terça-feira, novembro 08, 2011

Do vício à virtude

Uma das origens admitidas da palavra hipocrisia era a prática dos atores na Grécia de representarem um papel atrás de uma máscara. A definição descreve perfeitamente o papel desempenhado por Fernando Henrique Cardoso, no artigo que publica nos jornais. Ele diz que “agora, os partidos exigem ministérios e postos administrativos para obterem recursos que permitam sua expansão, atraindo militantes e apoios com as benesses que extraem do Estado”. “É sob essa condição que dão votos ao governo no Congresso. O que era episódico se tornou um “sistema”, o que era desvio individual de conduta se tornou prática aceita para garantir a “governabilidade”. Bem, não foge o senhor Fernando Henrique da comuníssima tendência humana de julgar os fatos e pessoas segundo suas próprias experiências e natureza íntima. FHC, que chegou ao Planalto embalado no “critério Ricupero” de transparência republicana – “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde” – teve uma trajetória no poder onde não faltaram experiências nas quais os “desvios de conduta” foram elemento essencial “para garantir a governabilidade”. Do ponto de vista da moralidade pública, o marco inicial do Governo FHC já se deu menos de três semanas após sua posse, quando, no dia 19 de janeiro, baixou decreto extinguindo a Comissão Especial de Investigação criada pouco mais de um ano antes por Itamar Franco, na esteira das repercussões das denúncias – aliás, falsas – contra o então ministro da Casa Civil Henrique Heargraves. FHC só em 2001, e sob a ameaça de criação de uma CPI da Corrupção, criaria, em seu lugar, a Corregedoria Geral da Uniãoentão um apenso do seu gabinete, que só ganharia o status de ministério por ato de Lula, no seu primeiro dia de mandato. Como os leitores deste blog não têm tempo a desperdiçar e possuem boa memória, basta listar: Sivam, BC-Cacciola- Francisco Lopes, compra de votos para a reeleição, os precatórios do DNER, os “grampos” da privatização da Vale (“limite da responsabilidade”), os telefonemas entre Eduardo Jorge e o juiz Nicolau “Lalau”, as irregularidades com o seu filho no caso do pavilhão brasileiro da festa dos 500 anos do descobrimento, em Hannover… Chega, né, porque não se deve passar o tempo remoendo estas coisas… Aliás, FHC deveria se lembrar que o então presidente de seu partido, Teotônio Vilela Filho, presidia uma ONG envolvida no  desvio de verbas do FATNo seu artigo, FHC diz que “os dossiês da mídia devem estar repletos de denúncias”. Sempre estão e tudo deve ser apurado. Coisa que ele não fez e agora se faz.  Basta ver quem eram e como agiam o Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, e o Advogado Geral da União, Gilmar Mendes. Mas, como dizia o Conde de La  Rochefoucauld, o comportamento hipócrita quase sempre é o tributo que o vício rende à virtude.

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