sexta-feira, abril 01, 2011

Costa do Marfim

A guerra na Líbia e as sublevações populares na Tunísia e no Egito deixaram em segundo plano as crises na África Subsaariana, e em particular na Costa do Marfim. Independente desde 1960, quando houve o grande movimento de descolonização francesa na África, a Costa do Marfim sempre manteve laços estreitos com a França, por obra e graça de seu primeiro presidente, Houphouet-Boigny. Na realidade, Houphouet-Boigny se manteve no posto, de maneira ditatorial, de 1960 até a sua morte, em 1993. Sua imbricação com os interesses políticos e econômicos franceses, que controlam a comercialização do cacau e do café, principal riqueza do país, tornou-se proverbial. Durante anos, o país foi próspero. Mas, a partir de meados dos anos 1980, a economia estagnou, devido à secas e à queda dos preços do café e do cacau, trazendo problemas sociais, motins militares e tensões étnicas e religiosas. As populações do Norte do país são majoritariamente muçulmanas, enquanto as do Sul são em geral cristãs. Tropas da ONU mantêm uma paz precária no país desde 2002. Presidente em exercício a partir do ano 2000, Laurent Gbagbo, cristão e com suas bases eleitorais no Sul, enfrentou Alassane Ouattara, muçulmano muito popular no Norte do país, nas presidenciais de setembro e outubro do ano passado. Conforme a comissão eleitoral independente da Costa do Marfim, Ouattara foi o vencedor das eleições. Apesar de tudo, Gbagbo não cedeu à presidência a Outtara, que também foi reconhecido como vencedor das eleições pela ONU, a União Europeia e os Estados Unidos. Seguiram-se os conflitos que mergulharam o país em enfrentamentos armados. Nesta semana, o Conselho de Segurança da ONU votou, por unanimidade, sanções contra Gbagbo e sua família, instando a “retirar-se imediatamente” da presidência. Nos últimos dias, as forças legalistas que apoiam Ouattara tomaram Yamoussoukro, capital constitucional do país, e acentuam o cerco à Abidjan, capital econômica, onde se encontra Gbagbo e seu estado-maior. O embate entre cristãos e muçulmanos dá uma dimensão internacional à crise na Costa do Marfim. O conjunto da população da África subsaariana compõe-se de 57% de cristãos e 29% de muçulmanos. Mas nos países acima da bacia do Congo, as proporções são mais próximas e as clivagens internas mais nítidas, como na Nigéria e no Sudão, onde surgiram conflitos sangrentos entre as duas comunidades.

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