segunda-feira, maio 16, 2011

Pedagiômetro

sexta-feira, maio 13, 2011

Vergonha

Mais uma vez o São Paulo foi eliminado de uma competição e a resposta não demorou, ainda em Florianópolis torcedores protestaram contra o time. Um bando cercou o ônibus com os jogadores e precisou ser contido pelos policiais. Os muros do CT amanheceram pichados. A raiva se volta contra os jogadores e o treinador. Como de hábito, as vítimas usuais. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis seguem tranquilamente suas trajetórias: os dirigentesA gestão do Presidente Juvenal Juvêncio, que permanece no poder graças a um golpe contra o espírito do Clube, teve sua boa fase encerrada em meados de 2008. Desde então é uma sucessão de decisões erradas em todos os sentidos. Em 2008, o clube ainda foi campeão brasileiro, título conquistado pela terceira vez consecutiva. Poucos meses depois, o treinador, Muricy Ramalho, foi defenestrado de forma sumária e deselegante. Como é de seu feitio, sem ouvir ninguém, se é que há alguém que mereça ser ouvido na direção são-paulina, o presidente contratou Ricardo Gomes, um técnico que não estava à altura do desafio. Deu no que deu. Seguindo uma linha absolutista, cultivada com esmero e admirada por incautos graças aos resultados do passado, o Presidente, diante dos resultados demitiu Gomes e contratou Paulo Cesar Carpegiani. Um grande jogador, um craque, mas como treinador é um fracasso. Conquistou um título expressivo em 1981, há 29 anos e, desde então, mais nada. O resultado foi visível no jogo da Ressacada. Mesmo com a vantagem da vitória na primeira partida, e mesmo saindo na frente no marcador, o São Paulo não soube segurar o Avaí e foi derrotado de forma acachapante, perdido em campo, livrando-se de sofrer uma goleada como o Palmeiras. Carpegiani, entretanto, está no São Paulo porque foi contratado. Pelo mesmo dirigente que contratou algumas baciadas de jogadores que só serviram para levar a folha de pagamentos a impressionantes 88 milhões de reais em 2010. Jogadores vieram a peso de ouro, nada fizeram e foram emprestados a outros clubes. O São Paulo termina a primeira parte da temporada sem um time formado. Não tem ala-direito. Tem um problema sério na esquerda, onde Juan e Jr César estão longe do ideal. Da zaga, Miranda já está arrumando as malas, o que já se sabia desde janeiro, mas assim mesmo foi titular absoluto. Alex Silva, provavelmente, seguirá o mesmo caminho. O elenco continua sem um armador. Curiosamente, durante anos Muricy pediu Conca e não obteve, pela alegação de ser caro. Aparentemente, o Presidente JJ deve achar barato pagar 4 milhões de reais ao Atlético de Madrid pelo gosto de ter Cleber Santana em seu elenco. E só no elenco, pois nem no banco andou ficando. E essa transação foi por apenas 50% dos direitos. O ataque tem problemas, até porque o time joga sem centroavante, criando para ninguém. Luis Fabiano veio, providencialmente, bem na véspera da eleição presidencial. Vai estrear qualquer dia desses. Seu custo, no total de 4 anos, será de aproximadamente R$ 34 MM. O São Paulo tem uma grande e formidável estrutura. Tem um balanço de respeito, mesmo depois de um ano péssimo. Essa estrutura toda, em seus diferentes níveis e aspectos, segura o clube e dá-lhe relativa estabilidade, mas, por quanto tempo? Quantos desaforos administrativos ainda será capaz de agüentar? Os culpados por situações como essa do São Paulo são encontrados, sempre e exclusivamente, nas ricas e bem decoradas salas da diretoria. Os jogadores estão trabalhando e fazendo o que podem e são capazes. Protestar contra eles é perder tempo e aprofundar crises. Problemas têm que ser resolvidos na sua origem, jamais nos seus sintomas. Rivaldo, atleta profissional dos melhores e mais competentes, tem história, tem caráter e tem vergonha na cara. Reclamou por ficar no banco e não entrar durante o jogo. Há quem diga que desrespeitou o comandante. Não concordo. Essa história de obedecer comandantes cegamente, vendo o desastre se avizinhar, conduziu a muitas tragédias na história. Aliás, o Comandante JJ, já resolveu tudo. Demitiu PC Carpegiani e deve trazer o empolgante Cuca. Estou com vergonha do meu Tricolor e haja coração,  que fase!!!

Cápsula da Cultura

quarta-feira, maio 11, 2011

Isto é História

A taxa de desigualdade no Brasil caiu à mínima histórica em 2010, segundo estudo divulgado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Em oito anos, o país conseguiu reduzir a pobreza em 50%, de acordo com a pesquisa “Desigualdade de Renda da Década”. Em 8 anos, no governo Lula, foi feito o que era previsto para 25 anos, de acordo com a Meta do Milênio da Organização das Nações Unidas, que era reduzir a pobreza em 50% de 1990 até 2015”, ressaltou o economista Marcelo Neri, coordenador do CPS/FGV. “E, desde o Plano Real, a pobreza caiu 67,3% no Brasil. Um feito notável comparado com outros países”, complementou. A taxa de desigualdade, medida pelo índice de Gini, ficou em 0,5304 em 2010, a menor desde 1960, quando começou a pesquisa. “Os principais motivos para isso foram, principalmente, a educação e, em menor parte, os programas sociais”, explicou Neri. De acordo com a pesquisa, segundo dados da Pnad/IBGE a renda dos 50% mais pobres no Brasil cresceu 52%, enquanto que a renda dos 10% mais ricos do país cresceu 12%. Isso significa dizer que a renda da classe baixa teve um crescimento de 311% na comparação com os mais abastados. A pesquisa mostrou que os chamados “grotões” brasileiros estão em alta, já que entre 2001 e 2009 os “maiores ganhos reais de renda foram em grupos tradicionalmente excluídos”. Segundo o estudo, Alagoas é, hoje, o estado com a pior renda média per capita do país. E, no mesmo período, o Maranhão, que era o estado mais pobre, teve ganhos na renda da população de 46%. Já os estados de Santa Catarina e do Rio de Janeiro passaram São Paulo na condição dos que tem a maior renda média. Para a próxima década, Marcelo Neri afirma que é preciso melhorar a qualidade da educação, continuar investindo em programas sociais e realizar obras de saneamento básico. “E é preciso fazer mais com menos recursos, pois não podemos aumentar mais ainda a nossa carga tributária”, acrescentou. As razões do meu otimismo são proporcionais ao tamanho dos problemas que temo hoje. A escolaridade no Brasil é ridícula, por isso acho que ainda temos muito a avançar”, finalizou.

terça-feira, maio 10, 2011

Cápsula da Cultura

Fabulosas

Aproveita que não está acontecendo nada de importante e repara só: a noiva americana do Paul McCartney, Nancy Shevell, deve ter saído da mesma fábrica da primeira-dama da França, Carla Bruni. Uma e outra fazem parte de uma série de beldades cujo design parece não envelhecer com o tempo. Patrícia Pillar foi, salvo engano, criada na franquia brasileira desta linha de produçãoNão é pra qualquer mulher bonita! Tem beleza cujo prazo de validade regula com a juventude. E quanto maior o esforço para prolonga-la na meia idade, mais grave o estrago no modelo original. “A pior feia”, como dizia Vinícius, “é aquela que já foi linda um dia.” Nancy, Carla e Patrícia não são exatamente bonitas. São fabulosas, donas de uma beleza que envelhece como os vinhos. Melhoram com o tempo, a despeito de rugas e tudo mais que denuncie a idade da loba avançada. Só depois dos 45 anos pode-se dizer com segurança que uma mulher integra este seleto grupo. Impossível identificá-las quando jovens! Mais difícil é encontrar uma delas dando sopa por aí. Paul McCartney é mesmo um cara de sorte! Também, depois de tudo que passou com aquela outra, francamente, ele merece!

Importante correção de rumos

É fácil ser pessimista com relação à educação no Brasil. Diariamente ouvimos histórias da falta de recursos e do descaso. Para piorar, os resultados dos estudantes brasileiros em exames internacionais são razão de vergonha nacional. No PISA de 2009, a educação brasileira ficou em 53º lugar entre 65 países. Entretanto, há cerca de 10 anos, iniciamos no Brasil uma despercebida correção de nossas maiores mazelas educacionais, que deve se acelerar ao longo das próximas décadas. Nesse século, começou um processo de inclusão educacional, com a universalização do acesso à educação básica, a elevação da escolaridade média e a expansão do acesso à universidade. O número de universitários no País passou de 1,5 milhão em 1990 para 3,5 milhões em 2000 e para 6,5 milhões em 2010. O problema é que este avanço no acesso à educação deteriora os indicadores de qualidade do ensino. A população brasileira ficou mais educada, mas o nível médio do estudante universitário, refletido nos exames, piorou à medida que estudantes menos preparados passaram a ingressar nas faculdades. Quando comparamos a nota média dos alunos de 2000 com a média dos estudantes em 2010, desconsideramos que, dez anos antes, três milhões deles nem sequer chegavam à faculdade. A verdade é que a expansão do acesso à universidade ainda tem de progredir muito nas próximas décadas. Apesar de todo o avanço em inclusão nos últimos anos, ainda hoje apenas um de cada cinco jovens brasileiros chega à universidade. Também a qualidade de nossa educação vai melhorar gradualmente nas próximas décadas, por duas razõesA primeira é um sustentado aumento dos investimentos públicos em educação. De 2005 a 2010, os gastos do governo com educação passaram de 3,9% para 5,4% do PIB e devem atingir 7% do PIB em 2014. A segunda razão é demográfica. Com a forte queda da taxa de natalidade nas últimas décadas, o número de crianças e jovens em idade escolar e universitária cairá nas próximas décadas. Com mais recursos e menos alunos, o investimento por aluno aumentará consideravelmente, o que deve resultar em melhor qualidade de ensino. Tudo resolvido então? Claro que não. Precisamos acelerar muito a inclusão e a qualidade de nossa educação. A Coreia, país mais bem colocado no exame PISA, mostra o caminhoHá 30 anos, a renda per capita na Coreia era similar à brasileira; hoje ela é duas vezes maior. Não por acaso. Na Coreia, para cada R$ 1 que o governo gasta com crianças, ele gasta R$ 0,80 com aqueles com mais de 65 anos. Como consequência, os coreanos são líderes em qualidade de ensino e mais de 60% dos jovens coreanos chegam à universidade. No Brasil, para cada R$ 1 de gasto público com crianças, são gastos R$ 10 com idosos. A Coreia escolheu investir no futuro. O Brasil, no passado. 

quinta-feira, maio 05, 2011

Toda Mídia

No "China Daily", "China apoia Paquistão na luta contra o terror", em contraponto às críticas públicas dos EUA ao país, por ter abrigado Bin Laden. Mas o destaque de China no "NYT" era outro, "Conforme a China investe, os EUA podem perder". Estudo alerta que, "após três décadas investindo centenas de bilhões" na China, Washington "não quer participar agora que Pequim está prestes a devolver o favor". O estudo calcula que, ao longo da década, Pequim deve investir US$ 2 trilhões mundo afora. No fim de semana no "China Daily", a reportagem "Fundo em yuan vai ajudar América Latina" revelou a criação de um fundo soberano voltado à infraestrutura da região.
No topo das buscas, a Bloomberg noticiou que a "Entrada de dólar no Brasil despencou 88% em abril, com aumento da taxação de empréstimo externo". Mas o dólar não se valoriza e "Guido Mantega não descarta novos passos". E o "FT" destacou que a "Siemens alerta contra valorização do real", ecoando por "WSJ". O presidente da empresa no país cobrou "medidas mais duras", sugerindo até a "quarentena de aplicações estrangeiras, opção drástica de controle usada pelo Chile na década de 90". Se o dólar cair para menos de R$ 1,50, afirma ele, "será um desastre".

Olha aí, meu bem...

Gosto muito do verão e do sol. A chegada destas ondas de frio e a mudança abrupta de temperatura trazem o risco de gripe e minha sinusite sofre com o tempo frio e seco. Não quero discutir aqui o clima, porém uma percepção  de que as economias globais podem estar entrando numa fase de crescimento moderadoOs dados recentes dos EUA mostram um arrefecimento do mercado de trabalho e dos indicadores de atividade em serviços. O ajuste fiscal que se aproxima também não ajuda a perspectiva de crescimento.  O aperto monetário e cambial na Ásia começa a ter efeito e o discurso determinado das autoridades chinesas no sentido de evitar o aquecimento da economia e a elevação dos preços indicam que a atividade deve cair por lá. Os ajustes fiscais na Europa se intensificam, com Portugal, Grécia e Irlanda já nos braços do FMI, enquanto Espanha conduz seu ajuste auto-imposto. O Japão ainda luta para sair da crise causada com os incidentes de março. Nos BRICS, a preocupação com inflação e com o aquecimento da economia força os BC’s a apertarem as condições de crédito e a reduzirem o impulso fiscal adotado até então. Apesar dos dados bons da indústria, notamos aqui sinais de queda de demanda em alguns setores e uma pressão nas margens de lucro. De um lado temos as pressões de custos e do outro lado a pressão do BC visando impedir que tais pressões de custos cheguem aos consumidores. É um ambiente onde as empresas reduzem seus gastos procurando maior produtividade o que gera um desaquecimento na economia. A inadimplência está subindo, mostrando uma fadiga temporária no processo de crescimento do crédito. BNDES também reduz ritmo de seus desembolsos e governo adota uma política mais austera de elevação do superavit nas contas públicas. Tudo isto leva a um resfriamento da demanda. Este cenário pode levar ao estouro das bolhas de commodities. Com a queda do dólar e dos juros americanos, ficou fácil especular com commodities. Com o risco de uma queda de demanda por commodities, há a possibilidade que a bolha estoure e os preços caiam. Houve um acúmulo de estoques de algumas commodities em cenário de demanda estável, o que explica a elevação dos preços. A sensação que dá é que o movimento de aceleração do crescimento dos BRICS que tirou a economia global do buraco em 2009 e 2010 saturou. Os dados de atividade, inflação e emprego mostram que podemos estar perto do limite. O lado desagradável é que seria de se esperar que a economia dos EUA estivesse mais forte neste momento. Porém a coisa por lá não está tão boa. O crescimento é frágil, como mostram os dados econômicos mais recentes. E Europa e Japão tem seus problemas. Logo, é razoável se esperar uma redução na taxa de crescimento global. Com isto a taxa de juros de longo prazo deve cair por aqui. A bolsa deve ficar de lado por mais algum tempo. A queda do dólar pode ser interrompida ou desacelerada. E algumas commodities podem cair de preço. Não é o fim do mundo. Só um ajuste saudável, que ajudaria a conter as pressões inflacionárias e a encurtar o ciclo de alta de juros. Não vejo tampouco o risco de um crash, pois a alavancagem do sistema é menor, há um excesso de liquidez e juros baixos. Todos estão cientes deste desafio e que a recuperação global é frágil. Logo, os Governos não permitirão uma nova crise ou recessão global. Trata-se de um ajuste natural depois de um período de crescimento forte nos BRICS e na Ásia. A alta dos juros americanos poderia tornar tal cenário mais dramático, porém o FED tem deixado claro que tal processo está longe de começar. Como disse, é uma sensação de frio que chega após um verão forte. Um fato natural nos ciclos econômicos e climáticos. Para alguns este frio pode causar gripes. Nada muito sério, porém é preciso se agasalhar, e se vacinar. Nos mercados, a prudência é a melhor vacina. Como Benjor diz: prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Negócios do Esporte

A força dos clubes de futebol tem assustado o mercado americano. Há uma semana, o Sport Business Journal publicou uma reportagem sobre a presença dos clubes de futebol nas redes sociais. O resultado é alarmante. Das cinco marcas ligadas a esporte e que tem o maior número de seguidores, quatro são clubes de futebol. O levantamento tinha como universo a soma de seguidores dos clubes no Facebook e no TwitterNa lista, os cinco primeiros clubes mais populares nas redes sociais são os seguintes:
  1. Barcelona (13,5 milhões de seguidores)
  2. Real Madrid (13,2 milhões de seguidores)
  3. Manchester United (12,1 milhões de seguidores)
  4. Los Angeles Lakers (9,5 milhões de seguidores)
  5. Arsenal (5,9 milhões de seguidores)
O resultado, na visão americana, mostra uma preocupação para o negócio dos esportes. O futebol, segundo eles, tem tomado conta do mercado mundial, ao passo que os times americanos, independentemente de qual esporte represente, continuam com atuação restrita aos Estados Unidos. Esse é um ponto crucial e um dilema que os americanos terão pela frente nos próximos anos. Com a retração do mercado dos EUA, é fundamental para o crescimento dos times de lá a busca de novos torcedores. Com menos dinheiro para gastar desde a crise, o americano tem cortado os esportes. O crescimento da audiência de TV e a queda da presença nas arenas são um reflexo disso. Com isso, é fundamental que o esporte vá para outras regiões do planeta, em busca de dinheiro novo, especialmente os mercados da China, da Índia e do Brasil, os três mais cobiçados na atualidade. Mas, aí, o problema para o americano é que em sua maioria esses países já estão tomado pelos clubes de futebol, especialmente os da Europa. Se tem algo que temos de aprender com o que tem acontecido lá fora, é que esses times de futebol são hoje marcas globais”, resumiu o vice-presidente da NBA, Bryan Perez. O modelo americano de gerenciar o esporte está anos-luz à frente do restante do planeta. Mas, agora, o americano percebeu que não adianta mais olhar apenas para o próprio umbigo. Enquanto isso, no Brasil, os clubes seguem considerando que globalização significa, simplesmente, jogar o Mundial de Clubes…

quarta-feira, maio 04, 2011

O Império Contra-Ataca

A invasão da mansão e a morte de Osama bin Laden no Paquistão marcam o retorno do Império Americano. Em uma década, os Estados Unidos assistiram perplexos a uma série de eventos raríssimos que, como aqueles infernos de mapa astral, alinharam uma inédita sucessão de infortúnios: o maior ataque estrangeiro ao território americano, a ineficácia de suas máquinas de informações e de guerra, o quase colapso do sistema financeiro e a subversão dos valores liberais com a intervenção do Banco Central no mercado para atenuar a hecatombe de 2008. Cada um desses elementos parecia fornecer, pela originalidade ou grandeza, sinais de decadência da maior democracia, maior economia e maior máquina militar da história. O ataque terrorista às torres gêmeas e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001 usou como arma letal um dos maiores emblemas do sonho americano, o avião a jato, e como arma de propaganda dois de seus maiores componentes culturais: o desastre de imagens hollywoodianas, transmitido ao vivo pela televisão.
Foto: AP
Na sequência, a máquina de espionagem mostrava-se incapaz de cumprir a promessa de George W. Bush (“Nós vamos caçá-los”) e seu poderio bélico se revelava frágil a ponto de deixar Bin Laden escapar nas montanhas do Afeganistão, onde os Talebans passaram a recuperar território e poder. Na mesma proporção do fracasso externo, os Estados Unidos reduziam-se às suas fronteiras, com medidas de segurança cada vez mais restritivas, num mundo em que a Al-Qaeda insinuava-se como ameaça global. Houve um hiato de vitória com a ocupação do Iraque e a captura de Saddam Hussein. 
Mas no campo da moral, a conquista do Iraque nasceu sob falsas premissas: nem o país era a principal base ou refúgio da Al-Qaeda, nem Saddam detinha as alegadas armas de destruição em massa. O Império não era mais o mesmo e ainda iria enfraquecer-se. Nas finanças, os dogmas do liberalismo foram arrastados pelo tsunami que arrasou o mercado após a quebra do Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008. E para evitar outra grande depressão econômica, o país passou a flutuar sobre um déficit público anual do tamanho de um Brasil. O Euro forte, a ascensão da China, o crescimento dos BRICS: em uma década, tudo conspirava contra o Império Americano. Mas então na noite de domingo, primeiro de maio, Osama foi morto e, do ponto de vista simbólico, muita coisa mudou. A começar pelo fato em si. A caçada ao líder da Al-Qaeda nunca foi a guerra de um país contra um homem, mas ao que ele representava: o ódio cego, gerado por ideias capazes de arrastar seguidores para o assassinato indiscriminado de qualquer pessoa, a qualquer hora, em qualquer um dos continentes. Qual outro país mobilizaria tantas forças, em dois governos distintos, para chegar a esse objetivo? Qual país poderia, nessa luta, gastar em dez anos a fortuna de R$ 2 trilhões? Qual país teria uma máquina de espionagem capaz de manter seu alvo sob vigilância durante mais de oito meses, até construir o cenário do ataque final? Qual país seria capaz de desferir essa operação a 12 mil quilômetros de distância da sua capital? Qual país teria equipamento, tropa e treinamento de elites para invadir o quartel-general do terrorista mais procurado do mundo sem sofrer nenhuma baixa? Israel promoveu a caça aos terroristas do atentado de Munique e os serviços secretos da União Soviética e da Rússia já envenenaram opositores do regime que se encontravam no exílio ou no exterior. Mesmo o Chile do general Augusto Pinochet mostrou que a fúria vingativa de uma ditadura não respeita fronteiras ao assassinar dois adversários políticos: o chanceler Orlando Letelier, morto na explosão de uma bomba sob seu carro numa rua de Washington, e o general Carlos Prats, vítima de outro atentado a bomba em Buenos Aires.  Mas Rússia, Israel, China ou mesmo os países da Otan talvez possam manifestar o papel de potência regional respondendo uma ou outra dessas questões. No entanto,  só um império global domina todas elas. A morte de Bin Laden não traz nenhuma garantia de que a Al-Qaeda ficará mais dócil ou menos operante. Os Estados Unidos não irão relaxar as medidas de segurança interna, pelo menos enquanto não conseguirem dimensionar o tamanho do golpe que a ausência do líder terrorista irá gerar no radicalismo islâmico.  O que o ataque de primeiro de maio em Abbottabad fez foi mudar o curso de uma guerra em que o governo americano era política, financeira, militar e moralmente questionado pela comunidade internacional. A morte de Bin Laden lembra aos outros países a diferença de poder que sustenta os Estados Unidos na condição de império global.

segunda-feira, maio 02, 2011

Cápsula da Cultura

É uma Brasa

Nada é mais promíscuo do que o sexo grupal, exceto o Pensamento Grupal. A turma do mercado financeiro é muito propensa a esse pensamento grupal, isto é, "a tendência entre setores homogêneos a considerar os temas sob um mesmo paradigma e não desafiar certas premissas e interesses básicos". A opinião de cada indivíduo passa a ser um ato coletivo, mais ou menos orquestrado. Nas últimas semanas, tivemos um exemplo extraordinário de pensamento grupal. A forte reação do mercado à decisão do Banco Central de aumentar em apenas 0,25 ponto percentual a taxa básica de juro. Se bem percebi, foi uma unanimidade. O aumento foi considerado insuficiente para o controle da inflação, indício de fraqueza do BC e até mesmo da sua suposta subordinação ao desenvolvimentismo que domina a Fazenda. Quem ouve esse coro de especialistas e não tem acesso a certas informações básicas pode ficar completamente desorientado. Na realidade, entre os BC´s, o do Brasil está entre os que reagiram mais rapidamente ao risco de aquecimento. Desde abril de 2010, a Selic passou de 8,75% para 12%. A Cruzeiro do Sul publica um ranking mensal das taxas de juro reais em 40 países. O Brasil lidera esse ranking por margem cada vez maior. A taxa básica de juro real no Brasil alcança 6%. O segundo e o terceiro colocados, Turquia e Austrália, ficaram bem para trás, com aproximadamente 2%. A taxa média para os 40 países é negativa. Dos 40, nada menos que 36 países apresentam juros básicos reais negativos. O diferencial de juros nominais entre o Brasil e as principais economias desenvolvidas é imenso. Nenhum dos BRICS segue o padrão brasileiro de política de juros. A China e a Índia, que também estão enfrentando problemas de aquecimento e inflação, mais graves que os nossos, têm sido mais cautelosos em matéria de juros. O pensamento grupal no Brasil não toma conhecimento de nada disso. Não se leva na conta que um aumento ainda maior dos juros sobrecarregaria o déficit público. E pior: acentuaria a tendência à valorização do real, um dos mais graves problemas da economia do país. É evidente que a inflação preocupa. Há indícios de que a pressão está aumentando, em parte por causa de choques exógenos, em parte por excesso de demanda. Houve aceleração dos preços de serviços, que tendem a refletir no ritmo da demanda doméstica. As medidas de tendência da inflação também acusam aumentos recentes. Mas isso não significa que a resposta deva ser carregar a mão nos juros. Parece mais apropriado, nas circunstâncias atuais, combinar a política de juros com ajuste fiscal, medidas de controle do crédito e restrições à entrada de capitais e à tomada de empréstimos externos. Esse último tipo de medida mata dois coelhos: contém a expansão do crédito alimentada pela onda de capitais externos e contribui para atenuar a valorização do real.