quinta-feira, maio 03, 2012

O Silêncio dos Inocentes

O movimento “Não Foi Acidente”, que prega a coleta de assinaturas para pressionar o Congresso a endurecer as leis de trânsito é a típica iniciativa populista, demagógica e burra. Só vai servir para gastar papel e adiar o surgimento das verdadeiras soluções. O bom mocismo costuma causar tanto estrago quanto a vilania. Um dos motivos é que fazer o bem é muito mais complexo do que praticar uma maldade. Tente ajudar um vizinho alcoólatra e você vai entender rapidinho. De uns anos pra cá, os que mandam no Brasil desenvolveram um hábito extremamente nocivo de ocupar a sociedade com novas leis que se resumem a reforçar as que já existem. É pura dissimulação de um Estado incapaz de cumprir com suas mínimas obrigações. Se há algo que não falta em nossa terra país são leis. Temos toneladas delas, muitas inúteis e ridículas. Mas as que de fato interessam não são cumpridas, por falha de fiscalização ou desinteresse puro e simples dos poderosos. Se somos o quinto país com maior número de mortes decorrentes de acidentes envolvendo meios de transporte, não é por falta de uma legislação dura. Para começo de conversa, faltam estradas transitáveis, minimamente sinalizadas. Falta equipar nossas polícias rodoviárias. Falta investir em educação a fortuna incalculável proveniente de multas e IPVAs. Falta obrigar as montadoras a fabricarem carros modernos e seguros, compatíveis com os preços extorsivos que tornam nossos veículos os mais caros do sistema solar. Em vez disso, os inocentes úteis ficam atolando redes sociais com essa conversinha de tolerância zero para bebidas. É muito cretino imaginar que um cidadão que tome uma taça de vinho no almoço em família se torne um assassino em potencial que merece ser preso numa masmorra para o resto da vida. Embriaguez ao volante é proibida desde sempre. Essa nunca foi a questão, se pode um miligrama de chope ou quinze doses de cachaça vagabunda. Vamos deixar de ser ingênuos. Esse amontoado de leis criadas de forma apressada, sem contrapartida das autoridades competentes, apenas atola delegados e juízes embaixo de uma montanha de burocracia. No final, sobrevivem apenas os que podem pagar bons advogados. E de uma vez por todas: a maioria das vítimas estão na periferia, nas estradas esburacadas e sem acostamento criminosamente abandonadas pelo poder público. Quem dera nosso problema fossem as Ferraris envenenadas e motoristas que se embriagam em boates de luxo. Nunca faltou lei para punir essa gente. O que sempre faltou foi Justiça, algo que não se encontra nas ruas. Eu, pelo menos, nunca vi.

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