sexta-feira, agosto 04, 2006

Crise? Que crise?

A mídia não trata com espanto ou alarde, como faz com o MST, o sistemático bloqueio de rodovias que vem sendo promovido por entidades ligadas ao agronegócio. O objetivo dos protestos é a obtenção de mais uma renegociação da dívida agrícola. Vilões do desmatamento e da degradação ambiental, os grandes produtores de soja foram os mais afetados com a retração do setor agrícola. Os problemas climáticos, associados às boas safras conseguidas pelos EUA e à desvalorização do dólar, segundo a CNA, fizeram com que o setor tivesse queda de desempenho em produtividade e vendas. O governo já liberou R$ 1 BI, a título excepcional, para apoiar a comercialização da soja, mas a quantia não está sendo considerada suficiente pelos produtores. Os grandes produtores querem a rolagem de suas dívidas. A estimativa da CNA é que o montante da dívida que o setor pretende alongar se aproxima dos R$ 13 BI. Recentemente os produtores de grãos já conseguiram do governo a renegociação de R$ 7,7 BI, mas, a julgar pela insistência nos bloqueios de estrada, querem pressionar o governo a renegociar uma parte maior da dívida atual. Para os R$ 13 BI, a CNA sugere pagamento em 25 parcelas anuais, a partir de outubro de 2007, com encargos financeiros prefixados de 3% aa., ou seja, 1% a menos que os juros cobrados no PRONAF. Estima-se que cerca de 70% dos beneficiados com a rolagem das dívidas sejam sojicultores. Além disso, o setor é freguês a longo tempo dos programas governamentais de refinanciamento, como o Securitização e o PESA, onde as dívidas são manejadas e quase nunca são pagas de verdade. Os grandes produtores sempre recorrem ao governo na hora de socializar os prejuízos, mas preferem privatizar os momentos de bonança, como o ocorrido entre 2002 a 2004, quando as exportações cresceram R$ 42 BI e o PIB da agropecuária, R$ 55 BI. Planejamento não faz parte da cartilha dos produtores de soja do Brasil. Sempre que a coisa aperta, eles podem contar com o governo. Enquanto isso, a dívida dos pequenos agricultores é pequena - algo em torno de R$ 2 BI - e espera-se que seja tratada com a mesma benevolência. Será que o governo vai mudar no segundo mandato de Lula?

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