sábado, agosto 31, 2013

Isto é...

Nós precisamos entender que estamos no meio da mais grave crise econômica desde 1929, que atingiu profundamente os Estados Unidos, maior economia do planeta. O anúncio de que o FED irá reduzir estímulos ao crescimento e elevar os juros provocou uma fuga de capitais que pressiona as demais moedas. O Brasil tem uma posição sólida, com US$ 380 bilhões em reservas e uma dívida pública de 30%, a metade do que era há uma década. O câmbio pode ter um impacto inflacionário, e isso é muito ruim. Mas a mudança aumenta a competitividade da indústria e a rentabilidade da agricultura, estimula as exportações e melhora a balança comercial e o emprego.
Quando um País retoma o crescimento após 20 anos de crise, não tem resposta na velocidade necessária. Isso também acontece em outras áreas, como a saúde e também a segurança.
Mas o principal é que a Ciência, a Tecnologia e a Educação entraram no topo da estratégia brasileira. Temos hoje no “Ciência Sem Fronteiras” com 43 mil estudantes em universidades de todo o mundo e 750 pesquisadores visitantes, inclusive dois prêmios Nobel que estão trabalhando no Brasil.

sábado, junho 08, 2013

Os Legados para o Povo


As pesquisas de opinião são a melhor maneira de interpretar o pensamento da população a respeito das questões coletivas. Sem elas, ficamos com o que acha cada indivíduo ou dizem os grupos mais organizados e loquazes. Os sentimentos e atitudes da maioria permanecem ignorados, como se não existissem. Mas as pesquisas estão aí, e permitem uma compreensão dos juízos e as expectativas dos que não se expressam. Realizá-las não é extravagância ou privilégio. Não custam tanto e um partido político ou uma empresa pode encomendar as suas. 
Nas últimas semanas, Aécio Neves disse que seu partido se equivocou ao não valorizar o "legado" da administração de FHC. Em suas palavras: "Erramos por não ter defendido juntos, todo o partido, com vigor e convicção, a grande obra realizada pelo PSDB". Salvo uma ou outra manifestação de cautela, a mídia aplaudiu o pronunciamento. Os "grandes jornais" gostaram de Aécio ter assumido uma tese com a qual sempre concordaram. Faltava-lhes um paladino e o mineiro ofereceu-se para o posto. E os cidadãos comuns, o que pensam desse "legado"? Numa pesquisa recente de âmbito nacional, o Vox Populi tratou do assunto. Em vez de atacar a tese, apenas identificou o que a população pensa a respeito. Os entrevistados foram solicitados a avaliar 15 áreas de atuação do governo Dilma Rousseff. Depois, a comparar o desempenho de cada uma nos governos dela e do Lula com o que apresentavam quando Fernando Henrique Cardoso era presidente. As avaliações de todas as políticas nos governos Petistas são superiores. Em nenhuma se poderia dizer que, para a população, as coisas estavam melhores no período Tucano
Consideremos algumas: na geração de empregos, 7% dos entrevistados disseram que FHC atuou melhor, enquanto 75% responderam que Lula e Dilma o superaram. Na habitação, 3% para FHC e 75% para Lula e Dilma. Nos programas para erradicar a pobreza, 4% ficaram com FHC e 73%, com os petistas. Na educação, o tucano foi defendido por 5% e os petistas, por 63%. Na política econômica, em geral, FHC foi avaliado como melhor por 8%, enquanto Lula e Dilma, por 71% dos entrevistados. No controle da inflação, FHC teve seu melhor resultado: para 10%, ele saiu-se melhor que os sucessores, mas 65% preferiram a atuação de Lula e Dilma no controle de preços. Na saúde e na segurança, os petistas tiveram as menores taxas de aprovação, mas mantiveram-se bem à frente do tucano: na primeira, Lula e Dilma foram considerados melhores por 46% dos entrevistados. Na segurança, por 45%. FHC, por sua vez. por 7% e 6%. No combate à corrupção, FHC teria atuado melhor do que seus sucessores para 8%, enquanto 48% dos entrevistados afirmaram ter Lula e Dilma sido superiores. 
Os políticos e as empresas são livres para crer no que quiserem. Enéas Carneiro era a favor da bomba atômica. Levy Fidelix é obcecado pela ideia de espalhar aerotrens pelo Brasil. Os partidos de extrema-esquerda lutam pelo comunismo. Há quem queira recriar a velha Arena da ditadura. Ancorar uma campanha presidencial na "defesa do legado de FHC" é um suicídio político. Nem Serra nem Alckmin quiseram praticá-lo. A derrota de ambos nada tem a ver com o fato de não terem feito tal defesa, o problema nunca foi estar distantes demais dos anos FHC, mas de menosResta ver como se comportará, na prática, Aécio Neves, E o que dirão seus apoiadores, quando perceberem que também ele procurará fazer o possível para se afastar do tal "legado".

Sem Propostas e Soluções

Sempre existiu ladrão na administração pública, aqui e no resto do mundo. É da natureza humana. Mas no Brasil é mais do que isso. Criou-se uma estrutura social organizada, incrustada no poder, agindo de maneira sistêmica e orgânica, comprando consciências, e violentando o funcionamento das instituições. Tudo isso afasta da política os homens bem intencionados, criando uma reserva de mercado e um vasto campo de atuação para os setores podres da sociedade que fazem da atividade pública uma profissão, tendo como única meta atingir seus objetivos pessoais. A política deixa de ser uma contribuição que os cidadãos devem sentir-se moralmente obrigados a oferecerem aos demais concidadãos, e passa a ser um meio de vida. Homens públicos abandonam suas atividades profissionais, e passam a depender da política para garantirem sua sobrevivência. Pessoas nessas circunstâncias tornam-se capazes de tudo e de qualquer coisa para sobreviverem. Ao invés de profissionalizar a administração pública, profissionaliza-se a política, que passa a substituir o burocrata de carreira na gestão do Estado. Quando as elites se locupletam, o povo sente-se legitimado para fazer o mesmo. Os meios de comunicação glorificam desvios de conduta éticos e morais. Novelas principalmente, escoradas no princípio inquestionável da liberdade de opinião e estimuladas pela desbragada luta por audiência, desafiam a consciência dos cidadãos que ainda possuem algumas referências para discernir o certo do errado. A apologia da malandragem, da ganância, da luxúria e de outros vícios corrói instituições e valores tradicionais. A acintosa ostentação dos ricos é ofensiva e aguça a violência. A indústria do medo prospera de forma assombrosa. A propriedade privada passou a ser um direito relativo com a inatividade da Justiça. A depredação de bens não é mais punida, desde que seja protegida sob o manto dos "movimentos sociais". O poder público se omite e tenta acomodar a situação. E enquanto tudo isso ocorre, a chamada "sociedade civil organizada" apenas esboça reação com inúteis mobilizações midiáticas que em geral posicionam-se contra aspectos de nossa vida institucional, mas mostram-se incapazes de serem a favor de algo capaz de avançar na busca de soluções efetivas. Mobilizam, sem propor. Deixam a impressão de terem apenas objetivos eleitorais

quinta-feira, março 14, 2013

Um País sem miséria

última década testemunhou queda inédita na desigualdade de renda brasileira, que atingiu o menor nível da série histórica, iniciada em 1960. Neste período, houve conquistas em várias dimensões do desenvolvimento humano, como queda de 47% da mortalidade infantil, três anos mais de expectativa de vida, aceleração da escolaridade com ganhos de qualidade a partir de 2005, geração de duas vezes mais empregos formais a partir de 2004A pobreza caiu 58% de 2003 a 2011. A queda da pobreza foi propulsionada pela criação do Bolsa Família, em 2003. Estudos do Ipea mostram que, a despeito das características que diferenciam Censo, PNAD e Cadastro Único, todos eles mostrarão uma diminuição vigorosa da pobreza extrema. A estruturação do Cadastro Único para Programas Sociais, ocorrida entre 2003 e 2011, com a inclusão de 70 milhões de pessoas, permitiu ao poder público não só implementar o Bolsa Família mas saber quem são, como vivem e onde moram os mais pobres dentre os brasileiros. Além de abrir caminho para que recebessem transferências de renda, o cadastro permitiu priorizá-los no acesso a serviços públicos como creches, cursos profissionalizantes, serviços de assistência técnica e extensão rural, cobertura de água e tarifas reduzidas de energia elétrica. Mais do que contar pobres, os pobres passaram a contar mais no desenho das políticas públicas brasileiras. Além de usar o Cadastro Único como via expressa para levar políticas públicas aos mais pobres, houve empenho redobrado em incluir as famílias que, tendo o perfil requerido, ainda não faziam parte dele. Desde junho de 2011, a busca ativa possibilitou a entrada de 791 mil famílias extremamente pobres no Bolsa Família. Estima-se ser necessário encontrar mais 700 mil para atingir plena cobertura. Agora, alcançaremos um objetivo que já pareceu impossível. O Bolsa Família vai garantir a todos os seus beneficiários renda de pelo menos R$ 70. Com mais essa medida, 22 milhões de pessoas terão saído da extrema pobreza. Do ponto de vista da renda, não haverá mais pobreza extrema no universo do Bolsa Família. Mas ainda há muito por fazer nos campos da própria renda, do trabalho, da saúde, da educação, da infraestrutura e da moradia, entre outros desafios. O que está acontecendo agora é apenas um começo.

INFLAÇÃO

São cada vez mais frequentes as opiniões de analistas sobre a iminência da elevação dos juros básicos pelo Banco Central. Para uma parcela significativa do mercado financeiro, essa elevação, depois de um longo período de baixa e estabilidade, se dará em abril. A persistente inflação brasileira, embora em nível baixo para quem viveu os anos tenebrosamente inflacionários das décadas de 1980, 1990 e 2000, explicaria essas previsões. A elevação dos juros teria como objetivo trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano. Nos últimos 12 meses, a taxa atingiu 6,15%. A inflação se dá quando há desequilíbrio entre oferta e demanda de bens e serviços na economia. A elevação dos juros, tal como proposta pelo mercado financeiro, atuaria para conter a demanda interna. A meu ver, essa postura é equivocada. Mais eficiente é atuar para estimular a oferta desses bens e serviços e com isso incentivar o crescimento econômico. Felizmente, parece que o foco principal do comando da economia no governo Dilma está exatamente voltado para isso: elevar a oferta de bens e serviços por meio da aceleração dos processos de concessão para obras de infraestrutura e por desonerações que tenham efeito positivo na competitividade do setor privado. Além disso, o governo deve anunciar medidas para incentivar o oferecimento de crédito de longo prazo para investimentos por parte dos Bancos privados. Essa tarefa está exageradamente concentrada no BNDES. Estimular a oferta é, sem nenhuma dúvida, o melhor caminho para combater a inflação, porque as demais opções são de alta periculosidade para a atividade econômica. O aumento dos juros esfriaria ainda mais o consumo geral, algo obviamente não recomendável num momento em que a expansão do PIB corre a uma taxa anual de apenas 1% e a geração de emprego está claramente em queda. Outra opção, a valorização do real frente ao dólar, usada como âncora anti-inflacionária nos últimos anos, já deixou sequelas muito significativas na indústria. Se for adotada novamente, vai concorrer para ampliar a desindustrialização. Também é preciso considerar que não há razão prática para achar que a inflação atual vá disparar. Aparentemente, o problema é mais de percepção e expectativa de perigo do que de perigo real. A redução das tarifas de energia terá um efeito positivo importante para conter a taxa média de inflação. A boa safra agrícola que vem por aí e a provável estabilização dos preços das commodities no mercado internacional também vão colaborar para segurar preços. O reajuste menor do salário mínimo, indexado ao PIB, é outro fator favorável, que atua principalmente para aliviar a pressão sobre os serviços. Não existe, portanto, razão objetiva para fazer terrorismo com a ameaça inflacionária, embora a experiência do passado recente indique que não se deve descuidar da vigilância nessa área. Talvez haja um problema na comunicação oficial, que não consegue passar percepções positivas ao mercado. Problemas de comunicação também já se deram recentemente no caso do superavit fiscal. O Brasil terminou o ano com um dos resultados fiscais mais positivos no grupo das 20 maiores economias do mundo, mas a percepção que se espalhou foi a de que o governo fez uma pirotecnia fiscal. O superavit foi inferior à meta de 3% basicamente porque ocorreram desonerações fiscais da ordem de R$ 45 bilhões. Essas desonerações concorrem para uma saudável redução de custos das empresas e de toda a economia. Mas, infelizmente, não houve, em tempo hábil, explicações sobre a operação. Os efeitos da política de estímulo à oferta de bens e serviços não são geralmente sentidos no curto prazo. É preciso ter paciência, disposição para diálogo e controle da ansiedade até que essas medidas tenham impacto na contenção e redução de preços. Mas esse é o caminho mais recomendável.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Pibão

O ano que acabou pode ser avaliado de duas maneiras. Um otimista olharia para a realidade do pleno emprego e diria que está tudo bem. A taxa de desemprego é a mais baixa da história, de 5% da força de trabalho, e a renda média dos assalariados mantém-se em alta, dando continuidade a um processo de distribuição de renda e ascensão social que trouxe cerca de 40 milhões de brasileiros para a classe C nos últimos dez anosUm pessimista olharia para o PIB e diria que as expectativas foram completamente frustradas. De uma Previsão de crescimento de 4% no início do ano, a taxa foi definhando até chegar a 1%, nível esperado para a expansão do PIB em 2012. Alguém fez uma observação interessante sobre isso: se o IBGE e outros órgãos de pesquisa não existissem e não tivéssemos como olhar para os números do PIB, todos diriam que o otimista está certo. Afinal, com emprego e renda em alta, o nível de felicidade das famílias é atualmente muito elevado quando comparado com o de tempos atrás. Mas o IBGE existe, felizmente, e seus números são importantes, porque indicam que, mantida a tendência atual de baixo crescimento, logo, os níveis de emprego e de renda começarão a baixar e tenderão a derrubar também o índice de felicidade geral. Então, não há dúvidas, o principal desafio brasileiro do ano que começa é elevar a taxa de crescimento econômico. É importante contestar uma observação que já se tornou lugar-comum, a de que estimular o consumo para impulsionar a economia representa uma política errada e perigosa. Não há perigo algum em estimular o consumo interno, porque ele é a força poderosa que puxa os investimentos. Aliás, ênfase ao consumo interno é a política recomendada para que a China mantenha seu crescimento econômico de dois dígitos. Essa política serviu e serve para o Brasil. Se a economia mundial continua problemática, com estagnação na Europa e abismo fiscal nos EUA, nada mais importante do que apostar no crescimento do consumo interno. Com a ressalva de que, dadas as condições atuais de demanda fraca no mundo, é preciso estar muito atento para proteger setores atingidos por concorrência desleal de estrangeiros. Será um grave erro desmontar ou desativar em 2013 o arcabouço de medidas incentivadoras do consumo, as reduções de impostos, bem como o estímulo à expansão do crédito com juros cada vez menores. No setor privado, não haverá investimentos se não houver perspectivas de crescimento de demanda. Com demanda à vista, o investimento produtivo flui, principalmente quando a remuneração de aplicações financeiras tende a minguar. Isso é o óbvio. Não há, portanto, nenhuma contradição entre defender a manutenção de um consumo interno robusto e a ênfase aos investimentos. Entre os desafios de 2013, está justamente fazer avançar os grandes investimentos em infraestrutura no país, que empacam mais por problemas burocráticos do que por falta de recursos. Outro desafio de 2013, e dos anos vindouros, é aumentar a produtividade e a competitividade da economia. Reduzir a absurda taxa de juros básica foi uma política correta nesse sentido. Colocar a taxa de câmbio em um nível mais apropriado foi outra. Reduzir o custo da energia elétrica e cortar impostos são também medidas de fundamental importância. Não gosto da expressão "pibinho", usada quase como um deboche por alguns analistas para zombar do crescimento de apenas 1% da economia brasileira. O melhor seria encarar o tema com crítica séria e equilibrada. O país não está à beira do abismo e muito menos moribundo, condições que exigiriam mudança radical de política. Mas também não está com o ritmo desejável de crescimento. Ainda há muito por fazer.

domingo, janeiro 06, 2013

PT - 10 anos no Poder

No início de 2013, o PT completa dez anos no poder. 
Período de avanços inegáveis, especialmente na área social, com redução das desigualdades e emersão da nova classe média. Além da manutenção da estabilidade econômica, que muita gente achava que o PT jogaria pelos ares. Mas também foi um período em que o partido revelou-se igual aos demais. 
A despeito dos erros e falhas do PT nesta década, que não foram poucos, o governo Dilma segue muito bem avaliado. E as pesquisas apontam a própria Dilma e o ex-presidente Lula como os dois candidatos mais fortes para a sucessão de 2014. 
Sinal de que, no balanço de perdas e ganhos, a população ainda enxerga mais pontos positivos do que negativos no PT. E de profunda incompetência da oposição.

2013

É difícil prever o PIB do Brasil em 2013. Analistas costumam cravar nas casas decimais um crescimento da economia que pode se revelar, ao fim e ao cabo, totalmente fora do esperado. Consultorias chegavam a apontar um aumento de 4,5% em 2012 e o PIB deverá ficar em 1%. Menos instáveis têm sido as previsões políticas. O ano-novo marca a metade do mandato da Presidenta Dilma Rousseff e uma coisa que se pode dizer é que a petista já tem motivos para comemorar até um feliz 2014, quando, ao que tudo indica, concorrerá à reeleição. Dilma abre o terceiro ano de governo com uma combinação de fatores econômicos e, principalmente, políticos que lhe deixam numa situação bastante favorável. Há a ameaça constante de contaminação da crise dos Estados Unidos e da Europa, o crescimento da economia nacional é baixo, mas a situação de pleno emprego e a manutenção do poder de consumo têm pesado mais na balança. A aprovação ao governo Dilma, de 62%, supera com folga à obtida por Lula, 41%, e Fernando Henrique Cardoso, 47%, no segundo ano do primeiro mandato dos dois ex-presidentesPSD e PSB grudam no governo ao se armar tabuleiro. Muito pode acontecer até 2014, a eleição parece longe, mas o tempo político exige a antecipação dos movimentos em pelo menos um ano, devido ao prazo de filiação partidária. A entrada ou não de Marina Silva no páreo, por exemplo, deve ser definida neste mês. Caso queira fundar um novo partido, a candidata que surpreendeu em 2010, com 20% dos votos, precisa agir rápido para mobilizar seu grupo, reunir quase meio milhão de assinaturas e obter o registro até outubro. A participação de Marina é uma incógnita que pode ter algum efeito sobre o resultado da disputa, mas não deve ser nem sub nem superestimada. Tende forçar, no máximo, como em 2010, à realização de um segundo turno no qual Dilma permanece favorita. Pelo menos duas razões alimentam o favoritismo. Em primeiro lugar, a Presidenta encontrará uma oposição mais enfraquecida. O PSDB, principal legenda adversária, tem o desafio de reunir suas hostes em torno do Senador Aécio Neves. O ex-governador de Minas encontra dificuldade de empolgar o QG do partido, desde sempre concentrado em São Paulo. Os tucanos têm ainda problemas crônicos no terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro, a ponto de cogitar saídas heterodoxas para criar um palanque no Estado. Transferir o título de José Serra para o Rio, lançar Luciano Huck ou economistas da era FHC sem carreira política dão a medida da escassez de alternativas do PSDB. O racha no DEM, segunda maior sigla de oposição, não só dividiu os adversários, como trouxe um naco relevante deles para o campo governista. Liderada por Gilberto Kassab, sob a bandeira do recém-criado PSD, uma nova tropa aderiu à já ampla coalizão que sustenta a Presidenta. De tão grande, esta coalizão passou todo o ano de 2012 sob o risco de esgarçamento. Nos últimos meses, porém, Dilma recebeu indicações de que seu exército marchará unido. É a segunda razão para o favoritismo. O emergente governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), deixou de lado seu discurso ambíguo, afirmou que não será candidato em 2014 e apoiará a reeleição da Presidenta. É uma declaração que deixa o cenário ainda mais claro e favorável à Dilma, uma vez que se especulava sobre a possibilidade de Campos romper com o governo federal. Não o fará. Seja pela expectativa de ser apoiado ou se ver livre de compromissos com o PT, em 2018, seja porque atualmente enfrenta resistências dentro do próprio partido, a começar pelos irmãos Ciro e Cid Gomes que hipotecam apoio a Dilma. Ao mesmo tempo, a Presidenta amarra o PSD. Apesar de criado para fazer a transposição de oposicionistas em direção à base do governo, nada garantia que Kassab e sua turma dessem meia volta volver. Mas as tratativas para a entrada do partido no ministério grudam os pessedistas à administração do PT justamente no momento em que se arma o tabuleiro para 2014. Até a Senadora ruralista Kátia Abreu (TO), única com condições de desafiar Kassab no PSD e crítica ferrenha durante o governo Lula, está na órbita de Dilma Rousseff. A adesão do PSD tornou-se uma necessidade ainda maior para a sobrevivência da liderança partidária do ex-prefeito depois da derrota nas eleições municipais, quando sua administração foi reprovada e seu candidato, Serra, saiu derrotado. As eleições locais, embora não sejam preditores para a disputa presidencial, deram a medida da correlação de forças. E as siglas de oposição, no geral, minguaram. O PSDB perdeu quase cem prefeituras e o DEM, mais de 200. Legendas aliadas ao governo federal, mas ideologicamente distantes do PT, como PR, PP e PTB, deixaram juntas o poder em mais de 300 municípios. Ao todo, as cinco siglas perderam 631 cidades, número semelhante às 684 ganhas a mais por PT e PSB somadas às conquistadas pelo novato PSD. Isso mostra que o impacto do julgamento do mensalão nos resultados foi não apenas nulo, como não evitou a vitória mais cobiçada pelo PT, que elegeu Fernando Haddad, em São Paulo. Para piorar, a pressão da opinião pública nos próximos meses foi empurrada para o lado da oposição, que se verá às voltas com o julgamento do Mensalão Mineiro, do PSDB, como prometeu o STFPor fim, o vento sopra a favor da reeleição quando entram na conta atores da sociedade civil como os sindicatos e o empresariado. Os primeiros não se sentem tão representados quanto na era Lula, mas suas preferências estão longe da agenda da oposição. Já os empresários, sobretudo os da indústria, tiveram suas demandas atendidas pelo Executivo, especialmente na cruzada pela redução da tarifa de energia elétrica. A luta de Dilma em prol da energia barata foi saudada em generosos anúncios publicitários pela Fiesp e Firjan. É mais um sinal de que a Presidenta ruma para a sucessão tão ou mais forte que seu antecessor.

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Mensalão


Os brasileiros parecem ter chegado à conclusão de que o moralismo da mídia é cínico. Algumas coisas pegam, algumas coisas mobilizam a opinião pública, e outras provocam essencialmente indiferença. 
Na Inglaterra, a revelação de que o celular de uma garota sequestrada fora invadido por repórteres do News of the World, de Rupert Murdoch, gerou entre os ingleses uma raiva tão forte e tão espalhada que em menos de uma semana o jornal, de 168 anos, estava simplesmente fechado. Na Tunísia, a autoimolação de um vendedor maltratado derrubou, em menos de um mês, uma ditadura de mais de 20 anos. O caso inverso é o Mensalão. Não vou entrar sequer no mérito da discussão sobre se o Mensalão deveria ter inflamado os brasileiros. Mas o fato indiscutível é que o caso jamais foi relevante para a opinião pública brasileira, a despeito da cobertura enorme e estrepitosa da imprensa. Se a medição do poder de influência da grande mídia se der em torno do que o Mensalão significa para os brasileiros, a conclusão a que se chega é que a sociedade não está ouvindo tanto assim o chamado Quarto Poder. Se estivesse, a voz rouca das ruas estaria gritando palavras de ordem contra Lula, Dirceu e Dilma. O Brasil se transformaria numa Praça Tahrir, o célebre centro de protestos do Egito. Deu ontem na Folha que Lula e Dilma se elegeriam no primeiro turno em 2014. Deu também que que a confiança da sociedade brasileira na imprensa diminuiu consideravelmente durante a cobertura do MensalãoNão me surpreendi. Os brasileiros estão profundamente insatisfeitos com sua mídia. Este sentimento se manifesta com estrépito na internet. Qualquer editor sério estudaria com urgência os resultados do Datafolha, em nome da sobrevivência de sua credibilidade e, consequentemente, do seu negócio. É aquela história: ou os brasileiros estão errados ou a mídia. Faça sua escolha. A revolta que a mídia gostaria de ver espalhada se manifesta num grupo localizado. Por exemplo, Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, ao estilo superlativo de Machado de Assis, classificou o Mensalão como a “maior agressão” que a democracia poderia sofrer. Como classificar, então, o golpe militar que derrubou em 1964 um governo eleito pelas urnas? 
Sabemos todos que muitas bobagens antidemocráticas são ditas em nome da democracia, mas Gurgel extrapolou. Mas ainda uma vez. A opinião pública brasileira parece surda a toda a exaltação retórica de Gurgel, tão repercutida pela grande mídia. De novo: algumas coisas pegam, outras não. O Mensalão não pegouCerta ou errada, a voz rouca parece ter chegado à conclusão de que é a versão 2012 do ‘Mar de Lama’ dos anos 1950, uma cruzada pseudomoralista cujo real objetivo era, ele próprio, um mar de lama.

sábado, dezembro 15, 2012

Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável

O Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico alcançado nos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população. Se o PIB brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de mai de 5% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia. A conclusão é de levantamento feito pela empresa internacional de consultoria Boston Consulting Group, que comparou indicadores econômicos e sociais de 150 países e criou o Índice de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Seda), com base em 51 indicadores coletados em diversas fontes, como Banco Mundial, FMI, ONU e OCDE. O desempenho brasileiro nos últimos anos em relação à melhoria da qualidade de vida da população é devido principalmente à distribuição de renda. "O Brasil diminuiu consideravelmente as diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90", diz o relatório "Da riqueza para o bem-estar". O estudo também faz referencia ao programa Bolsa Família, destacando que a ajuda do governo as famílias pobres está ligada à permanência da criança na escola. Nessa comparação de progressos recentes alcançados, o Brasil lidera o índice com 100 pontos, pontuação atribuída ao país que melhor se saiu nesse critério de avaliação. Aparecem a seguir Angola, Albânia, Camboja e Uruguai. A Argentina ficou na 26ª colocação. Chile e México ficaram ainda mais atrás. Foram usados dados disponíveis para todos os 150 países e que fossem capazes de traçar um panorama abrangente de dez diferentes áreas: renda, estabilidade econômica, emprego, distribuição de renda, sociedade civil, governança, educação, saúde, ambiente e infraestrutura. O ranking-base gerou a elaboração de mais três indicadores, para permitir a comparação do desempenho, efetivo ou potencial, dos países em momentos diferentes: 1) atual nível socioeconômico do país; 2) progressos feitos nos últimos cinco anos; e 3) sustentabilidade no longo prazo das melhorias atingidasComo seria de se esperar, os países mais ricos estão entre os que pontuam mais alto no ranking que mostra o estágio atual de desenvolvimento. Nessa base de comparação, que dá conta do "estoque de bem-estar" existente, a lista é liderada por Suíça e Noruega, e inclui Austrália, Nova Zelândia, Canadá, EUA e Cingapura. Aí o Brasil aparece em posição intermediária. Para Christian Orglmeister, diretor do escritório do BCG em São Paulo, o desempenho alcançado pelo Brasil é elogiável, mas deve ser visto com cautela. "Quando se parte de uma base mais baixa, é mais fácil registrar progresso. O Brasil está muito melhor do que há cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, mas é preciso ainda avançar muito mais." Entre os países que ocupam os primeiros lugares nesse ranking de melhoria relativa dos padrões de vida da população nos últimos cinco anos, a renda per capita anual é muito diversificada, indo desde menos de US$ 1 mil em alguns países da África até os US$ 80 mil verificados na Suíça. Além do Brasil, mais dois países sul-americanos, Peru e Uruguai, aparecem na lista dos 20 primeiros. Também estão nela três países africanos que em décadas passadas estiveram envolvidos em guerras civis, Angola, Etiópia e Ruanda, e que nos anos recentes mostram fortes ganhos em relação a padrão de vida. Da Ásia, aparecem na relação Camboja, Indonésia e Vietnã. Nova Zelândia e Polônia também integram esse grupo. O crescimento médio do PIB neozelandês foi de 1,5%, mas a melhora do bem-estar foi semelhante à de uma economia que estivesse crescendo 6% ao ano. Na Polônia e na Indonésia, que atingiram crescimento médio do PIB de 6% ano, o padrão de vida teve elevação digna de uma economia em expansão de 11%. O estudo também compara o desempenho recente dos Brics na geração de mais bem-estar para os cidadãos. Se em relação à expansão da economia, o Brasil ficou atrás dos seus parceiros entre 2006 e 2011, o país superou a média obtida pelo bloco em áreas como ambiente, governança, renda, distribuição de renda, emprego e infraestrutura, diz Orglmeister. China, Rússia, Índia e África do Sul aparecem apenas em 55º, 77º, 78º e 130º, respectivamente, nessa base de comparação, que é liderada pelo Brasil. O desafio brasileiro, agora, é manter esse ritmo no futuro, afirma o diretor do BCG. "O Brasil precisa avançar em quatro áreas principalmente", diz. "Na melhora da qualidade da educação, na infraestrutura, na flexibilização do mercado de trabalho e nas dificuldades burocráticas que ainda existem para fazer negócios no país." Para Douglas Beal, um dos autores do trabalho e diretor do escritório do BCG em Dubai, embora os indicadores reunidos para produzir o Seda pudessem ser utilizados para produzir um novo índice, esse não é o objetivo do levantamento. "A meta é criar uma ferramenta de benchmarking, que possa fornecer um quadro amplo. com base no qual os governos possam agir."

Revolução Silenciosa

Guido Mantega tem razão quando adverte que a economia brasileira passa por um período de transição profunda provocado pela queda dos juros. Por isso, todos agentes econômicos, inclusive os governos, têm de mudar certas práticas ligadas ao comportamento do mercado financeiro. Mantega chamou a atenção para o impacto sobre as empresas provocado pela redução do retorno nas aplicações financeiras. Isso exigirá que todo o setor produtivo concentre a busca de resultados nas suas atividades operacionais e não mais nas aplicações. O Estadão destaca outro efeito do mergulho dos juros. Trata-se da quebra do fator de multiplicação do patrimônio. A matéria aponta para análise do Opportunity de que, a juros básico de 7% ao ano e inflação da ordem de 5% ao ano, agora serão necessários nada menos que 100 anos para que alguém possa dobrar um patrimônio financeiro. Em 1999, mostra esse estudo, em somente 5 anos um patrimônio financeiro poderia dobrar seu valor real. Já havíamos alertado para o fato de que essa novidade impõe sérias implicações para a aposentadoria do brasileiro. Ou o aplicador terá de prever retiradas bem mais baixas do que as anteriormente previstas; ou terá de estender o período de contribuição para seu fundo de aposentadoria complementar; ou, ainda, precisará correr mais risco, por meio de investimentos em ações ou em títulos privados que oferecem garantia mais baixa. A queda dos juros escancarou outra distorção. As elevadas taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras para gerir fundos de investimento. Enquanto os juros permaneceram lá em cima, o aplicador não chegou a questionar a cobrança. Mas agora já não faz mais sentido a imposição de taxas de administração que variam entre 1% e 3% ao ano quando a remuneração líquida é inferior a esses níveis. O ministro Mantega vem observando que um dos beneficiários dos juros mais baixos é o próprio setor público, na medida em que o Tesouro terá que pagar uma remuneração menor pelos seus passivos. E que esse benefício de natureza fiscal acabará fortalecendo as finanças públicas. No entanto, o que o ministro Mantega ainda não reconheceu é o fato de que a redução dos juros também derruba a arrecadação federal. Apenas em cotas de fundos de renda fixa havia em setembro um saldo de quase R$ 2 trilhões. Se diminui a importância da renda financeira, também cairá a arrecadação média do Imposto de Renda sobre esse patrimônio, que é de 15%.

Palestina

É impraticável a convivência de duas tribos quando uma consegue criar zona de conforto só para ela. Há cerca de um mês, o jornal israelense Haaretz publicou texto que fechava com: "Precisamos finalmente desistir da esperança de que as coisas possam melhorar", em relação ao conflito entre israelenses e palestinos. Profético, não? Seu autor é um dos mais notáveis jornalistas de Israel, Gideon Levy, crítico das políticas de seu país, mas que não pode ser chamado de antissemita, como muitos judeus fazem quando alguém escreve algo que não lhes agrade. Veio-me logo à cabeça a frase de Dante, "abandone qualquer esperança você que entra", que encima a porta do inferno, e os palestinos e israelenses vivem em um inferno. O texto de Gideon Levy foi provocado por pesquisa que mostrava, segundo sua análise, que um terço dos israelenses querem negar aos cidadãos árabes de Israel o direito de votar de que hoje gozam. Seria uma maneira adicional de acentuar seu caráter de cidadãos de segunda classe. Cerca de 50% dos israelenses são a favor de transferir os árabes para fora do país. Seria a versão judaica de limpeza étnica, o que deveria ser aberrante para a comunidade que sofreu a mais violenta e odiosa limpeza étnica da história. Seria, além disso, uma aberta violação da legislação internacional que consagra o direito dos palestinos a um território, hoje em grande parte ocupado por Israel. A maioria admite que há apartheid em Israel, o que deveria ser rejeitado violentamente, não aceito alegremente. Levy extrai então as seguintes conclusões, entre outras: "Considerada a presente realidade, fazer a paz seria quase um ato antidemocrático; a maioria dos israelenses não a quer. Uma sociedade justa e igualitária também viola os desejos de muitos israelenses. Também é algo que eles não querem. Estão satisfeitos com o racismo, confortáveis com a ocupação, satisfeitos com o apartheid; as coisas vão muito bem para eles neste país. É o que disseram aos pesquisadores". De fato, os israelenses acomodaram-se em sua zona de conforto, a partir do instante em que a construção do muro que separa os territórios palestinos de Israel, e de pedaços de terras que são legalmente palestinas, controlou o terrorismo. Sucessivos governos israelenses foram, a partir de então, criando as condições para que Israel passasse a viver em segurança, sem se incomodar minimamente em respeitar as resoluções da ONU que exigem a retirada dos territórios ocupados, única forma de que possam de fato ser criados dois Estados viáveis. A imposição pelo mais forte criou essa situação em que um lado acha, para citar Levy, "que as as coisas vão muito bem para eles", e o outro lado vive miseravelmente. Aí vêm os ataques promovidos pelo Hamas. Israel descobre penosamente que não dá para viver ao lado do inferno sem sentir o calor das chamas. Os dois lados acabam dando razão a Dante.