terça-feira, julho 31, 2012

+ um Centenário

Milton Friedman, o + famoso economista americano do pós-guerra, faria hoje 100 anos de idade. Economista brilhante e mestre da promoção de suas ideias. Era articulado, falante, simpático e nunca ficou fechado em grupos acadêmicos. Friedman foi o relançador do "Monetarismo", teoria anterior a ele e que teve como guru Irving Fisher, que queimou sua reputação ao declarar semanas antes da quebra da bolsa em outubro de 1929 que estava tudo normal e que não havia crise à vista. Friedman reformulou e modernizou a teoria quantitativa da moeda, fez sua divulgação e promoção em uma serie de conferencias, convenceu a cúpula do sistema sobre a qualidade de seus estudos e teve apoio logístico e suporte operacional do Citibank para sua cruzada. Friedman tinha adquirido fama como autor de uma obra clássica Historia Monetária dos Estados Unidos que escreveu junto com sua amiga de toda a vida Anne Schwarz, que morreu no mês passado com quase 100 anos. Friedman tinha uma qualidade excepcional para um economista, sabia escrever bem e claramente, para leigos, razão pela qual seus livros vendiam muito bem. Expoente da Escola de Chicago, Friedman deixou seu legado com alguns fiéis seguidores, como Alan Greenspan. O monetarismo é constantemente confundido por leigos com o neoliberalismo, quando são dois conceitos muito diferentes. O monetarismo é uma teoria econômica acadêmica sofisticada e bem elaborada, enquanto o neoliberalismo é uma visão ideológica que propõe reformas econômicas de mercado, não trata especificamente da moeda e sim da propriedade e do papel do Estado na economia. Friedman e o monetarismo acabaram antes do fim do século como novidade e o papel de suas teses foi ultrapassado por novos contextos geopolíticos, como a emergência da China, o 11 de Setembro, a perda de liderança dos EUA nos organismos multilaterais e as tensões políticas da Era Bush. Dentro de seu apregoado conservadorismo monetário Friedman tinha propostas instigantes, era a favor do bolsa-familia e da liberalização do uso da maconha. Friedman foi um dos mais influentes economistas da segunda metade do Século XX em uma escala muito maior do que hoje são Krugman ou Stiglitz. A Escola de Chicago influenciou a formulação do Plano Real e o fim da inflação recorrente em muitos países, uma inflação que atingiu grande parte do mundo do pós-guerra e em especial os países do então Terceiro Mundo. Para o bem ou para o mal, o monetarismo de Chicago teve um enorme papel político, foi usado como ferramenta intelectual por bancos centrais, regimes políticos e escolas de economia por todo o mundo.

Evolução das ideias

Diz um provérbio berbere, que a verdade é como o camelo: tem duas orelhas. Você pode agarrá-la como lhe for mais conveniente, pela direita ou pela esquerda. Essa parece ser a postura do velho Serra, que prefere a direita. É um desconsolo descobrir o que o tempo faz aos homens. Não só, como no poema de Drummond, ao abater com sua mão pesada, cobra os anos com “rugas, dentes, calva”, mas também costuma sulcar erosões nas idéias. José Serra quer calar os blogueiros. O que está em questão é muito maior do que os franco-atiradores da internet. O problema real são os limites que querem impor à democracia. Ao que parece, há uma liberdade de imprensa para uns, e outra, para os demais. Os grandes veículos de comunicação combatem o governo, apesar de receberem dele vultosas verbas de publicidade. Alguns blogs, por convicção, defendem o governo federal, mas, conforme o PSDB,  estão impedidos de receber verbas publicitárias das empresas estatais. Nenhum jornalista brasileiro pode se dar o luxo de não contar, em sua remuneração, qualquer que ela seja, com parcelas, ainda que pequenas, de dinheiro público. O poder público é a base de toda a economia nacional. Ele contrata as empreiteiras, compra das industrias, além de subsidiá-las com incentivos fiscais,  financia as atividades agropecuárias,  paga pelos serviços,  participa do custeio das grandes organizações patronais, entre elas a Fiesp. Assim, indiretamente, participa de todos os gastos com publicidade. E mais, ainda: quem paga tudo, afinal, é a sociedade e, nela, os que realmente produzem, ou, seja, os trabalhadores. E são os trabalhadores, com parcela de seu suor, que mantêm o enganoso Fundo de Amparo ao Trabalhador que, administrado pelo Estado, por intermédio do BNDES, financiou as privatizações. Em suma, o trabalhador paga pela corda que o sufoca. Serra, e os que pensam como ele, tentam, como Josué em Jericó, segurar o sol com as mãos, ou, melhor, impedir que a Terra continue rodando em torno de seu eixo e em torno da nossa estrela. A internet é indomável. E, apesar de suas terríveis distorções, que serve à difamação, à calúnia, à contrainformação, a difusão de atos de insânia, ampliando o que a televisão vinha fazendo, não há, no horizonte das ideias plausíveis, como amordaçar os bytes, imobilizar os elétrons, apagar as telas. Tudo isso poderá ocorrer com uma tempestade solar, mas nunca pela ação dos estados. O eterno-candidato Zé Serra e seus correligionários se encontram alheios ao mundo que os cerca. Estão como um francês distraído que, em 10 de agosto de 1792, em um dos muitos cafés do Jardim das Tuileries, tomava placidamente uma baravoise, enquanto isso, a multidão invadiu o Palácio Real e o saqueou. O desconhecido continuou a beber. Todos os que o cercavam fugiram esbaforidos. Na defesa do palácio, morreram 600 guardas suíços. O francês distraído estava alheio a tudo, em sua manhã de agosto. Cinco meses depois, o Rei Luis XVI e a Rainha Maria Antonieta encontrariam a lâmina da guilhotina. Os Tucanos estão pensando em seu outubro, embora estejamos, no mundo inteiro, em tempos semelhantes aos do francês. Como sempre, o que está em jogo é a mesma reivindicação: igualdade, liberdade, fraternidade, ou seja, a democracia real

terça-feira, julho 24, 2012

Grãos

Problemas climáticos e baixos estoques fizeram com que os preços de grãos disparassem. Preços subiram 50% desde o começo do ano, tendo passado pico de 2008. Isto significa:

a. pressão na inflação de alimentos, na cadeia proteica, pois grãos são insumos na produção de carne;
b. redução de margem para produtores de carne e frango;
c. mais renda no campo;
d. mais dólares entrando das exportações de grãos;
Turma do Sul, Goiás e do Mato Grosso deve estar animada... vendas de caminhonetes devem bombar!!! Já a turma da pecuária e os avicultores devem estar vendendo suas caminhonetes… E BC deve começar a ficar preocupado, embora a desoneração da cesta básica ajude a contrabalançar este efeito no IPCA.

Privataria

Os principais argumentos de defesa das operadoras de telefonia diante do revés público sõ três. Primeiro, o SindTtelBrasil vai à televisão e culpa as prefeituras de atrasarem as licenças para colocação das antenas indispensáveis. Segundo, afirmam que houve um enorme aumento de demanda que os teria pego de surpresa. Terceiro, que a Anatel não explicitou os critérios usados para fundamentar a punição. 
Um mínimo de história pode ajudar. Os militares criaram a Telebrás por questão de segurança nacional e porque se esperava que o Estado saberia gerir bem. A Telebrás no entanto não foi capaz de atender a demanda, na época de telefonia fixa apenas. Era difícil conseguir linha para telefonar. Telefones eram privilégios de poucos. De tão escassas e valiosas as pessoas deixavam suas linhas em testamento. O culpado era o governo. Veio então a ideia de que empresas privadas em concorrência regulada teriam como consequência natural melhor serviço para o consumidor. Não tem sido verdade. Se é para continuar culpando governos, não se precisava de privatização. Se é para não prever a expansão do mercado, suprir bons serviços, ficaríamos com a Telebrás. Se é para as empresas não terem recursos suficientes para investir, por mais que invistam, ficaríamos com a Estatal.
A defesa das operadoras contra a Anatel não faz jus nem ao modelo regulatório, nem à infinita paciência que os usuários têm tido com ambas: operadoras e Anatel. O problema de fundo é: regular a concorrência não é fim. É meio. A qualidade do serviço financeiramente acessível é a finalidade que justifica o modelo de privatização. Sem dúvida as operadoras conseguiram universalizar os serviços. Conseguiram constante atualização tecnológica. Mas estão longe de prover a qualidade de serviço e um menor preço ao consumidor. Quanto ao último argumento, de que Anatel não fundamentou os critérios da punição, basta atentar para o crescente número de processos contra as operadoras no Judiciário. O patológico crescimento dos juizados especiais que ultrapassou a justiça de trabalho em casos enviados ao Supremo, deve-se em grande parte a reclamações dos consumidores de telefonia. Agravado pela cultura do recurso a qualquer custo dos departamentos jurídicos das telefônicas. Como desabafou um magistrado do Rio de Janeiro diante do crescente número de ações de telefonia que ele tinha que decidir: “Estou cansado de trabalhar para operadoras de telefonia ineficientes”.

terça-feira, julho 03, 2012

Brasil


Muitos são os instrumentos para a construção do futuro e a consolidação do imenso avanço social e econômico experimentado pelo Brasil na última década. E eles têm sido muito bem utilizados em nosso país. Desde o crédito facilitado e ao alcance de dezenas de milhões de cidadãos, antes integrantes da categoria dos “desbancarizados”, até iniciativas de altíssimo alcance social como os programas que mudaram a face de um Brasil injusto e excludente: Pro-Uni, Bolsa Família, PetiTarifa Social de Energia Elétrica, dentre outros. E, mais recentemente, o Brasil Carinhoso. Ao anunciar o Plano Brasil Maior, o governo federal dá continuidade aos programas de incentivo ao crescimento econômico tão indispensável a um país com a grandeza do Brasil. Desta vez, depois de desonerar em muito a indústria e os investimentos no setor produtivo, o governo vai utilizar suas compras como principal instrumento para impulsionar a atividade econômica. O PAC-Equipamentos e o Programa de Compras Governamentais irão possibilitar melhorar a infraestrutura e a mobilidade pública do país. Trata-se de iniciativa de imensa importância quer no incentivo à economia quanto na melhora das condições para a prestação dos serviços públicos. Nunca houve, antes, tanta preocupação com a questão social no Brasil. E, mais que isso: jamais se alcançaram resultados tão auspiciosos e evidentes. O estado brasileiro apresentou-se pela vez primeira a cidadãos que eram números do IBGE, mas não eram alvo da atenção, da preocupação ou mesmo do respeito por parte dos governos que se sucederam no poder. Eram, sim, uma realidade estatística, mas não contavam na formulação das políticas governamentais. Existiam, mas não eram respeitados. Frequentavam os discursos, mas não os comoviam pela penúria em que viviam ou pelo descaso a que foram relegados. Pior, eram desrespeitados. Há uma parcela do pensamento nacional que atribui aos vitoriosos programas instituídos desde 2003, absurdos como os de que “estimulam a vagabundagem” ou “é uma esmola”. Trata-se de um extrato social, mesquinho, partidarizado e parasitário, que desconhece a realidade do Brasil e evitava conhecê-la nos anos infames dos governos descomprometidos com o povo, mas comprometidos com a pior espécie de capitalismo, e que nada faziam para mudar nossa dura realidade ou minorar o sofrimento de dezenas de milhões de brasileiros desamparados, famintos, analfabetos e doentes. Existia no Brasil um projeto de país indecente, lamentável, implementado de forma deletéria nos Governos do Século XX. Era um Brasil para 3 milhões de brasileiros, não mais que isso. A esses privilegiados estava destinado o usufruto de nossas riquezas, uma existência tranquila e promissora, saúde de boa qualidade e educação de alto nível, boas condições de vida e o domínio de um país profundamente elitista, socialmente injusto e economicamente concentrado nas mãos de pouquíssimos grupos empresariais. Um estado mínimo, onde poucos mandariam muito e viveriam bem, enquanto uma imensa massa de mais de 150 milhões de cidadãos nada mais seriam que modernos servos da gleba, relegados a plano inferior e sem qualquer atenção por parte dos poderes públicos. O governo que por ele foi sustentado, ironicamente chefiado pelo sociólogo FHC, bancou essa crueldade, levou a cabo essa tentativa de um Brasil para muito poucos, com impressionantes frieza e impiedade. O resultado não poderia ter sido pior: desemprego, falências de milhares de empresas, inéditos congelamento e achatamento salarial, desmonte da estrutura do serviço público, privatizações lodosas e presenteadas, desrespeito aos funcionários públicos e aposentados. Isso tudo com a complacência, a leniência ou mesmo o engajamento de diversos setores da vida nacional, como a quase totalidade da imprensa. O que não se gastou com a educação, com programas sociais absolutamente indispensáveis, com a saúde, gastou-se no financiamento às corporações que compraram nossas melhores empresas estatais na bacia das almas. Torraram-se, também, no PROER, bilhões de reais para socorrer os mesmos banqueiros falidos que haviam financiado generosamente as campanhas desses governos. Poderíamos lembrar o apagão, mas é desnecessário: ele está vivo na lembrança dos que receberam atônitos a informação de que o país com maior concentração hídrica do planeta, com invejável estrutura energética, que construiu Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, abandonou o setor durante anos e jogava nas costas das famílias, dos comerciantes, dos industriais, dos prestadores de serviço, a pesada conta de sua imprevidência, da ausência de investimentos em nosso sistema elétrico e, com a frieza e a crueldade tão habituais, ainda estabelecia pesadas multas e punições a quem não consumisse menos e não arcasse com o ônus do desastre anunciado. Ivan Lessa escreveu que no Brasil a história é apagada de tempos em tempos e tudo recomeça. Por conta disso, os que pousam de moralistas, dão vazão a mentiras que insistem em assumir as cores da verdade e com imensa desfaçatez não querem respondem por um governo que levou o Brasil três vezes ao fundo do poço, às quebradeiras inesquecíveis, ao humilhante guichê do FMI. Nós, petistas, contrapusemos o nosso projeto de país ao dos neoliberais. E os brasileiros apostaram nele em 2002. Vencemos, mas não foi fácil mudar o curso da história, recuperando um país falido e sem qualquer credibilidade, absolutamente desmoralizado perante as demais nações. Em 2006, por larga margem de votos, os brasileiros repeliram a campanha agressiva e a argumentação torpe da oposição. Já no ano de 2010, depois da mudança radical da face de um país derrotado que se firmou como país vitorioso e com imenso futuro, vencemos novamente. Pela primeira vez em sua história os brasileiros assistiram uma campanha lamacenta, fundamentalista, reacionária e mentirosa promovida pelos tucanos de Serra. Todo esse sofrimento, porém, valeu a pena. Os programas idealizados e levados adiante pela notável Ministra Tereza Campello tiveram o inexcedível mérito de dar aos mais de 40 milhões de brasileiros beneficiados a oportunidade de morarem melhor, chegar às universidades, tornarem-se pequenos empresários, trabalharem, darem mais conforto e dignidade à vida de suas famílias. Mas, muito mais que isso: milhões e milhões de pessoas que deixaram de serem números, passaram a comer, isso mesmo, não comiam. Que país era esse? O que sonhamos? Não. Esse era o país dos que hoje fazem oposição irresponsável e cerrada. Aos que acusam e tentam humilhar, respondemos com um Brasil mais justo e democrático, mais solidário e fraterno, mais pujante e poderoso. Nossa economia deu um salto espetacular. Nos anos infames caímos de 9ª economia mundial para um cinzento 16º lugar. Pagamos a conta do desastre, arrumamos a casa, mudamos o país e o tornamos vencedor e respeitado. Somos hoje a 6ª potência econômica do planeta e resistimos muito bem ao atual momento negativo da economia internacional por conta da solidez deste Brasil que construímos, com forte classe média, emprego pleno, economia estável, indústria, comércio e serviços vivendo momentos jamais experimentados antes, agricultura modernizada e em franca expansão, a indústria da construção e nossas exportações em ritmo ascendente. O Brasil tomou um caminho claro e acertado: ser uma sociedade mais democrática e pluralista, com justiça social e inclusão daqueles que foram segregados e abandonados, que foram claramente excluídos das preocupações e das ações do estado. Invertemos o jogo. Temos pagado caro pela ousadia de ter transformado o sonho de um Brasil muito melhor em realidade. Mas, vencemos e todo sofrimento é nada em favor de nosso país e de nosso povo.


terça-feira, junho 26, 2012

As Listas


Adoro Listas!!! Me interesso muito pelas listas de felicidade. Em geral, elas combinam dados sociais e entrevistas nas quais um grupo representativo de pessoas diz qual é seu grau de felicidade. Foi ao ver uma delas, em que a Dinamarca estava na ponta e seus vizinhos nas primeiras colocações, que acabei me interessando pela Escandinávia. Era 2009, e fui pesquisar para entender o que estava por trás da satisfação dos dinamarqueses. O modelo escandinavo é a coisa mais fascinante da Europa. Combina as virtudes do capitalismo com as do socialismo de uma maneira extremamente bem sucedida. Repare. Em todas as listas relativos a avanço social, a Escandinávia domina. Bem, fiz este intróito porque outro dia vi uma lista da Gallup que colocava os venezuelanos como o quinto povo mais feliz do mundo. Um levantamento da Universidade de Columbia  e chancelado pela ONU trouxe também os venezuelanos numa situação invejável: o povo mais feliz das Américas. Como? Mas não é um inferno a Venezuela?? Chávez não é o Satã??? Como curioso que sou, fui pesquisar para tentar entender. Fui dar num estudo feito por um instituto americano chamado CEPR, baseado em Washington: “A Economia Venezuelana nos anos de Chávez”. O CEPR jamais poderia ser desqualificado como “chavista”. E então fico sabendo coisas como essas:
1) Em 1998, quando Chávez assumiu o poder, havia 1628 médicos para uma população de 24 milhões. Dez anos mais tarde, eram quase 20 000 médicos para uma população de 27 milhões;
2) Os gastos sociais subiram de 8% do PIB, em 1998, para 14%. “Se comparamos a taxa de pobreza pré-Chávez (44%) com a registrada dez anos depois (27%), chegamos a uma queda de 37% no número de venezuelanos pobres”, afirma o estudo.
3) O índice de desemprego, que era de 19% em 1998, caiu pela metade.
No trabalho, os autores notam que a percepção entre os americanos sobre a Venezuela de Chávez é ruim. Motivo: a cobertura enviesada da mídia. E, com números, desmontam o mito de que o segredo do avanço da Venezuela está no petróleo e apenas nele. Mas eu queria saber mais. Dei no site do Jazeera, uma emissora árabe bancada pelo Catar que faz jornalismo de primeira qualidade. O Jazeera traz vozes que você não costuma encontrar na imprensa brasileira, e isso ajuda você a entender melhor o mundo. Vi um programa jornalístico cujo título era: “Os venezuelanos estão melhor sob Chávez?” Como sempre, o Jazeera colocou especialistas com visão diferente. Um comentarista americano criticou o “espírito de mártir” de Chávez. Mas os dados objetivos ninguém contestou. A mortalidade infantil diminuiu, a expectativa de vida aumentou, o número de universitários cresceu e as crianças venezuelanas estão indo à escola numa quantidade sem paralelo na história do país. Um consultor americano de empresas interessadas em investir no exterior disse: “Quem quer que queira se eleger na Venezuela vai ter que dar prosseguimento aos programas sociais”. Problemas? Muitos. Criminalidade alta, pobreza e desigualdade ainda elevadas. Mas atenção: os problemas antes eram muito maiores. Vale a pena ver o premiado documentário do jornalista australiano John Pilger, radicado na Inglaterra, sobre o papel dos Estados Unidos na América do Sul. O nome é Guerra contra a Democracia. Ele está disponível, em fatias, no YouTube, com legendas em português. Da imersão em Venezuela, compreendi por que Chávez é tão popular, e por que seu maior adversário nas eleições futuras é, na verdade, o câncer.

Marx


Aqui estou eu, diante da célebre frase de Karl Marx: Os filósofos, até aqui, interpretaram o mundo. A questão é transformá-lo”. Muitas vezes a li, muitas vezes a ouvi, muitas vezes a escrevi. Marx não está inteiramente morto. É visitado cotidianamente por pessoas de todo o mundo. Marx acabou meio que por acaso em Londres, onde passaria os últimos vinte anos de sua vida atormentada por dívidas, furúnculos e brigas de toda natureza. As ideias revolucionárias o fizeram indesejado primeiro na sua Prússia e depois em Paris, onde se asilou. Londres era para ser uma escala temporária, mas se tornaria sua cidade definitiva. Sem Londres Marx não seria Marx. Foi em Londres, na opulência literária incomparável do British Museum, que ele pôde devorar os livros que o habilitariam a escrever O Capital em sua letra ininteligível. O Capital é, depois da Bíblia, o livro mais vendido do mundo. Ambos são muito mais comprados que lidos. O Capital é tão complicado que os estudiosos inventaram uma fórmula para facilitar a leitura na qual a ordem dos capítulos é outra. Assim como Proust e Montaigne, Marx não precisa ser lido linearmente. Algumas linhas ao acaso logo mostram a força descomunal da prosa marxista. Um gênio frasista, Marx é continuamente citado.  “Um fantasma ronda a Europa” e “a história se repete como farsa” são frases que se transformaram em clichês de tanto usadas. Marx inventou muita coisa. Inventou o esquerdista barbudo, uma imagem que resistiu ao tempo. Os brasileiros a conhecem bem. Se Marx não fosse barbudo, Fidel provavelmente importaria barbeadores para sua Ilha. Marx inventou também a crença fanática num sistema que responderia simplesmente a todas as questões que a humanidade pudesse erguer. No apogeu do marxismo, seus seguidores tinham a certeza de que O Capital explicava tudo. É mais ou menos o que pensam hoje os islamitas extremistas sobre o Corão. Marx inventou ainda, indiretamente, o Welfare State, o modelo capitalista europeu no qual os trabalhadores são protegidos. Seu Manifesto Comunista, de 1848, foi determinante para que, poucos anos depois, a Alemanha de Bismarck criasse leis inovadoras trabalhistas. O Manifesto conclamava os proletários a se insurgir porque nada tinham a perder exceto “os grilhões” e tinham “o mundo” a ganhar. O Welfare State, se não ofereceu o mundo aos proletários, livrou-os das correntes e deu-lhes o bastante para que tivessem o que perder. Mas Marx inventou também o esquerdista intolerante e fundamentalista. Marx jamais conseguiu conviver num ambiente de ideias que se contrapõem. Rompeu com pensadores de esquerda como ProudhonBakunin por não aceitar divergências. A alma intransigente de Marx moldou a de marxistas como Lênin e Stálin. A crise econômica financeira mundial colocou Marx em situação de vantagem sobre seu arquirrival em influência, o escocês Adam Smith. Smith, autor do clássico A Riqueza das Nações, acreditava que a “mão invisível” do mercado corrigiria tudo. É uma ideia que hoje não parece ter muitos pontos de sustentação. Não foi só Marx que ressurgiu. Também Keynes, o aristocrático inglês que entendia que o governo tinha que de alguma forma guiar a “mão invisível”, voltou a ser tema de palestras, discussões e livros. “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”. É outra frase célebre sua. Os trabalhadores de todo o mundo afinal não se uniram, como o tempo mostra. Mas como eles poderiam fazer isso se o homem inflamado e excepcionalmente cintilante que os conclamou jamais conseguiu ele próprio, se unir a ninguém que ousasse pensar diferente???

Caprilles


Fiquei interessado em conhecer as idéias de Henrique Caprilles, que é o adversário de Chávez nas eleições venezuelanas. É um jovem, aos 39 anos tem experiência política, foi prefeito e governador. Causa boa impressão, inegavelmente. Tem ascendência polonesa, seus avós fugiram do nazismo, e uma ideologia de centro esquerda. Minha pesquisa se baseou em material internacional, dada a escassez de informações sobre ele nas publicações brasileiras. Nelas, sobretudo entre os comentaristas, Caprilles aparece, basicamente, apenas como uma alavanca para os habituais ataques a Chávez, o satanásO que mais me chamou a atenção foram duas coisas. Primeiro, Caprilles disse, publicamente, que sua “fonte de inspiração” são os programas sociais de Lula. Nos elogios a Caprilles que o leitor brasileiro fatalmente lerá em doses cavalares, este é um dado que provavelmente jamais será citado. Segundo, Caprilles disse, também publicamente, que seria “louco” se interrompesse os programas sociais de Chávez. São vários. Um dos mais interessantes é um que proporcionou atendimento médico a milhões de venezuelanos que jamais tinham tido antes acesso a um médico. Chávez se valeu, aí, de suas boas relações com Cuba – uma referência internacional em saúde pública, algo que nem os mais acerbos críticos de Fidel contestam. Quase 40 mil médicos cubanos estão na Venezuela para atender pobres e, também, ensinar medicina a jovens venezuelanos. Caprilles, caso eleito, pode ter alguma dificuldade em manter a ajuda médica cubana tal como é hoje. Durante os poucos dias em que Chávez foi afastado numa tentativa de golpe frustrada, Caprilles, então prefeito, fez pressão sobre uma embaixada cubana para que fossem entregues chavistas que estivessem porventura refugiados. Caprilles tem feito um discurso conciliador. Diz que será o presidente de todos os venezuelanos, incluídos os “vermelhos”, em referência à cor do chavismo. Mas esta tentativa de conciliação, pelo menos por enquanto, está longe, bem longe de Havana. Caprilles tem uma batalha morro acima: está bem atrás de Chávez nas intenções de voto. Provavelmente perderá, mas é um bom candidato. O PSDB, tão carente de rumo depois de FHC, e tão sem caras novas por conta do monopólio exercido por Serra, e tão sem apelo perante os pobres no Brasil, talvez pudesse encontrar no caso Caprilles uma pista para se reinventar e ser uma alternativa real e moderna ao PT.

Smartphones


O Wall Street Journal noticia o fechamento do escritório da taiwanesa HTC em São Paulo, “que supervisionava vendas e distribuição na América Latina”, para “focar em outros emergentes, como China, onde os segmentos de preço médio para alto, alvos prioritários da HTC, têm mais espaço para crescer”. No site do “WSJ”: O Brasil é seguramente um mercado de crescimento muito rápido para smartphones. Por que a HTC está saindo? Todo mundo está com os olhos voltados para o Brasil. Concorrentes da HTC, Lenovo e ZTE estão procurando instalações para fabricação. Essa operação específica da HTC era de vendas e distribuição, portanto eles não estavam mesmo fabricando, mas é um sinal de que a HTV está realmente tendo dificuldade para ganhar terreno no mercado de smartphones. Se você olhar para o mercado de smartphones agora, há vencedores e perdedores. O campo vencedor é na verdade de Samsung e Apple, com o domínio em fatia de mercado. As empresas que estão se debatendo são Nokia, HTC e RIM.

segunda-feira, junho 04, 2012

Perguntas que sobram

Suponhamos que, no encontro de Lula, Jobim e do Ministro Gilmar Mendes, do STF, tudo tenha se passado exatamente como  este último relatou à Veja, embora os outros dois neguem tratativas sobre a oferta de blindagem ao magistrado na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento do MensalãoA execração do ex-presidente foi imediata, por parte dos que tomaram a narrativa do ministro como verdade indiscutível. Falta perguntar, porém, se a conduta de Gilmar Mendes, como magistrado da corte suprema, foi correta. Manteve ele o decoro exigido??? Foram observados os preceitos do Código de Ética da Magistratura Nacional??? Tal Código determina que o exercício da magistratura seja norteado “pelos princípios da independência, da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.” Manda o Código que o magistrado, buscando sempre a verdade nas provas, mantenha “distância equivalente das partes e evite todo tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”. Mas Lula não é réu no caso e por isso o encontro em si não foi aético ou indevido. Manda ainda o Código que o magistrado denuncie todas as tentativas de cercear sua independência. Supondo que Lula o tenha mesmo pressionado, oferecendo proteção política em troca da postergação do julgamento, o Ministro indignado procurou imediatamente seus pares para relatar o ocorrido, de modo reservado, pautado pelo decoro??? Aqui, cabe ainda outra pergunta: Se Lula, tendo perdido todo o tino político, estava disposto a enfiar o pé na jaca para cooptar ministros do STF, por que não começou pelo Ministro Levandovski, que na condição de revisor é quem, de fato, tem poder para ditar o timing do julgamento??? Gilmar disse ter comentado com alguns colegas, só informalmente, antes de fazer o relato a Veja. Exige o Código que os magistrados sejam  contidos na relação com os meios de comunicação, evitando a autopromoção e a busca de reconhecimento, e mantendo reserva quanto aos processos em curso. E ainda que façam uso de “linguagem escorreita, polida, respeitosa e compreensível”. É pródigo em vedações sobre condutas e obtenção indevida de vantagens e benefícios.   Se a viagem para Berlim foi paga pelo próprio STF, a carona em jatinho para Goiânia não seria uma infração??? Mas supondo sempre que tudo ocorreu como relatou o magistrado, constatamos que pelo menos uma acusação sem provas ele fez a Lula, a de que estaria espalhando boatos sobre seu suposto envolvimento com Demóstenes e CachoeiraE ainda outra, a de que o Delegado federal aposentado Paulo Lacerda estaria assessorando Lula e o PT com a missão de destruí-lo. Lacerda deixou a ABIN  no Governo Lula após ser acusado por Mendes de ter grampeado conversa sua com o Senador Demóstenes. O áudio nunca apareceu e ficou por isso mesmo. Disse ainda o magistrado que Lula estaria a serviço de “bandidos, gângsters e chantagistas” interessados em “melar o julgamentoarrastando o Judiciário para a vala comum, criando uma crise no Judiciário”. Não é preciso usar toga para concluir que um grande mal foi feito à imagem do Supremo pelo Ministro ao acender esta fogueira, na qual fez crepitar também informações nocivas a si mesmoHá uma estranha irracionalidade em tudo o que ele fez. Ou foi um surto, ou há muita água turva neste caso.

terça-feira, maio 29, 2012

Os 5%


Teve início um movimento organizado de ataque ao ex-presidente Lula. Primeiro, a reportagem sobre a suposta chantagem exercida por ele contra Gilmar Mendes, ministro do STF, para adiar o julgamento do mensalão, já desmentida pelo anfitrião do encontro, Nelson Jobim. Depois disso, críticas espalhadas pela rede sobre o comportamento indecoroso de Lula diante das instituições e até ironias relacionadas ao uso de remédios para o tratamento contra o câncer na laringe. Por fim, vozes mais radicais cobrando até a prisão do ex-presidente. Por que será que Lula, depois de oito anos de governo, tendo deixado o Palácio Planalto com recordes de aprovação desperta tanto ressentimento? A resposta é uma só: goste-se ou não dele, Lula ainda é a principal força política do Brasil. E é uma força viva, que pode voltar ao poder em 2018. Mas essa seria uma análise objetiva, dos que fazem cálculos frios nos jogos de poder. Ocorre que o ressentimento em relação a Lula, muitas vezes, é irracional. Como pode um retirante, metalúrgico, sem educação formal ter chegado tão longe? É isso que incomoda boa parte da classe alta brasileira. Sentimentos assim já houve no passado em relação a outros líderes políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart ou mesmo Juscelino Kubitschek. Os paulistas odiavam Getúlio e nunca lhe deram um nome de avenida. Mas poucos fizeram tanto pela industrialização do estado, que começou a se libertar do atraso cafeeiro, como o líder trabalhista. Os militares também odiavam JK, mas, no poder, tentaram reproduzir sua visão de “Brasil Grande”. E os que vierem depois de Lula, de certa forma, serão escravos do seu modelo de inclusão social. Por mais que o critiquem, Lula não será abatido por seus detratores. Até porque, até aqui, ele foi um democrata. E resistiu à tentação do terceiro mandato, quando teria totais condições de se perpetuar no poder.

Toda Mídia


O Financial Times conversa longamente com Joaquim Levy, presidente do Bradesco Asset Management, sob o enunciado “por que o Brasil é agora um bom investimento”. Ele destaca o Bolsa Famíla como razão-chave, porque “cria classe média”, que é “de onde virá a produtividade e de onde virá a demanda de consumo”. Diz que a possível desaceleração chinesa não preocupa, pois as empresas brasileiras são focadas no mercado interno. “As exportações são apenas 10% do PIB brasileiro, com as commodities constituindo apenas metade delas. O Brasil tem um forte mercado interno, que está mais e mais resistente por causa da crescente educação.” Wall Street Journal traz reportagem sobre a prioridade anunciada pela chinesa Lenovo, segunda maior fabricante de computadores do mundo, para aquisições no Brasil. “Estamos interessados em comprar ou trabalhar com todos os atores” do setor no Brasil, diz seu presidente, sem dar maiores pistas. FT, WSJ e Telegraph noticiam que a britânica Diageo, maior empresa de bebidas alcóolicas do mundo, que produz Johnnie Walker, Guinness e Smirnoff, comprou a cearense Ypióca. Entre os motivos, a Copa e os Jogos no Brasil, a rede de distribuição no Nordeste e a busca do mercado externo, agora que os EUA aceitaram a cachaça como bebida diferenciada. As ações da Diageo já subiram. 

quinta-feira, maio 24, 2012

A nova revolução industrial


A sociedade está entrando na terceira fase da revolução industrial. Isto vai, mais uma vez, modificar a maneira pela qual a produção é concebida. No final do século XVIII, com a mudança no modo de produção capitalista, a produção doméstica nas casas de campo da Inglaterra, foi sugada para as primeiras fábricas de tecidos. Mão de obra e maquinaria se juntaram em grandes galpões, a produção aumentou e as cidades incharam rápida e dolorosamente. Esse processo deu novo salto qualitativo com o advento da sociedade de massa, já no início do Século XX. O símbolo dessa fase foi a produção do carro da Ford, modelo T, em uma linha de produção, onde o chassis entrava em uma ponta e o carro saia pronto na outra. O consumidor podia escolher a cor que quisesse, desde que fosse preta. Uma avalanche de produtos. Estas duas etapas deixaram as populações urbanizadas, mais ricas, competitivas, consumista, mas não as fez mais feliz. Agora o capitalismo do século XXI prepara no seu bojo mais um salto qualitativo em direção a uma terceira revolução industrial. Suas evidências são a convergência de tecnologia, softwares cada vez mais ágeis, novos materiais , robôs mais completos, a comunicação via internet e novos processos produtivos. A fábrica do passado era capaz de produzir um mar de produtos semelhantes, massificados, com as mesmas características e o consumidor se sentia atendido. Muita gente queria os produtos eletrônicos de baixo preço. A oficina do futuro, vai ser muito mais parecida com a velha produção doméstica inglesa, do que com as grandes fábricas de Detroit. O futuro aponta para a produção customizada, com um consumidor diferenciado, segmentado de acordo com suas posses, visão de mundo, necessidades específicas, crenças e desejos. Vai ocorrer um fracionamento na produção e por isso grandes fábricas não vão se adaptar a essa nova configuração do sistema industrial. Enfim, a fabrica como conhecemos hoje vai acabar. A produção não. Com as novas tecnologias e montagem de produtos, já é possível produzir em uma vila do interior da África ou na sua garagem. O sistema de suply chain também vai mudar. Os novos materiais serão muito mais duráveis e cada vez mais a fibra de carbono vai substituir o aço e o alumínio. Nanotecnologia, engenharia genética, e outros avanços moldam a terceira revolução industrial. Isto quer dizer que os empregos não estarão nas fábrica. Vai haver um refluxo e os produtos não vão mais ser fabricados necessariamente na China. Haverá uma tênue separação entre serviço e produção. Há uma volta à produção local, porém dentro de novos parâmetros. O processo histórico está novamente se acelerando, o que sinaliza que vivemos em uma fase de transição de uma organização econômica para outra. Os novos condicionantes estão sendo desenvolvidos, cabe a cada um de nós entendê-los para não ser atropelado no futuro.