terça-feira, junho 15, 2010

FSP de hj

No primeiro discurso como candidato, Serra repetiu um mantra tucano: o PT estaria "aparelhando" não só o governo mas o Estado. Junto com a acusação veio a consequência: produziria com isso os "neocorruptos".  A acusação é a de que o PT colocou o Estado a serviço do partido. E, ao unir Estado e burocracia partidária, o PT estaria "justificando deslizes morais", afirmou Serra. Conclusão: a "neocorrupção" ameaçaria a própria democracia. Um debate para valer deveria poder qualificar os termos. A democracia brasileira está em risco apenas em convescotes ideológicos. Aliás, onde estão mesmo aqueles que afirmavam com segurança absoluta que Lula iria buscar o terceiro mandato? A chegada ao governo de um partido que ficou na oposição durante 22 anos exigiria necessariamente a composição de uma equipe de governo nova em grande medida. Foi algo que aconteceu também com o PSDB em 1995. A diferença é que os tucanos herdaram quadros de administrações estaduais, já estavam no governo Itamar e fizeram uma aliança com o então PFL, um velho habitué do aparelho de Estado. Confundir esse processo com aparelhamento não ajuda a entender o que aconteceu no Brasil. Veja-se o caso das chamadas agências reguladoras. O fato é que o PT nunca se convenceu de que a fiscalização de concessões feitas pelo Estado deveria ser feita por intermédio de agências. Não se trata de aparelhamento, mas de discordância em relação ao modelo implantado pelos tucanos. O governo Lula não aboliu o modelo, mas lhe deu uma outra função: passou a usar as agências para moderar o poder de alguns ministros, à maneira de um contrapeso. Se o problema de aparelhamento fosse real, a proposta deveria ser a de limitar o número de cargos de confiança e comissionados a um número próximo do ínfimo. Isso não acontece, porque nem PT nem PSDB acham que podem imprimir sua marca nas políticas de governo sem suas equipes. Se o problema do aparelhamento fosse levado a sério, ele estaria posto onde realmente acontece. Corrupção é um problema sério demais para ficar misturado sem mais com política. 
Avanços democráticos vêm com a discussão de problemas reais. Pedem que fantasias de cubanização e de aparelhamento sejam deixadas para encontros sociais. 

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