sexta-feira, novembro 18, 2011

Visões Diferentes

Em sua essência Banqueiros são conservadores . Eles sabem que a maré sempre pode mudar. Quando as coisas vão bem, nada garante que não possam piorar. E quando as coisas vão mal, é muito provável que voltem a melhorar. E os banqueiros brasileiros são os melhores do mundo.  Sobreviveram a globalização, a hiperinflação e ao confisco do Collor. Logo, eles sabem o que fazem. Para enfrentar os ciclos econômicos naturais do capitalismo, os bancos fazem provisões para perdas futuras de crédito ou calotes. Uma parte do lucro apurado trimestre a trimestre é guardado para cobrir eventuais perdas futuras com créditos que não serão pagos, ou seja, para cobrir os calotes futuros. Assim, quando ocorrerem as perdas com créditos problemáticos, os resultados serão pouco afetados, pois há um colchão, uma provisão para cobrir tais perdas, que fora construída durante o período de vacas gordas. O BC exige um nível mínimo de provisionamento, porém vários bancos adotam modelos internos que demandam provisões ainda maioresA arte está em definir quanto de colchão será necessário ter para se enfrentar o próximo ciclo de problemas de crédito que inevitavelmente ocorrerá. Como ninguém sabe prever exatamente quando e quão severo será tal ciclo negativo, cabe aos banqueiros usarem sua experiência para estimar o montante de reservas necessárias para tal evento. Cada banco tem um modelo próprio para calcular o volume de provisões necessárias com base em sua experiência histórica, nas características de sua carteira de crédito e nas perspectivas para a economia.  Se um banco provisiona em excesso no tempo das vacas gordas, aumenta demais o custo do crédito concedido e se torna pouco competitivo. Se provisionar pouco, sofre ataques em crises, como a que aconteceu nos EUA em 2008 e está ocorrendo hoje com os bancos na Europa. Para os investidores em ações de bancos esta flutuação do nível de provisionamento é extremamente importante para se avaliar o nível de retorno sustentável daquela instituiçãoUma maneira de se medir o tamanho dos colchões de cada banco é calcular a relação entre o volume de provisões e o montante de créditos com mais de 90 dias em atraso. É o chamado índice de cobertura. Este número simplesmente quer dizer que, na visão deste banco, é preciso manter, em determinado momento, um volume tal de provisões que permita que este absorva perdas em cenários de estresse sem afetar sua saúde e sua percepção de risco pelos depositantes. Neste aspecto podemos dizer que os grandes bancos brasileiros são mestres, e graças às elevadas margens de lucro, eles podem manter níveis de provisionamento bastante elevados. Esta é a razão que os grandes bancos brasileiros estarem hoje entre os mais sólidos e rentáveis do mundo. Além disto, o seu nível de capitalização é bem mais elevado do que o praticado na Europa ou nos EUA. Nunca os nossos bancos ganharam tanto e estiveram tão fortes. É importante frisar que o fato de um banco ter um índice de cobertura superior ao de outro banco não quer dizer que aquele seja mais seguro; diferenças na qualidade dos ativos, nas garantias dos empréstimos, na velocidade de crescimento das diversas carteiras de cada banco e em sua composição por setores, podem exigir mais ou menos provisões. Logo, não dá para comparar os números de provisões entre os bancos. Bancos que historicamente tem perdas baixas por serem mais conservadores na concessão de empréstimos precisam provisionar menos e vice versa. Logo, não dá para avaliar a solidez de um banco com base apenas em seu nível de provisionamento, sem levar em conta a qualidade de sua carteira de crédito, as garantias dos créditos e a eficiência de seu processo de cobrança de créditos inadimplentes. A saúde dos grandes bancos no Brasil, a sua segurança e seu nível de provisionamento tem se provado extremamente elevados, tendo sobrevivido com louvor à enorme volatilidade dos ciclos econômicos que vivemos nas últimas décadas. Porém é interessante analisar a evolução dos índices de cobertura de alguns bancos no tempo, isto é, suas variações ao longo do tempo, pois tal tendência pode dar sinalizações interessantes sobre as expectativas de perdas de crédito por parte dos diversos bancos e sinais sobre o que tais bancos esperam com relação ao momento do ciclo em que nos encontramos. O que importa não é o nível de seu provisionamento mas sim como este nível tem flutuado vs. seu comportamento histórico. O gráfico abaixo foi fornecido por um amigo que é analista de bancos. Ele mostra a evolução trimestral do índice de cobertura para o Itaú, Bradesco e BB desde o segundo trimestre de 2008:
Notamos que tais índices evoluíram de forma bem diferente:
A. Marcado em amarelo: em 2008 o BB chegou à crise com mais reservas. O Bradesco permaneceu com seu volume de provisões inalterado até começo de 2009. O Itaú chegou à crise com um volume de provisões menores e teve que subi-las durante a crise. Durante os primeiros meses de 2009, tanto BB como Itaú reduziram suas reservas, ou seja, aproveitaram suas reservas para absorver o impacto da crise. Bradesco permaneceu mais estável. Vemos assim que o nível de provisionamento de cada banco foi suficiente para aguentar um tranco como aquele que vivemos em 2008 e 2009 sem afetar sua rentabilidade. Logo, provamos que o que importa não é o nível, mas sim sua tendência!
B. Marcado em marrom: conforme a crise ia acabando, os três bancos foram recompondo suas provisões, aproveitando os bons ventos de 2010.
C. Marcado em vermelho: os três bancos têm adotado uma postura bastante diferente desde o início de 2011: O BB continuou a acumular provisões como se preparando para uma crise em 2012. O Bradesco estabilizou suas provisões em nível acima daquele que havia em 2008, porém não as reduziu, dentro de seu comportamento de manter o nível de provisionamento estável ao longo dos ciclos. Já o Itaú vem diminuindo suas provisões, provisões que estão hoje próximas aos menores níveis desde o início de 2008.
Surgem aqui algumas dúvidas:
Será que o BB está bastante pessimista com economia? Ou será que o mix de seus ativos mudou de 2009 para cá, o que demanda mais provisões? Ou será que a carteira de crédito do BB é mais sensível aos ciclos econômicos que a carteira dos bancos privados? Será que o Bradesco acredita que daqui para frente será preciso manter mais provisões de forma sustentada dada a elevação do endividamento em nossa economia? Ou será que ele está prevendo um aumento nas perdas em 2012? Ou será que o Itaú acredita que os ciclos econômicos daqui para frente serão menos intensos e que a economia em 2012 deve andar bem, e, portanto o volume de provisões necessárias é menor? Ou será que o modelo do Itaú leva em conta que os spreads bancários sobem durante as crises o que o permitirá aumentar provisões no momento de crise sem afetar sua rentabilidade? Ou será que as diferenças de risco de crédito nas carteiras dos bancos tenham mudado bastante ao longo dos últimos três anos, de forma a justificar as diferentes trajetórias?
Enfim, é difícil responder a estas perguntas sem olhar cada banco com mais detalhesPorém os gráficos mostram trajetórias bastante diferentes… Se você tem ou pretende investir em ações de bancos sugiro que faça estas perguntas…

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