segunda-feira, setembro 25, 2006

Na reta final

Pretendia escrever sobre as discrepâncias entre as pesquisas do Ibope e do Datafolha. Mas mudei de idéia ao ler matéria publicada no Estadão sob o título “Rigor com a corrupção na política varia com região e condição social”. É candidata ao primeiro lugar da campanha “Vamos envenenar este País” em curso em muitos jornalões brasileiros. Jogando com números de uma pesquisa do Ibope que não prova nada, a matéria tenta sustentar a tese de que os nordestinos, os pobres e os negros dão menor valor à questão ética do que os habitantes do “Sul Maravilha”. Diz o Estadão: “No Nordeste, 10% dos eleitores declaram que votariam em político acusado de corrupção. No Sul e no Sudeste, esses índices são de 7%”. Na realidade, as variações são mínimas, dentro da margem de erro e não indicam absolutamente nada. Aliás, se alguma coisa pode se depreender desses números é que, na valoração da questão ética, há um padrão homogêneo nas diferentes regiões – e não o contrário. Mas há mais. O Estadão avalia também que a pesquisa permite estabelecer relação entre cor e rigor moral. A idéia que se passa é de que, quanto mais escura for à cor da pele, maior será a frouxidão com valores éticos. Tenha a santa paciência. Alguém quer provar, sabe-se lá por que, que o povão não “está nem aí” para a corrupção e que nossa elite tem padrões morais dignos de Catão. Mais um pouco e descobriremos que os pobres, os nordestinos e os negros são os responsáveis pela corrupção, que os ricos não têm nada a ver com isso, que em São Paulo nunca se pagou nem se recebeu propina e que os brancos sempre repeliram com veemência a idéia de pagar ou de levar um “por fora”. Mas tem gente pegando pesado demais nessa eleição. Como dizem os jovens: “menos, gente, menos”. É muito fácil envenenar um País, e muito difícil desintoxicá-lo depois. É como o adolescente que cai na droga. Para entrar na onda, bastam semanas. Para sair dela são necessários anos.

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