sexta-feira, dezembro 09, 2011

Fundamentos da Política Econômica

Após ter enfrentado com sucesso o auge da crise dos mercados financeiros, dosando a derrapagem e a velocidade do crescimento quando uma boa parte da economia mundial atolava, o Brasil aparentemente está bem preparado para uma nova fase de desaquecimento. Não podemos esperar que nossa economia permanecerá todo o tempo imune aos efeitos da redução dos níveis da atividade no comércio internacional, da produção industrial e tudo o mais que envolve a circulação e o consumo de bens. Isso tudo numa situação complicada pela rigidez dos índices de desemprego nos Estados Unidos e na Eurolândia e a confirmação da “puxada de freio” do gigante chinês. É inegável, contudo, que temos alguns trunfos importantes que nos ajudarão a continuar crescendo em meio à desaceleração global, embora num ritmo menos robusto, mas que não será menor que 3%. Acredito que poderemos amortecer uma boa parte dos efeitos negativos que já se estão produzindo na economia mundial, já que nossa participação no comércio externo ainda é pequena em relação ao PIB, a exportação de produtos manufaturados é bastante reduzida, temos um superávit comercial robusto, uma substancial reserva cambial, que se mantém acima de 300 bilhões de dólares, o déficit fiscal é pequeno e o endividamento público é baixo. A grande lição que já podemos extrair dessa sequência de crises, que a cada semana nos reserva uma surpresa desagradável, aumentando a volatilidade dos mercados financeiros, é que um sólido equilíbrio fiscal de longo prazo e uma apropriada relação Dívida Líquida/PIB são os fundamentos do sucesso de uma boa governança. A percepção desses fundamentos é que dá aos governos a capacidade de reagir com eficiência e competência no momento de lidar com as crises de oferta e procura globais. Gostem ou não gostem os catastrofistas, o Brasil é um sucesso dessa importante lição. Adicionalmente, já no início do segundo semestre de 2011, passou a ser evidente que as medidas prudenciais adotadas pelo governo da presidenta Dilma Rousseff para manter a inflação sob controle foram absorvidas pelos agentes econômicos, renovando as expectativas de retornar ao núcleo da meta até dezembro de 2012. A consequência dessa nova percepção é uma importante redução da volatilidade dos mercados financeiros e o retorno de estímulos aos investimentos do setor produtivo da economia. Não diria que estamos próximos da unanimidade, mas hoje certamente são poucos os agentes que não reconhecem o acerto das ações de política monetária conduzidas pelo Banco Central. O que se convencionou chamar de “Cenário Tombini”, construído a partir da antecipação de defesas inteligentes para enfrentar o desaquecimento da economia mundial, tem mostrado plena adequação não apenas para enfrentar o “vento contra” do exterior, mas principalmente para a retomada dos estímulos ao crescimento da produção e do consumo internos. Tornou possível manter a sequência de redução da Selic, alimentando a expectativa de atingirmos taxas de juro real compatíveis com o objetivo de manter a economia brasileira crescendo em ritmo superior ao do resto do mundo. Nessa última reunião de 2011, o Conselho de Política Monetária, presidido por Alexandre Tombini, cortou mais meio ponto porcentual, baixando a taxa Selic para 11% ao ano. São fatos que me animam a acreditar que, mesmo com a tempestade lá fora, a economia brasileira será capaz de manter o esforço de crescimento com base na expansão do mercado interno, sustentada, em parte, com a inclusão social dos trabalhadores beneficiados com a correção do salário real. A isso se pode somar o esforço do governo no controle das despesas de custeio da máquina pública para permitir a destinação de recursos para as obras de recuperação e expansão da infraestrutura, principalmente nas áreas de transportes e energia. Infelizmente, não há condições de prever até quando a economia dos países desenvolvidos vai continuar beirando o atoleiro. É preciso reconhecer que a falta de estadistas na liderança da imensa maioria dos países ainda vai continuar a retardar, se não impedir, a tomada de decisões para solucionar os graves problemas econômicos e sociais que a imprudência política e a ambição financeira produziram nesses últimos anos.

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