quarta-feira, junho 09, 2010

Vox Publica

O assistencialismo sozinho não explica o comportamento do eleitorado governista na sucessão presidencial. Tampouco alistar eleitores em programas sociais é garantia de voto na urna. Outros fatores, como a região onde mora o eleitor, são mais importantes na divisão do voto. Essas são algumas das conclusões da pesquisa Ibope. Cruzamento especial mostra que no conjunto da região Sul/Sudeste José Serra (PSDB), ganha de Dilma Rousseff (PT) entre os eleitores que moram em domicílios que são beneficiados pelo Bolsa Família. O tucano tem 40% das intenções de voto contra 35% da petista. A vantagem de Serra entre os assistidos é metade da que ele tem no total de eleitores dessas regiões, mas, ainda assim, é surpreendente, em se tratando de um grupo que teoricamente seria mais favorável ao candidato de Lula. Já no conjunto das regiões Norte/Nordeste/Centro-Oeste, a vantagem na disputa pelos eleitores assistidos por programas federais se inverte. Dilma tem 49%, enquanto Serra chega a 27%. A distância em favor da petista, de 22 pontos, é grande, mas não muito maior do que a vantagem que ela leva no total do eleitorado dessas três regiões, onde bate o tucano por 45% a 28%. Se levarmos em conta o total do Brasil, 30% dos eleitores vivem em domicílios que têm ao menos um morador beneficiado por um programa social do governo federal, do Bolsa Família ao Luz para Todos. Na média brasileira, esse fator também mostrou-se menos decisivo para determinar a intenção de voto dos eleitores do que o senso comum acostumou-se a pintar. Dilma tem uma vantagem de 43% a 33% sobre Serra (eles empatam em 37% no total do eleitorado). Os cruzamentos da pesquisa mostram que as razões de voto são multidimensionais, são camadas de motivos superpostos. Nenhum fator sozinho explica a decisão do eleitor. As diferenças de renda e escolaridade também não explicam a preferência por Serra ou Dilma. No Norte/Nordeste/Centro-Oeste, a candidata do PT vence em todas as classes sociais, e com uma vantagem ainda maior entre os mais escolarizados e ricos do que entre os pobres e com poucos anos de estudo. Do mesmo jeito, Serra lidera em praticamente todos os segmentos socio-econômicos do Sul/Sudeste. Logo, mais do que a renda, mais do tempo que o eleitor passou na escola, e até mesmo mais do que o fato de ele se beneficiar de um programa federal, é a região geográfica que diferencia o voto na sucessão presidencial de 2010. A pesquisa Ibope não fornece elementos para uma explicação definitiva sobre a razão desse determinismo geográfico do voto. Mas dá algumas pistas. O governo Lula é sensivelmente mais bem avaliado no Nordeste do que no Sul. Mas essa avaliação geral mais positiva não se explica por uma percepção, por exemplo, de que as oportunidades de emprego ou o consumo das pessoas melhoram mais no Norte/Nordeste/Centro-Oeste do que no resto do país. O percentual dos que acham que a essas dimensões econômicas melhoraram se equivale ao verificado no Sudeste. Isso indica que há outros motivos, talvez ligados à tradição política de cada região, que contribuem para essa dicotomia eleitoral. Algo como o que ocorre nas eleições presidenciais norte-americanas, onde há uma divisão Norte-Sul entre democratas e republicanos.

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