segunda-feira, abril 18, 2011

Xeque Mate

A situação Fiscal dos EUA finalmente chega aos radares:

  • Dívida pública dos EUA chega a 100% do PIB . Brasil, 60%. 
  • Déficit público dos EUA maior que 10% do PIB. Brasil: menor que 3% 
  • Receita de impostos nos EUA: 16% do PIB. Brasil: 38% 
  • Percentual da dívida nas mãos de estrangeiros: 47% . Brasil : menos de 15% 
  • Rolagem da dívida / despesas anuais: 50% nos EUA. Brasil < 35% 
  • Crescimento do PIB: EUA 2.5%aa vs Brasil 4.5% aa 
  • Déficit externo: EUA 3.5% do PIB vs Brasil 2.2% PIB 
  • Divida privada nos EUA : 300% do PIB. No Brasil menos de 70%. 
A dívida pública dos EUA passa de 120% do PIB, se incorporarmos dívidas dos estados e municípios, o pico atingido após segunda guerra. O Déficit fiscal passa dos 10%, acumulando quase 30% de déficit em 3 anos. Ele é o maior desde a Segunda Guerra Mundial e não deve vir abaixo de 3% nos próximos 5 anos. Receita do Governo Federal nunca passou de 20% do PIB. Hoje está em 16%. Logo, mesmo se a receita voltar aos 20%, déficit cai para 6%, o dobro do brasileiro. Gasto do governo é concentrado em defesa, saúde e pensões. Há espaço para aumentar arrecadação de impostos das empresas, pois representam apenas 12% da receita total hoje. Porém isto reduziria lucros e investimentos das empresas. Fica fácil assim dizer que situação fiscal dos EUA é séria. É tão grave como a situação Portuguesa. Porém os EUA tem vantagens: 
1. Imprimem sua própria moeda. BC americano tem comprado US$ 80 bi por mês em dívida do tesouro, ou seja, num ritmo de quase US$ 1 bi anual. Ajuda bem, pois BC imprime moeda e compra com esta moeda títulos do tesouro. É a chamada monetização da dívida;
2. US$ é moeda de reserva de valor usada pelos BC´s do resto do mundo. Estes ajudam comprando algumas centenas de bilhões de US$ e títulos por ano para evitar que suas moedas se valorizem, o que financia o governo dos EUA;
3. EUA tem os maiores Fundos e Bancos do mundo.

Porém a situação é instável:
A. Economia dos EUA cresce devagar e precisa do impulso fiscal para se sustentar. Em outras palavras, se o Governo cortar gastos, economia perde fôlego e pode entrar em recessão. Desemprego está em 8.5%;
B. Apesar da queda da demanda interna, os EUA não conseguem eliminar déficit externo. Se a economia aquecer, aumentam importações e déficit externo aumenta, aumentando dependência de financiamento externo;
C. FED não pode subir juro pois economia ainda não está andando por suas próprias pernas. Logo, ele não tem como evitar uma queda do valor do dólar através da alta dos juros.
D. Juro baixo dos EUA aumenta custo das commodities, desvalorizando o US$. Custo maior das commodities atua como imposto sobre o consumo americano. A receita deste imposto vai parar na mãos dos exportadores de commodities. Sobra assim menos grana para consumir e menos grana para pagar impostos nos EUA;
E. Endividamento privado é gigante. Chega a 300% do PIB. Não há espaço para aumentar consumo, e qualquer aumento de impostos reduz poupança dos indivíduos o que impede a queda do endividamento, retardando assim a retomada do crescimento sustentável e da expansão do crédito;
F. Há dezenas de trilhões de dólares de obrigações futuras previdenciárias e de seguro saúde não cobertas por fundos do governo. Logo, o problema só aumenta;
G. Apesar do status de moeda de reserva de valor, o dólar vem caindo no mundo todo, e criando perdas e riscos enormes aos BC´s do mundo emergente que acumulam reservas nesta moeda;
H. Não há consenso político para um ajuste fiscal. E não há lideranças políticas fortes para abraçarem tal agenda de ajustes.

Não haverá solução indolor:
* Se não for endereçada questão fiscal, há risco de um derretimento do dólar similar àquele ocorrido nas moedas asiáticas nos anos 90. Inflação dispara e dívida é resolvida pela queda do poder de compra do dólar. Isto seria dramático pois o US$ é de fato a moeda de referência mundial e o sistema financeiro americano é fundamental na intermediação do fluxo de capital no mundo todo. Poderíamos ter assim uma crise bastante séria.
* Se EUA fizerem ajuste fiscal rápido demais, aumentando impostos e cortando gastos rápido demais, a economia dos EUA afunda, entrando em recessão. Risco de quebra de bancos aumentaria e travaria todo sistema de crédito global, de novo.
* EUA fazem ajuste fiscal gradual, crescimento se reduz, porém não o suficiente para colocar país em recessão. Juros ficam baixos por muito tempo, dólar cai por lá, e déficit externo se reduz, e em 5 anos, EUA voltam ao normal.

Para agravar o quadro, as agências classificadoras de risco de crédito já avisaram que podem reduzir a nota dada aos títulos do tesouro americano.

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