sexta-feira, maio 18, 2012

O caos e a lama

Guardadas as devidas proporções, a cena remetia a atentados terroristas em estações de metrô como o de julho de 2005 em Londres, ou o de março de 2004 em Madri ou o de 2003 em Moscou. Pessoas em pânico, portas que demoraram para abrir, energia cortada aumentando o sentimento de insegurança, janelas de emergência quebradas, gritos e correria. Mas a cena provocada pelo trem da linha 3-Vermelha do metrô de São Paulo não foi resultado de um atentado, e sim de falha num equipamento de segurança, e isso num ramal que transporta mais de 1 milhão de passageiros por dia. As imagens correram mundo, sempre acompanhadas da informação de que o acidente ocorrera na linha que levará torcedores ao Itaquerão para o jogo de abertura da Copa de 2014. Não fosse a perícia do condutor do trem, que acionou o freio de emergência, o número de feridos seria muito maior do que as mais de 130 pessoas que foram atendidas nos hospitais públicos. O acidente vem se somar ao grande número de ocorrências graves registradas nas linhas do transporte ferroviário na cidade. Desde 2007, ano em que sete pessoas morreram nas obras da linha 4-Amarela, foram quase 100 panes nas linhas do metrô e 124 nas linhas ferroviárias da CTPMAlgo está errado e muito precisa ser feito. Mas, em entrevista logo após o acidente, o secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, aconselhava aos usuários do metrô a não andarem "distraídos"!!! E o governador Alkimin, em peregrinação política pela Zona Norte, anunciava investimentos futuros numa nova linha para atender a região... A verdade pura e simples é que a situação do transporte público em São Paulo é de caos. E as autoridades responsáveis pouco têm feito. Em 2011, dos R$ 5 bilhões previstos para a expansão do metrô, o governo do estado executou somente R$ 1 bilhão. Já na CPTM os investimentos na compra de trens foram reduzidos praticamente à metade. Os investimentos na linha vermelha encolheram 20% e, em todo o sistema a redução foi 19%. Além da falta de investimentos necessários na ampliação e manutenção da rede, sobram denúncias de corrupção nunca apuradas, como compras superfaturadas de trens, cancelamento de licitações, nomeação de um presidente com condenação na justiça e por aí vai. E apesar da inércia, o governo do estado continua prometendo 200 km de linhas do metrô até 2018, apesar de nos últimos 17 anos, os governos tucanos terem construído meros 25 km. Recentemente, a The Economist, tratando do assunto, disse que o metrô de São Paulo ainda não é digno da maior cidade da América do Sul. E não é mesmo. Com 71 km de extensão é menor que o metrô da cidade do México (200 km) e que o de Seul (400 km). Santiago do Chile, cidade com um quarto do tamanho de São Paulo, tem, como lembrou a revista, uma rede metroviária 40% maior. O padrão europeu privilegia, por meio de subsídios, o transporte coletivo, numa escolha que contempla preocupação com a sustentabilidade ambiental. No Brasil, lamentavelmente, tem perdurado a prioridade ao transporte individual rodoviário. A situação da mobilidade urbana, sobretudo na região metropolitana de São Paulo, evidencia o equívoco da prevalência dessa opção. Estudos da Associação Nacional de Transportes Públicos indicam que é preciso tirar de circulação 30% dos automóveis das ruas da capital paulista. Não se trata, evidentemente, de impedir que as pessoas adquiram e usem seu carro. Trata-se de ofertar transporte público em quantidade e qualidade, de forma a inibir o uso indiscriminado e excessivo do automóvel. Os números mostram que, infelizmente, estamos longe disso. Desde 1997 o Datafolha pesquisa a avaliação do sistema de transporte público de São Paulo. No último levantamento, pela primeira vez, menos da metade da população aprovou a qualidade do metrô, que tem batido recorde histórico de superlotação. O sistema de transporte por trilhos de São Paulo passou a atender 7 milhões de passageiros por dia. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, só o volume que aderiu ao sistema em um ano – 1 milhão de pessoas – é igual ao total transportado no sistema do Rio de Janeiro. O problema é enorme e se avoluma. E sua solução não se restringe a enfrentar os problemas do metrô, que é o melhor sistema de transporte de massa. Entretanto, nas condições ainda vigentes no Brasil, a responsabilidade primeira do prefeito é com a melhoria e desenvolvimento do transporte coletivo por ônibus e, se puder, contribuir para o incremento do metrô. São Paulo tem investido pouco no metrô e praticamente zero nos corredores de ômibus.

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