terça-feira, março 22, 2011

Memória e Verdade

Esta é a Semana da Memória na Argentina, período em que o país inteiro lembra o golpe militar de 24 de março de 1976. Além da já tradicional marcha que acontece na quinta, entre o Congresso e a Praça de Maio, uma das novidades deste ano é o Primeiro Encontro pela Memória, Verdade e Justiça, que começa hoje, na Câmara dos Deputados. Discutirá especificamente a Operação Condor, plano repressivo coordenado pelas ditaduras do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Bolívia, na década de 1970. Outras manifestações ocorrerão no antigo prédio da Escola Superior de Mecânica da Armada, conhecida como ESMA, onde funcionou o Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio, emblema da última ditadura militar, por onde passaram cerca de cinco mil pessoas. O local, de 17 mil m², não faz parte dos recorridos turísticos tradicionais, mas merece ser visitado pelas pessoas interessadas em entender a história do país. O centro foi transformado em espaço de memória durante o governo do presidente Nestor Kirchner e recebe a visitação de 12 mil pessoas por ano. Lá funcionam o Arquivo Nacional da Memória, o Centro Cultural Haroldo Conti, além das sedes de instituições de direitos humanos como a das Mães e das Avós da Praça de Maio. O chamado Cassino dos Oficiais, para onde eram levados os detentos, permanece intacto. A ESMA é ainda o personagem principal do filme O Prédio, que está em cartaz. O longa documenta a transição do local de centro de tortura a espaço de preservação da memória e, ao contrário do que se poderia esperar, não tem depoimentos nem relatos em off. “El testimonio que me interesa es imposible, porque es el de los que no sobrevivieron”, diz o diretor. Outro destaque da programação é a exposição Vestígios, que pode ser vista AQUI. Amigos e familiares de vítimas da ditadura forneceram e contaram histórias de alguns desaparecidos. Mas os hermanos vão alem das lembranças. Em 2010 a Justiça Argentina registrou uma cifra recorde – a condenação de 110 repressores. Outros 112 serão julgados este ano. Agora falta o Brasil ter a coragem de olhar para trás. Também queremos Memória, Verdade e, por que não, Justiça.

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