia manter as vantagens oferecidas. Das possíveis alterações nas regras eleitorais, duas mitigariam as mazelas nacionais: o fim das coligações para eleger deputados e a criação de uma cláusula de desempenho - só teria amplo acesso à TV a sigla com 5% ou mais dos votos. Haveria uma profilaxia no horário eleitoral. Seriam escoimados os embusteiros que há décadas vendem ideias rejeitadas pelo eleitor.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

De tanto mentir, a FOLHA perdeu a liderança


O Instituto Verificador de Circulação (IVC) fechou o seu balanço com o desempenho dos jornais brasileiros em 2010. O resultado final ficou próximo de uma leve alta de 1,5% na circulação total. A principal novidade é a perda de liderança da Folha de S. Paulo, que era o jornal de maior circulação no país desde 1986. Embora já tivesse perdido a liderança em alguns meses, em 2010 isto ocorreu pela primeira vez no consolidado de um ano. O topo do ranking do ano passado foi do Super Notícia, título popular de Belo Horizonte. Enquanto a Folha manteve estabilidade, na casa dos 294 mil exemplares por edição, o Super Notícia cresceu 2%, atingindo média de 295 mil. Entre os dez títulos líderes, a maior alta foi de O Estado de S. Paulo, que avançou 11%, chegando a 236 mil exemplares por edição. A maior quedas foi do Lance, que encolheu 24%, ficando próximo de 95 mil exemplares por edição.

Balanços

Quase todos os analistas que fizeram neste final de semana um balanço do primeiro mês do governo de Dilma Rousseff destacaram o estilo discreto da Presidente, uma gestora mais dedicada à administração, em comparação ao seu antecessor, um líder político de massas, que gostava de discursar e viajar. Era natural que assim fosse, já que Dilma e Lula têm personalidades e trajetórias de vida muito diversas. Fora isso, é como se o novo governo fosse apenas uma continuidade do anterior, não só pela manutenção de metade do ministério, mas, principalmente, por ter optado pela mesma política econômica e as mesmas prioridades na área social. Isso é bom ou ruim? Pois eu acho muito bom o Governo e a Presidente ficarem fora das manchetes, dando espaço para outros setores da sociedade e temas da vida real. Isto é um sinal de normalidade democrática. Sempre falei que tinha Brasília demais e Brasil de menos na nossa imprensa, quer dizer, muito espaço para o mundo oficial e suas autoridades. Sem entrar no mérito se esta cobertura foi positiva ou negativa no governo passado, já que há avaliações diferentes dos dois lados do balcão, o fato é que ela foi exagerada, onipresente, quase sufocante. Cheguei a comentar isso, para espanto dos meus colegas: “A meu ver, tem noticiário do governo demais no Jornal Nacional”. Em seu comentário radiofônico desta segunda, Alberto Dines reparou que os jornalistas estavam mal acostumados na cobertura do governo Lula, que dava manchete quase todo dia cada vez que falava, e ainda não descobriram como fazer para contar o que está acontecendo no governo Dilma. Sem declarações nem medidas de impacto da Presidente, o noticiário se limita às futricas do poder, sempre em busca de uma crise entre partidos aliados ou entre ministros. Como Dilma, ao contrário de Lula, foge das bolas divididas e evita polêmicas, não deve estar sendo fácil o papel de editor de política neste novo governo. Para o meu gosto e o da maioria das pessoas com quem tenho conversado, o governo Dilma começou muito bem!

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Contra a tradição da história

Apesar de ainda não confirmada oficialmente, a possível candidatura do atual presidente do São Paulo Futebol Clube Juvenal Juvêncio a um novo mandato, e sua vitória na disputa, é praticamente dada como certa nos bastidores políticos do clube. Contudo, caso a decisão seja confirmada, irá contra uma história de alternância na presidência que já dura mais de quarenta anos. JJ já está há cinco anos no comando do São Paulo e, com um novo mandato até 2014, chegaria a oito, tornando-se o terceiro dirigente a permanecer mais tempo no cargo - isso considerando apenas o atual momento, sem contar seu primeiro mandato, entre 1988 e 1990. E quebraria uma tradição: desde 1971 ninguém fica mais de cinco anos na presidência do clube. O último a superar tal marca foi o Governador de São Paulo Laudo Natel. Principal responsável pela construção do estádio do Morumbi ao lado de Cícero Pompeu de Toledo, Natel também é o recordista de anos à frente do São Paulo, ficando por 13 temporadas como presidente, entre 1958 e 1971. Toledo, que o precedeu, é o segundo colocado, com nove anos, entre 1948 e 1957. Com as exceções dos presidentes que dominaram os anos 50 e 60, o São Paulo teve apenas outros dois presidentes que ficaram por cinco anos, como Juvenal: Edgard de Sousa (primeiro mandatário e Henri Couri Aidar. Todos os outros ficaram no cargo por períodos de quatro anos ou menos. É verdade que Cícero Pompeu de Toledo e Laudo Natel se tornaram dois dos mais importantes presidentes da história são-paulina. Afinal, o primeiro foi o responsável por dar início às obras do Morumbi (e inclusive dá o nome ao estádio), enquanto o segundo levou a construção até o final. Mas também é verdade que o período de seus mandatos (48-71) foi de vacas magras em termos de títulos, com as conquistas de apenas 6 Campeonatos Paulistas. Nos 75 anos do São Paulo, parece inclusive existir uma relação entre duração do mandato e conquista de títulos. Os dois períodos mais vitoriosos do clube aconteceram sob o comando de presidentes que ficaram quatro anos no cargo. Entre 1990 e 1994, José Eduardo Mesquita Pimenta conquistou dois mundiais, duas Libertadores, duas Recopas Sul-Americanas, uma Supercopa, um Brasileirão e dois Paulistas. E entre 2002 e 2006, Marcelo Portugal Gouvêa levou o clube a um Mundial, uma Libertadores, um Brasileiro e um Paulista. Resultados esportivos à parte, o fato é que a extensão do mandato de Juvenal também contraria o movimento recente dos principais clubes de São Paulo em busca de alternância política. O Palmeiras, depois de 12 anos com Mustafá Contursi, já teve Affonso Della Mônica e Luiz Gonzaga Belluzo como presidentes desde 2005. E o Corinthians, após 14 anos de Alberto Dualib, está com Andrés Sanchez no poder desde 2007 e terá um novo presidente eleito em dezembro.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Cápsula da Cultura

O Cisne

Há anos em que a América Latina está em baixa no Fórum Econômico de Davos, e outros, como agora, em que o patinho feio vira cisne. Basta ver que ontem a sala onde se realizou um debate sobre a situação da região ficou lotada, com gente de pé. Os anos críticos têm sido mais frequentes, mas certamente há muito tempo não se tem tanta boa vontade com a região, e em especial com o Brasil. Se considerarmos que houve ano em que sugeriram que fosse retirado o B dos BRICS, pois o Brasil não conseguia crescer no mesmo ritmo dos demais emergentes, a percepção hoje é totalmente diferente. Há, sobretudo, o espanto pelo fato de o país ter conseguido crescer e ao mesmo tempo distribuir renda, o que foi destacado por Moisés Naím, editor da revista Foreign Policy, numa mesa redonda sobre a América Latina. Embora a redução da desigualdade tenha sido questionada, já que ela aconteceu entre os salários e não na relação salários-ganhos de capital, Naím destacou que a redução do Índice de Gini mostra que a desigualdade foi realmente reduzida nos últimos anos. A melhoria do Gini havia sido citada por Ricardo Villela Marino, CEO do Itaú Unibanco, como um dos muitos sinais de avanço na economia brasileira. Moisés Naím, aliás, destacou outras economias que chamou de “estrelas conhecidas”, como o Chile, mas também algumas “surpresas”, como Colômbia, Peru, Uruguai, Panamá e Costa Rica. Houve um consenso, resumido por Enrique Iglesias, ex-presidente do BID: "nunca a região foi tão democrática quanto hoje, e nunca esteve tão bem situada economicamente, o que faz com que seja previsível uma década de crescimento pela frente". Sintomaticamente, os problemas existentes, como a alta da inflação e a questão fiscal, foram citados apenas de passagem, ficando claro que não há nenhum temor de que os países da América Latina que aprenderam a lição das crises permanentes anteriores venham a perder o controle fiscal. Mais uma vez o que foi destacado por todos, mas bem definido por Marino, foi que os países da região, mais especificamente o Brasil, precisam cuidar de seus pontos fracos: investimentos em infraestrutura e, sobretudo, em educaçãoMas nem tudo é festa na região. A parte negativa ficou para a Venezuela e os países da chamada Aliança Bolivariana (Alba), como Equador ou Bolívia. Naím, venezuelano radicado nos Estados Unidos, definiu o socialismo do século XXI de Hugo Chávez como uma “ideologia necrófila” — “Nunca vi gostar tanto de ideias más e mortas”, comentou. Um relato sobre a situação econômica da Venezuela nos dias atuais mostrou um país com a inflação descontrolada, com desemprego crescente e um aumento da pobreza extrema, que já não pode ser solucionada por programas assistencialistas, mesmo porque o governo já não tem condições econômicas de sustentá-los. O presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, presente ao debate como assistente, quis saber quais as chances de a oposição vencer a próxima eleição e disse que a situação da Venezuela provocava nele sentimentos “de satisfação e tristeza”. Satisfação porque, sempre que a crise piora, seu país recebe investimentos de empresários venezuelanos que lá buscam refúgio para si e seus negócios. E tristeza porque esta não é a maneira ideal de melhorar, às custas de problemas de outros. Soube que há uma chance real de que, na eleição presidencial de 2012, a oposição derrote Chávez, que já está há doze anos no governo e ampliou seus poderes aproveitando-se de uma decisão errada da oposição de não participar das eleições congressuais anos atrás. Nas recentes eleições, a oposição teve 52% dos votos, mas só elegeu minoria de congressistas devido às regras eleitorais venezuelanas. A questão é saber se a oposição conseguirá se unir em torno de uma candidatura para combater Chávez. Mas até mesmo a Bolívia recebeu de Iglesias análise de boa vontade. Ele disse que o resultado da eleição do indígena Evo Morales para a Presidência do país foi importante para integrar uma parte da sua cidadania, e que os resultados têm sido melhores do que se poderia esperar. O que chamou a atenção de Naím foi o fato de nenhum dos painelistas ter se referido à situação da Argentina, nem para criticar nem para elogiar: “Isto certamente não é um bom sinal”. O comentário final foi sobre a perspectiva de Dilma Rousseff como presidente do Brasil, na sucessão de Lula. Naím foi enfático ao afirmar que considera a nova presidente capaz de dar continuidade com sucesso aos programas de governo, mas reafirmou sua crítica à posição brasileira na política externa durante o governo Lula, “que nunca se pronunciou sobre os ataques à democracia que ocorrem na Venezuela. Espero que a presidente Dilma seja capaz de reverter essa situação”. No programa oficial do Fórum Econômico Mundial há uma advertência: até o momento em que esse programa foi para a impressão, todas as pessoas que participam e todas as sessões estavam confirmadas. Mas o desenrolar dos acontecimentos é de tal ordem que pode haver algumas modificações. Foi o que aconteceu com a fala de abertura do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. No primeiro momento ela foi cancelada, devido aos atentados terroristas no aeroporto de Moscou, para depois ser confirmada, embora a permanência de Medvedev em Davos tenha sido drasticamente encurtada.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Espanha

Através dos meios de comunicação e conversando com acadêmicos e militantes sindicais, pude constatar o tamanho do buraco onde a Espanha esta metida através das “aventuras” da banca oficial jogando e apostando nos capitais de risco. A solução que vem da Comissão Econômica da União Européia e do FMI não é boa para a maior parte do povo que habita a Península. A receita implicaria em aumentar a idade mínima para a aposentadoria; diminuir a ajuda do seguro-desemprego; enxugamento da máquina pública em todos os níveis, com especial atenção para a redução dos orçamentos dos governos sub-nacionais, mirando nos gastos e endividamento das autonomias, batendo duro naquelas com pretensões nacionalistas como Catalunha, País Basco e Galícia; tudo isto sem falar em medidas privatizadoras e os acordos coletivos para a redução de salários. Esta última já ocorreu em Portugal, com os salários de servidores públicos reduzindo-se em 10%, sendo aprovada goela abaixo da classe trabalhadora e sem uma resposta a altura. A festa acabou e quem irá apagar as luzes será o segundo governo de Zapatero, primeiro ministro do PSOE – um partido outrora social-democrata, mas no momento, quando muito, um síndico dos desígnios da União Européia. As correlações de forças são relativamente simples de descrever. Alemanha e França põem no caixa comum da UE os fundos mais substanciais. Na Espanha em particular bancaram a festa do crescimento e da distribuição de renda – direta e indireta - num ciclo expansivo que tem como ano zero 1992 – Olimpíadas de Barcelona – e não sendo mais interrompido até o final do inverno de 2009. Segundo Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, o Estado Espanhol demorou a reconhecer os problemas e tardou mais ainda em começar a apertar o cinto de suas contas públicas. Aquilo que aparece como “crise” é de fato o reflexo da maior transferência de renda da história da humanidade, saindo do pagador de última de instância e indo tapar o buraco dos bancos com pouca liquidez. O dinheiro que jorrava para gastos de todos os tipos, alimentando a bolha imobiliária, endividou a população e elevou as margens de lucro de bancos e empreiteiras a níveis inimagináveis. Agora, a “solução” apresentada como luz no fim do túnel é recessão, conformidade com o desemprego e aumento da precariedade no mundo do trabalho. A tensão social vai recomeçar.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Todo apoio a Graziano na FAO


Merece integral e irrestrito apoio a candidatura de José Graziano da Silva à direção-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
O professor Graziano trabalhou no programa Fome Zero e, há quatro anos, dirige o escritório latino-americano da FAO.

Quase nada

Costumo usar um microscópio apontado para o que está escondido debaixo do tapete. Desta vez, troco-o pelo telescópio, que mostra um Brasil visto de longe, ao largo das imperfeições do cotidiano. O que revela essa imagem? Faz um século, não éramos quase nada. Um país formado de índios na Idade da Pedra, africanos na Idade do Bronze, e colonizado pela nação mais arrasada da Europa Ocidental. Os dois primeiros não possuíam escrita. Em 1900, Portugal tinha a mesma taxa de alfabetização (15%) que a Europa antes de Gutenberg. Os imigrantes da Europa Central fizeram diferença. Mas não foram tantos assim. Os visitantes descreveram o nosso arraso social. Segundo Darwin, “nossos anfitriões têm maneiras deselegantes e desagradáveis; as pessoas e as casas são imundas”. Para Eschwege: os mineiros não fazem uma caminhada de meia hora para ver e aprender alguma coisa”. Em 1900, o Rio de Janeiro estava proscrito para estrangeiros, pela sua insalubridade. A esperança de vida andava por volta de 30 anos, a mesma da Europa na Idade Média. Entramos no século XX com renda per capita menor que a do Peru e cinco vezes menor que a da Argentina e com nossas revistas escritas e impressas na Europa. Mas a economia disparou. Entre 1870 e 1987, nosso PIB cresceu 157 vezes, comparado com 84 vezes para o Japão e 53 vezes para os Estados Unidos. Ou seja, por mais de um século lideramos o crescimento mundial. Por volta da II Guerra Mundial, importávamos palitos, sapatos, biscoito, lápis, manteiga, banha, cerveja, tecidos e roupas. O salto econômico foi enorme. Viramos um país industrializado, ficamos à frente da Alemanha em produção de automóveis, liderando em fabricação de ônibus e sendo o terceiro maior produtor de aviões comerciais. Trocamos uma agricultura semi-feudal por um agronegócio de forte base tecnológica, apoiado em pesquisa de primeira linha. Em 1950, não publicávamos artigos científicos no exterior. Hoje, chegamos à 13ª posição mundial. A revolução do Etanol tem como epicentro a região de Ribeirão Preto, que, em 1932, Peter Fleming assim descreveu: “Os escassos povoados davam a aparência de pobreza, estagnação e de serem incapazes de esperanças ou desesperos”. Os indicadores sociais subiram vertiginosamente. Esperança de vida, posse de bens duráveis, tudo cresceu, e não foi pouco. Os retardatários são distribuição de renda, criminalidade e esgoto tratado. Também o mau uso do meio ambiente. Embora os números da educação sejam péssimos, nossa irritação presente nos cega para os avanços obtidos. Em 1900, por volta de 90% da população não sabia ler. Nessa época, Uruguai e Argentina já tinham uma sólida rede escolar pública. Agora, praticamente todos os brasileiros (de 7 a 14 anos) estudam. Faz pouco, Paraguai e Peru tinham estatísticas de escolaridade superiores às do Brasil. Hoje, chegamos bem perto dos melhores latinos. Falta muito, mas melhorouNo plano social e político, vamos bem – pelo menos nas comparações. Temos uma sociedade heterogênea, mas culturalmente integrada e com forte sentido de identidade e nação. Exibimos uma invejável tradição de paz social e tolerância. Nossa democracia dá uns espirros, mas tem boa saúde. Também não há problemas com vizinhos e fronteiras. Os otimistas aplaudirão. Os pessimistas acharão pouco. Talvez algumas comparações sejam esclarecedoras. No nosso canto do mundo, a Argentina brilhou no passado, mas perdeu o fôlego. O Chile vai bem, mas em 1895 já tinha 38% de alfabetização, quatro vezes a do Brasil de então. E pelo mundo afora? Não há nada para invejarmos na África ou no mundo árabe. Para chegar aonde está, a Europa levou 2 000 anos. Mesmo assim, vários países ficaram para trás (como Grécia e Turquia). Brilham as sociedades de etnia chinesa. Mas, como comparar, se têm 3 000 anos de tradição e tiveram altíssimo nível de desenvolvimento no passado? Por exemplo, a Coreia desenhou o próprio alfabeto no século XV e fundou sua academia de ciências no XVIII. E a Índia, ainda mais heterogênea? Comparar com os sucessos das cidades high-tech ou com a miséria e o sistema de castas? O milagre brasileiro é ter avançado tanto, apesar da origem vira-lata do país e dos escandalosos descompassos do presente.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Cápsula da Cultura

Mais uma irresponsabilidade


Na última semana,  Franco da Rocha, a 45 quilômetros da capital paulista, “ganhou” o noticiário nacional. Na quarta-feira, 12,  amanheceu inundada, inclusive a Prefeitura. Em certos lugares, a água subiu 2 metros. A população de 120 mil habitantes ficou ilhada. Sábado, 16 de janeiro, os moradores começaram a voltar para casa. A remoer-lhes esta dúvida: A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) agiu corretamente ao abrir as comportas? “Por telefone, no dia 11 [terça-feira], a Defesa Civil de Franco da Rocha foi comunicada que no dia seguinte [12, quarta-feira] a Sabesp iria abrir as comportas da represa Paiva Castro e liberar 15 metros cúbicos por segundo [15m³/s]”, diz João Cruz, assessor de imprensa da Prefeitura do município. “Nada mais foi dito.” Para o Governador Geraldo Alckmin (PSDB), a Sabesp acertou ao abrir as comportas da represa Paiva Castro. Será? A Sabesp teria agido no momento adequado?