Percebo que existe uma grande  confusão entre globalização e internacionalização, mesmo para experientes  observadores das relações internacionais e do mercado financeiro. Muitos confundem globalização com fluxo de investimentos e abertura da  economia. Creem que se mede uma economia globalizada por tais vetores. Deixam de considerar que globalização é, sobretudo, a intensificação das  relações sociais além das fronteiras geográficas. O que envolve não apenas  economia, mas pessoas, hábitos, costumes e culturas. A globalização representa muito mais do que investimentos diretos e  especulativos em determinado país. Até mesmo porque tais investimentos podem não  significar que o país seja verdadeiramente globalizado. O Brasil é, no campo da  globalização, paradoxal. Altamente globalizado, mas com uma economia pouco internacionalizada. É  evidente que os aspectos econômicos da globalização aprofundaram a inserção do Brasil nas relações econômicas mundiais. Vamos considerar, para efeito de nossos argumentos, o processo de abertura de  nossa economia a partir do final dos anos 80, quando basicamente, três aspectos foram tratados. No mercado de capitais, já no governo Sarney, ocorreram  alguns movimentos com a edição da Resolução do CMN nº 1.289/87. Collor aprofundou tais movimentos. O segundo aspecto refere-se à redução das  barreiras tarifárias. O terceiro, ao estímulo maior ao investimento estrangeiro. Em 1990, o Brasil recebeu US$ 4 bilhões em investimentos diretos  estrangeiros. Em 2000, chegamos a US$ 33 bilhões. Em 2010, o montante superou  US$ 49 bilhões. Este ano, os investimentos  estrangeiros diretos no Brasil já acumulam US$ 51 bilhões, o maior valor desde 1947, segundo o Banco Central. Em 2005, cerca de 34% do PIB era composto por empresas com algum tipo de participação  estrangeira em sua composição acionária. Já 25% do PIB eram constituídos por empresas com capital majoritariamente  estrangeiro. Embora os números sejam extraordinários, o Brasil continua sendo um  país pouco internacionalizado. Nosso comércio internacional representa menos de  3% do comércio mundial. O impacto do comércio exterior no PIB é inferior a  20%. Apesar da relevância das empresas multinacionais no Brasil, seu papel na  economia não é central. Ainda viajamos pouco para o exterior e recebemos poucos  turistas, em comparação a outros destinos. Paradoxalmente à baixa internacionalização do país, que apenas recentemente  se descobriu sul-americano, somos um país altamente globalizado no que tange à  cultura e às comunicações. Somos o quinto país em termos de acesso à internet,  com mais de 80 milhões de usuários. O Brasil tem mais celulares do que  habitantes. Na esteira das comunicações, nossos costumes e hábitos são influenciados  pelos modismos e tendências de fora. Na prática, ainda estamos na adolescência  da globalização e na infância da internacionalização de nosso país.
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