quinta-feira, março 10, 2011

Combate a Inflação

Embora eu ache que o risco da inflação se elevar ainda mais não seja desprezível, eu aprendi ao longo destes anos de business que políticos pensam de forma diferente . Logo, tentei vestir os sapatos dela e ver como ela deve estar vendo esta situação:
A. Herança Lulística: o nosso líder deixou uma economia superaquecida, andando claramente acima do seu potencial, com inflação subindo, e gasto público voando, além de um BNDES emprestando muito, é óbvio que uma pessoa com a competência técnica da Dilma sabia disto. E ela se beneficiou disto nas eleições. Porém brecar um trem que vem nesta velocidade não é fácil e pode ter um custo bem grande em termos de queda de produto e de popularidade, que estava no pico com Lula. Uma queda maior de popularidade pode enfraquecer seu governo junto ao congresso e dificultar a aprovação de medidas e de reformas no momento em que Dilma estaria mais forte. Logo, esfriar a economia é um problema político.
B. Guido não é exatamente um sujeito que tem estômago ou vocação para políticas de austeridade. E ela sabe que exigir isto dele pode causar mais confusão. E o novo BC é menos efetivo em comunicação e gestão das expectativas do que o anterior, pois teme a retaliação política do PT, que está cada vez mais forte. Logo, aqui ela vê claramente um risco de execução, algo que Lula não teve que encarar com Palocci e Meirelles em 2003.
C. Não se sabe o efeito combinado da(s):
1. Quebra do Panamericano na oferta de crédito pelos bancos médios com muitas dificuldades de funding;
2. Redução da oferta de crédito pelo BNDES;
3. Medidas de corte de gasto, e seu tamanho real, sobre a demanda privada;
4. Forte apreciação cambial real que temos vivido. Câmbio aqui não anda, porém IGPM anda 10%aa. Logo, podemos dizer que há sim uma valorização real do R$. Esta valorização pode ter efeito bastante perverso na indústria;
5. Recente aceleração inflacionária sobre renda real das famílias que pode reduzir demanda e consumo;
6. Medidas prudenciais de restrição ao crédito e ao consumo;
Como é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e a maioria por escolha do governo, fica duro avaliar quais os efeitos de tudo isto sobre a inflação e atividade econômica. É como dar 6 remédios ao mesmo tempo a um paciente com dor de cabeça forte: não se sabe qual fará efeito, e qual será o efeito colateral adverso que tal combinação de remédios pode trazer ao organismo a longo prazo. A chance da dor de cabeça acabar é grande, porém não se sabe em quanto tempo e a que custo.
D. Dilma é bastante sensível ao apelo dos empresários que nunca ganharam tanto na vida. A última coisa que eles querem agora é uma economia mais fria. Eles são da linha que uma inflaçãozinha não dói.
Assim, levando em conta estes fatores, é provável que Dilma adote uma política mais cautelosa no combate a inflação, o que pode levar a um processo mais longo, e assim mais custoso em termos de PIB potencial de longo prazo, pois é provável que, neste cenário, o investimento privado se desacelere mais rápido do que o consumo, como os dados sobre atividade já nos mostram. O que a maioria das pessoas não percebe é que uma pancada mais forte e mais rápida no juro reduziria expectativa de inflação mais rapidamente. Isto permitiria um ciclo mais curto de ajuste o que reduziria o impacto negativo no investimento e no emprego. Se ciclo de ajuste for longo, empresários tendem a rever e adiar seus planos de investimentos e empregos.

Nenhum comentário: