quarta-feira, outubro 19, 2011

Deixe as coisas precisamente como estão

Os doidos do "Ocupe Wall Street" espalharam-se por 82 países. Em todos os lugares, a pergunta é uma só: qual é a agenda dessa gente? Nesta semana, a "The New Yorker" matou a charada. Cinco banqueiros de cartola empunham cartazes e um deles pede: "Deixe as coisas precisamente como estão." E elas estão assim: os EUA tecnicamente fora da recessão, a taxa de desemprego em 9%, a maior desde os anos 40. Os lucros das corporações no maior nível dos últimos 70 anos, mas os salários bateram no mais baixo patamar desde 1960. Todos os indicadores de renda do andar de cima vão bem, mas querem mandar a conta da ruína para o andar de baixo, cortando políticas sociais. A "patuleia do parque" é o novo personagem da crise. Em 1967, numa marcha contra a guerra do Vietnã, foi proposto que as energias dos manifestantes fossem concentradas para fazer levitar o prédio do Pentágono. O Pentágono não levitou, mas o presidente Lyndon Johnson desistiu de concorrer à reeleição. Em 1989 os tchecos manifestavam-se chacoalhando chaveiros. Nem os "doidos de Wall Street" acham que o companheiro Obama desistirá da reeleição, mas ele parece não ter entendido o ronco da rua. No domingo, inaugurando o monumento a Martin Luther King, disse que não se deve satanizar "todos aqueles que trabalham" em Wall Street. Ninguém está protestando contra todos os operadores, mas contra o que essa turma fez à economia mundial, emprestando dinheiro a quem não podia pagar, na certeza de que o "risco sistêmico" impediria que fossem à lona. Nos anos 80, salvou-se a ciranda dos sábios da banca quebrando-se a América Latina. Agora, os Estados Unidos e a Europa estão provando o velho veneno e não gostam dos seus efeitos. À época, a mágica foi praticada por Paul Volcker. Em 2008, aos 81 anos, ele assessorava Obama. Não havia por que passar a conta adiante, e ele propunha que se baixasse o sarrafo na banca. A certa altura, tratava-se de deixar que o Citibank quebrasse. Obama vacilou, Volcker foi-se embora e o resultado está aí. A sabedoria dos sábios tornou-se maluquice e entraram em cena os doidos, como sábios.

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