terça-feira, junho 26, 2012

As Listas


Adoro Listas!!! Me interesso muito pelas listas de felicidade. Em geral, elas combinam dados sociais e entrevistas nas quais um grupo representativo de pessoas diz qual é seu grau de felicidade. Foi ao ver uma delas, em que a Dinamarca estava na ponta e seus vizinhos nas primeiras colocações, que acabei me interessando pela Escandinávia. Era 2009, e fui pesquisar para entender o que estava por trás da satisfação dos dinamarqueses. O modelo escandinavo é a coisa mais fascinante da Europa. Combina as virtudes do capitalismo com as do socialismo de uma maneira extremamente bem sucedida. Repare. Em todas as listas relativos a avanço social, a Escandinávia domina. Bem, fiz este intróito porque outro dia vi uma lista da Gallup que colocava os venezuelanos como o quinto povo mais feliz do mundo. Um levantamento da Universidade de Columbia  e chancelado pela ONU trouxe também os venezuelanos numa situação invejável: o povo mais feliz das Américas. Como? Mas não é um inferno a Venezuela?? Chávez não é o Satã??? Como curioso que sou, fui pesquisar para tentar entender. Fui dar num estudo feito por um instituto americano chamado CEPR, baseado em Washington: “A Economia Venezuelana nos anos de Chávez”. O CEPR jamais poderia ser desqualificado como “chavista”. E então fico sabendo coisas como essas:
1) Em 1998, quando Chávez assumiu o poder, havia 1628 médicos para uma população de 24 milhões. Dez anos mais tarde, eram quase 20 000 médicos para uma população de 27 milhões;
2) Os gastos sociais subiram de 8% do PIB, em 1998, para 14%. “Se comparamos a taxa de pobreza pré-Chávez (44%) com a registrada dez anos depois (27%), chegamos a uma queda de 37% no número de venezuelanos pobres”, afirma o estudo.
3) O índice de desemprego, que era de 19% em 1998, caiu pela metade.
No trabalho, os autores notam que a percepção entre os americanos sobre a Venezuela de Chávez é ruim. Motivo: a cobertura enviesada da mídia. E, com números, desmontam o mito de que o segredo do avanço da Venezuela está no petróleo e apenas nele. Mas eu queria saber mais. Dei no site do Jazeera, uma emissora árabe bancada pelo Catar que faz jornalismo de primeira qualidade. O Jazeera traz vozes que você não costuma encontrar na imprensa brasileira, e isso ajuda você a entender melhor o mundo. Vi um programa jornalístico cujo título era: “Os venezuelanos estão melhor sob Chávez?” Como sempre, o Jazeera colocou especialistas com visão diferente. Um comentarista americano criticou o “espírito de mártir” de Chávez. Mas os dados objetivos ninguém contestou. A mortalidade infantil diminuiu, a expectativa de vida aumentou, o número de universitários cresceu e as crianças venezuelanas estão indo à escola numa quantidade sem paralelo na história do país. Um consultor americano de empresas interessadas em investir no exterior disse: “Quem quer que queira se eleger na Venezuela vai ter que dar prosseguimento aos programas sociais”. Problemas? Muitos. Criminalidade alta, pobreza e desigualdade ainda elevadas. Mas atenção: os problemas antes eram muito maiores. Vale a pena ver o premiado documentário do jornalista australiano John Pilger, radicado na Inglaterra, sobre o papel dos Estados Unidos na América do Sul. O nome é Guerra contra a Democracia. Ele está disponível, em fatias, no YouTube, com legendas em português. Da imersão em Venezuela, compreendi por que Chávez é tão popular, e por que seu maior adversário nas eleições futuras é, na verdade, o câncer.

Marx


Aqui estou eu, diante da célebre frase de Karl Marx: Os filósofos, até aqui, interpretaram o mundo. A questão é transformá-lo”. Muitas vezes a li, muitas vezes a ouvi, muitas vezes a escrevi. Marx não está inteiramente morto. É visitado cotidianamente por pessoas de todo o mundo. Marx acabou meio que por acaso em Londres, onde passaria os últimos vinte anos de sua vida atormentada por dívidas, furúnculos e brigas de toda natureza. As ideias revolucionárias o fizeram indesejado primeiro na sua Prússia e depois em Paris, onde se asilou. Londres era para ser uma escala temporária, mas se tornaria sua cidade definitiva. Sem Londres Marx não seria Marx. Foi em Londres, na opulência literária incomparável do British Museum, que ele pôde devorar os livros que o habilitariam a escrever O Capital em sua letra ininteligível. O Capital é, depois da Bíblia, o livro mais vendido do mundo. Ambos são muito mais comprados que lidos. O Capital é tão complicado que os estudiosos inventaram uma fórmula para facilitar a leitura na qual a ordem dos capítulos é outra. Assim como Proust e Montaigne, Marx não precisa ser lido linearmente. Algumas linhas ao acaso logo mostram a força descomunal da prosa marxista. Um gênio frasista, Marx é continuamente citado.  “Um fantasma ronda a Europa” e “a história se repete como farsa” são frases que se transformaram em clichês de tanto usadas. Marx inventou muita coisa. Inventou o esquerdista barbudo, uma imagem que resistiu ao tempo. Os brasileiros a conhecem bem. Se Marx não fosse barbudo, Fidel provavelmente importaria barbeadores para sua Ilha. Marx inventou também a crença fanática num sistema que responderia simplesmente a todas as questões que a humanidade pudesse erguer. No apogeu do marxismo, seus seguidores tinham a certeza de que O Capital explicava tudo. É mais ou menos o que pensam hoje os islamitas extremistas sobre o Corão. Marx inventou ainda, indiretamente, o Welfare State, o modelo capitalista europeu no qual os trabalhadores são protegidos. Seu Manifesto Comunista, de 1848, foi determinante para que, poucos anos depois, a Alemanha de Bismarck criasse leis inovadoras trabalhistas. O Manifesto conclamava os proletários a se insurgir porque nada tinham a perder exceto “os grilhões” e tinham “o mundo” a ganhar. O Welfare State, se não ofereceu o mundo aos proletários, livrou-os das correntes e deu-lhes o bastante para que tivessem o que perder. Mas Marx inventou também o esquerdista intolerante e fundamentalista. Marx jamais conseguiu conviver num ambiente de ideias que se contrapõem. Rompeu com pensadores de esquerda como ProudhonBakunin por não aceitar divergências. A alma intransigente de Marx moldou a de marxistas como Lênin e Stálin. A crise econômica financeira mundial colocou Marx em situação de vantagem sobre seu arquirrival em influência, o escocês Adam Smith. Smith, autor do clássico A Riqueza das Nações, acreditava que a “mão invisível” do mercado corrigiria tudo. É uma ideia que hoje não parece ter muitos pontos de sustentação. Não foi só Marx que ressurgiu. Também Keynes, o aristocrático inglês que entendia que o governo tinha que de alguma forma guiar a “mão invisível”, voltou a ser tema de palestras, discussões e livros. “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”. É outra frase célebre sua. Os trabalhadores de todo o mundo afinal não se uniram, como o tempo mostra. Mas como eles poderiam fazer isso se o homem inflamado e excepcionalmente cintilante que os conclamou jamais conseguiu ele próprio, se unir a ninguém que ousasse pensar diferente???

Caprilles


Fiquei interessado em conhecer as idéias de Henrique Caprilles, que é o adversário de Chávez nas eleições venezuelanas. É um jovem, aos 39 anos tem experiência política, foi prefeito e governador. Causa boa impressão, inegavelmente. Tem ascendência polonesa, seus avós fugiram do nazismo, e uma ideologia de centro esquerda. Minha pesquisa se baseou em material internacional, dada a escassez de informações sobre ele nas publicações brasileiras. Nelas, sobretudo entre os comentaristas, Caprilles aparece, basicamente, apenas como uma alavanca para os habituais ataques a Chávez, o satanásO que mais me chamou a atenção foram duas coisas. Primeiro, Caprilles disse, publicamente, que sua “fonte de inspiração” são os programas sociais de Lula. Nos elogios a Caprilles que o leitor brasileiro fatalmente lerá em doses cavalares, este é um dado que provavelmente jamais será citado. Segundo, Caprilles disse, também publicamente, que seria “louco” se interrompesse os programas sociais de Chávez. São vários. Um dos mais interessantes é um que proporcionou atendimento médico a milhões de venezuelanos que jamais tinham tido antes acesso a um médico. Chávez se valeu, aí, de suas boas relações com Cuba – uma referência internacional em saúde pública, algo que nem os mais acerbos críticos de Fidel contestam. Quase 40 mil médicos cubanos estão na Venezuela para atender pobres e, também, ensinar medicina a jovens venezuelanos. Caprilles, caso eleito, pode ter alguma dificuldade em manter a ajuda médica cubana tal como é hoje. Durante os poucos dias em que Chávez foi afastado numa tentativa de golpe frustrada, Caprilles, então prefeito, fez pressão sobre uma embaixada cubana para que fossem entregues chavistas que estivessem porventura refugiados. Caprilles tem feito um discurso conciliador. Diz que será o presidente de todos os venezuelanos, incluídos os “vermelhos”, em referência à cor do chavismo. Mas esta tentativa de conciliação, pelo menos por enquanto, está longe, bem longe de Havana. Caprilles tem uma batalha morro acima: está bem atrás de Chávez nas intenções de voto. Provavelmente perderá, mas é um bom candidato. O PSDB, tão carente de rumo depois de FHC, e tão sem caras novas por conta do monopólio exercido por Serra, e tão sem apelo perante os pobres no Brasil, talvez pudesse encontrar no caso Caprilles uma pista para se reinventar e ser uma alternativa real e moderna ao PT.

Smartphones


O Wall Street Journal noticia o fechamento do escritório da taiwanesa HTC em São Paulo, “que supervisionava vendas e distribuição na América Latina”, para “focar em outros emergentes, como China, onde os segmentos de preço médio para alto, alvos prioritários da HTC, têm mais espaço para crescer”. No site do “WSJ”: O Brasil é seguramente um mercado de crescimento muito rápido para smartphones. Por que a HTC está saindo? Todo mundo está com os olhos voltados para o Brasil. Concorrentes da HTC, Lenovo e ZTE estão procurando instalações para fabricação. Essa operação específica da HTC era de vendas e distribuição, portanto eles não estavam mesmo fabricando, mas é um sinal de que a HTV está realmente tendo dificuldade para ganhar terreno no mercado de smartphones. Se você olhar para o mercado de smartphones agora, há vencedores e perdedores. O campo vencedor é na verdade de Samsung e Apple, com o domínio em fatia de mercado. As empresas que estão se debatendo são Nokia, HTC e RIM.

segunda-feira, junho 04, 2012

Perguntas que sobram

Suponhamos que, no encontro de Lula, Jobim e do Ministro Gilmar Mendes, do STF, tudo tenha se passado exatamente como  este último relatou à Veja, embora os outros dois neguem tratativas sobre a oferta de blindagem ao magistrado na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento do MensalãoA execração do ex-presidente foi imediata, por parte dos que tomaram a narrativa do ministro como verdade indiscutível. Falta perguntar, porém, se a conduta de Gilmar Mendes, como magistrado da corte suprema, foi correta. Manteve ele o decoro exigido??? Foram observados os preceitos do Código de Ética da Magistratura Nacional??? Tal Código determina que o exercício da magistratura seja norteado “pelos princípios da independência, da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.” Manda o Código que o magistrado, buscando sempre a verdade nas provas, mantenha “distância equivalente das partes e evite todo tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”. Mas Lula não é réu no caso e por isso o encontro em si não foi aético ou indevido. Manda ainda o Código que o magistrado denuncie todas as tentativas de cercear sua independência. Supondo que Lula o tenha mesmo pressionado, oferecendo proteção política em troca da postergação do julgamento, o Ministro indignado procurou imediatamente seus pares para relatar o ocorrido, de modo reservado, pautado pelo decoro??? Aqui, cabe ainda outra pergunta: Se Lula, tendo perdido todo o tino político, estava disposto a enfiar o pé na jaca para cooptar ministros do STF, por que não começou pelo Ministro Levandovski, que na condição de revisor é quem, de fato, tem poder para ditar o timing do julgamento??? Gilmar disse ter comentado com alguns colegas, só informalmente, antes de fazer o relato a Veja. Exige o Código que os magistrados sejam  contidos na relação com os meios de comunicação, evitando a autopromoção e a busca de reconhecimento, e mantendo reserva quanto aos processos em curso. E ainda que façam uso de “linguagem escorreita, polida, respeitosa e compreensível”. É pródigo em vedações sobre condutas e obtenção indevida de vantagens e benefícios.   Se a viagem para Berlim foi paga pelo próprio STF, a carona em jatinho para Goiânia não seria uma infração??? Mas supondo sempre que tudo ocorreu como relatou o magistrado, constatamos que pelo menos uma acusação sem provas ele fez a Lula, a de que estaria espalhando boatos sobre seu suposto envolvimento com Demóstenes e CachoeiraE ainda outra, a de que o Delegado federal aposentado Paulo Lacerda estaria assessorando Lula e o PT com a missão de destruí-lo. Lacerda deixou a ABIN  no Governo Lula após ser acusado por Mendes de ter grampeado conversa sua com o Senador Demóstenes. O áudio nunca apareceu e ficou por isso mesmo. Disse ainda o magistrado que Lula estaria a serviço de “bandidos, gângsters e chantagistas” interessados em “melar o julgamentoarrastando o Judiciário para a vala comum, criando uma crise no Judiciário”. Não é preciso usar toga para concluir que um grande mal foi feito à imagem do Supremo pelo Ministro ao acender esta fogueira, na qual fez crepitar também informações nocivas a si mesmoHá uma estranha irracionalidade em tudo o que ele fez. Ou foi um surto, ou há muita água turva neste caso.

terça-feira, maio 29, 2012

Os 5%


Teve início um movimento organizado de ataque ao ex-presidente Lula. Primeiro, a reportagem sobre a suposta chantagem exercida por ele contra Gilmar Mendes, ministro do STF, para adiar o julgamento do mensalão, já desmentida pelo anfitrião do encontro, Nelson Jobim. Depois disso, críticas espalhadas pela rede sobre o comportamento indecoroso de Lula diante das instituições e até ironias relacionadas ao uso de remédios para o tratamento contra o câncer na laringe. Por fim, vozes mais radicais cobrando até a prisão do ex-presidente. Por que será que Lula, depois de oito anos de governo, tendo deixado o Palácio Planalto com recordes de aprovação desperta tanto ressentimento? A resposta é uma só: goste-se ou não dele, Lula ainda é a principal força política do Brasil. E é uma força viva, que pode voltar ao poder em 2018. Mas essa seria uma análise objetiva, dos que fazem cálculos frios nos jogos de poder. Ocorre que o ressentimento em relação a Lula, muitas vezes, é irracional. Como pode um retirante, metalúrgico, sem educação formal ter chegado tão longe? É isso que incomoda boa parte da classe alta brasileira. Sentimentos assim já houve no passado em relação a outros líderes políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart ou mesmo Juscelino Kubitschek. Os paulistas odiavam Getúlio e nunca lhe deram um nome de avenida. Mas poucos fizeram tanto pela industrialização do estado, que começou a se libertar do atraso cafeeiro, como o líder trabalhista. Os militares também odiavam JK, mas, no poder, tentaram reproduzir sua visão de “Brasil Grande”. E os que vierem depois de Lula, de certa forma, serão escravos do seu modelo de inclusão social. Por mais que o critiquem, Lula não será abatido por seus detratores. Até porque, até aqui, ele foi um democrata. E resistiu à tentação do terceiro mandato, quando teria totais condições de se perpetuar no poder.

Toda Mídia


O Financial Times conversa longamente com Joaquim Levy, presidente do Bradesco Asset Management, sob o enunciado “por que o Brasil é agora um bom investimento”. Ele destaca o Bolsa Famíla como razão-chave, porque “cria classe média”, que é “de onde virá a produtividade e de onde virá a demanda de consumo”. Diz que a possível desaceleração chinesa não preocupa, pois as empresas brasileiras são focadas no mercado interno. “As exportações são apenas 10% do PIB brasileiro, com as commodities constituindo apenas metade delas. O Brasil tem um forte mercado interno, que está mais e mais resistente por causa da crescente educação.” Wall Street Journal traz reportagem sobre a prioridade anunciada pela chinesa Lenovo, segunda maior fabricante de computadores do mundo, para aquisições no Brasil. “Estamos interessados em comprar ou trabalhar com todos os atores” do setor no Brasil, diz seu presidente, sem dar maiores pistas. FT, WSJ e Telegraph noticiam que a britânica Diageo, maior empresa de bebidas alcóolicas do mundo, que produz Johnnie Walker, Guinness e Smirnoff, comprou a cearense Ypióca. Entre os motivos, a Copa e os Jogos no Brasil, a rede de distribuição no Nordeste e a busca do mercado externo, agora que os EUA aceitaram a cachaça como bebida diferenciada. As ações da Diageo já subiram. 

quinta-feira, maio 24, 2012

A nova revolução industrial


A sociedade está entrando na terceira fase da revolução industrial. Isto vai, mais uma vez, modificar a maneira pela qual a produção é concebida. No final do século XVIII, com a mudança no modo de produção capitalista, a produção doméstica nas casas de campo da Inglaterra, foi sugada para as primeiras fábricas de tecidos. Mão de obra e maquinaria se juntaram em grandes galpões, a produção aumentou e as cidades incharam rápida e dolorosamente. Esse processo deu novo salto qualitativo com o advento da sociedade de massa, já no início do Século XX. O símbolo dessa fase foi a produção do carro da Ford, modelo T, em uma linha de produção, onde o chassis entrava em uma ponta e o carro saia pronto na outra. O consumidor podia escolher a cor que quisesse, desde que fosse preta. Uma avalanche de produtos. Estas duas etapas deixaram as populações urbanizadas, mais ricas, competitivas, consumista, mas não as fez mais feliz. Agora o capitalismo do século XXI prepara no seu bojo mais um salto qualitativo em direção a uma terceira revolução industrial. Suas evidências são a convergência de tecnologia, softwares cada vez mais ágeis, novos materiais , robôs mais completos, a comunicação via internet e novos processos produtivos. A fábrica do passado era capaz de produzir um mar de produtos semelhantes, massificados, com as mesmas características e o consumidor se sentia atendido. Muita gente queria os produtos eletrônicos de baixo preço. A oficina do futuro, vai ser muito mais parecida com a velha produção doméstica inglesa, do que com as grandes fábricas de Detroit. O futuro aponta para a produção customizada, com um consumidor diferenciado, segmentado de acordo com suas posses, visão de mundo, necessidades específicas, crenças e desejos. Vai ocorrer um fracionamento na produção e por isso grandes fábricas não vão se adaptar a essa nova configuração do sistema industrial. Enfim, a fabrica como conhecemos hoje vai acabar. A produção não. Com as novas tecnologias e montagem de produtos, já é possível produzir em uma vila do interior da África ou na sua garagem. O sistema de suply chain também vai mudar. Os novos materiais serão muito mais duráveis e cada vez mais a fibra de carbono vai substituir o aço e o alumínio. Nanotecnologia, engenharia genética, e outros avanços moldam a terceira revolução industrial. Isto quer dizer que os empregos não estarão nas fábrica. Vai haver um refluxo e os produtos não vão mais ser fabricados necessariamente na China. Haverá uma tênue separação entre serviço e produção. Há uma volta à produção local, porém dentro de novos parâmetros. O processo histórico está novamente se acelerando, o que sinaliza que vivemos em uma fase de transição de uma organização econômica para outra. Os novos condicionantes estão sendo desenvolvidos, cabe a cada um de nós entendê-los para não ser atropelado no futuro.

Crescimento fraco parece estar no fim

Financial Times e Wall Street Journal noticiam o pacote de estímulo de US$ 10 bilhões destacando o financiamento de veículos, “que representa 20% da atividade industrial do país“. Bloomberg e Reuters ressaltam também a declaração da Presidenta Dilma Rousseff, de que o país está 100%, 200%, 300% preparado para a criseO WSJ acrescenta que relatório da OCED afirma que “um trecho de crescimento fraco no Brasil parece estar chegando ao fim, mas ainda há riscos na forma de inflação, crédito e competitividade“. No Council of the Americas, “Rousseff enfrenta o infame custo Brasil“, dizendo que, “conforme o país encara os efeitos da crise na zona do euro, a presidente espera tomar conta de um de seus mais atemorizantes obstáculos econômicos, a combinação de barreiras burocrátias, impostos complexos e infraestrutura insuficiente”. Na manchete do China Daily, o chefe da Câmara Internacional de Comércio diz que o país deve ampliar a demanda interna, reduzir sua dependência dos EUA e da Europa e “focar mais na Ásia e nos mercados emergentes”. Também no CD, a Changan, maior montadora chinesa, quer levar suas marcas para outros países. “Estamos estudando a construção de fábricas de automóveis em mercados estrangeiros como Rússia e Brasil“. Ainda no jornal estatal, o Ministério do Comércio Chinês afirmou que o país foi alvo de 17 investigações anti-dumping e anti-subsídios, contra nove no mesmo período do ano anterior. A maioria é de EUA e União Europeia, mas “investigações lançadas por países em desenvolvimento estão crescendo”.

segunda-feira, maio 21, 2012

Mudança Sísmica


No Financial Times, “Classificação de risco de ricos e pobres se estreita”, segundo o jornal, realizando “o reconhecimento formal de uma mudança sísmica nos mercados financeiros“. Após anos sendo classificados como lixo, fora do grau de investimento, enquando os desenvolvidos recebiam notas altas, os emergentes se aproximam agora que a crise financeira “fez em pedaços as noções do que constitui bens seguros e de risco”: A Moody’s está com perspectiva negativa ou revisando 29 países para rebaixamento, metade deles países desenvolvidos, inclusiva EUA, Reino Unido, Espanha, França e Itália. Por outro lado, 12 países, a maioria dos quais são mercados emergentes, como Brasil, China, Peru e Turquia, podem estar na fila para elevaçõesO China Daily noticiou a cúpula do G8 nos EUA, dos países desenvolvidos, destacando que o presidente russo Vladimir Putin não foi e que emergentes “como China, Índia, Brasil e outros estão representando papel cada vez mais importante na arena internacional”. Assim, “por exemplo, o maior fórum para lidar com desafios econômicos globais mudou do G8 para o G20 anos atrás”. Bruce Jones, do Brookings, diz que o G8 é hoje um mecanismo estranho, datado e que “será difícil para o G8 calcular qual é sua relevância nos próximos anos“. O CD já havia anotado, em artigo de Wang Yusheng, do Centro de Pesquisa Estratégica da China, que a ausência da Rússia no G8 estaria ligada à oposição ao escudo antimísseis da Otan, na Europa. E um ex-secretário de Estado já propõe convidar a Rússia para a organização militar liderada pelos EUA, para reiniciar as relações.

sexta-feira, maio 18, 2012

O caos e a lama

Guardadas as devidas proporções, a cena remetia a atentados terroristas em estações de metrô como o de julho de 2005 em Londres, ou o de março de 2004 em Madri ou o de 2003 em Moscou. Pessoas em pânico, portas que demoraram para abrir, energia cortada aumentando o sentimento de insegurança, janelas de emergência quebradas, gritos e correria. Mas a cena provocada pelo trem da linha 3-Vermelha do metrô de São Paulo não foi resultado de um atentado, e sim de falha num equipamento de segurança, e isso num ramal que transporta mais de 1 milhão de passageiros por dia. As imagens correram mundo, sempre acompanhadas da informação de que o acidente ocorrera na linha que levará torcedores ao Itaquerão para o jogo de abertura da Copa de 2014. Não fosse a perícia do condutor do trem, que acionou o freio de emergência, o número de feridos seria muito maior do que as mais de 130 pessoas que foram atendidas nos hospitais públicos. O acidente vem se somar ao grande número de ocorrências graves registradas nas linhas do transporte ferroviário na cidade. Desde 2007, ano em que sete pessoas morreram nas obras da linha 4-Amarela, foram quase 100 panes nas linhas do metrô e 124 nas linhas ferroviárias da CTPMAlgo está errado e muito precisa ser feito. Mas, em entrevista logo após o acidente, o secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, aconselhava aos usuários do metrô a não andarem "distraídos"!!! E o governador Alkimin, em peregrinação política pela Zona Norte, anunciava investimentos futuros numa nova linha para atender a região... A verdade pura e simples é que a situação do transporte público em São Paulo é de caos. E as autoridades responsáveis pouco têm feito. Em 2011, dos R$ 5 bilhões previstos para a expansão do metrô, o governo do estado executou somente R$ 1 bilhão. Já na CPTM os investimentos na compra de trens foram reduzidos praticamente à metade. Os investimentos na linha vermelha encolheram 20% e, em todo o sistema a redução foi 19%. Além da falta de investimentos necessários na ampliação e manutenção da rede, sobram denúncias de corrupção nunca apuradas, como compras superfaturadas de trens, cancelamento de licitações, nomeação de um presidente com condenação na justiça e por aí vai. E apesar da inércia, o governo do estado continua prometendo 200 km de linhas do metrô até 2018, apesar de nos últimos 17 anos, os governos tucanos terem construído meros 25 km. Recentemente, a The Economist, tratando do assunto, disse que o metrô de São Paulo ainda não é digno da maior cidade da América do Sul. E não é mesmo. Com 71 km de extensão é menor que o metrô da cidade do México (200 km) e que o de Seul (400 km). Santiago do Chile, cidade com um quarto do tamanho de São Paulo, tem, como lembrou a revista, uma rede metroviária 40% maior. O padrão europeu privilegia, por meio de subsídios, o transporte coletivo, numa escolha que contempla preocupação com a sustentabilidade ambiental. No Brasil, lamentavelmente, tem perdurado a prioridade ao transporte individual rodoviário. A situação da mobilidade urbana, sobretudo na região metropolitana de São Paulo, evidencia o equívoco da prevalência dessa opção. Estudos da Associação Nacional de Transportes Públicos indicam que é preciso tirar de circulação 30% dos automóveis das ruas da capital paulista. Não se trata, evidentemente, de impedir que as pessoas adquiram e usem seu carro. Trata-se de ofertar transporte público em quantidade e qualidade, de forma a inibir o uso indiscriminado e excessivo do automóvel. Os números mostram que, infelizmente, estamos longe disso. Desde 1997 o Datafolha pesquisa a avaliação do sistema de transporte público de São Paulo. No último levantamento, pela primeira vez, menos da metade da população aprovou a qualidade do metrô, que tem batido recorde histórico de superlotação. O sistema de transporte por trilhos de São Paulo passou a atender 7 milhões de passageiros por dia. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, só o volume que aderiu ao sistema em um ano – 1 milhão de pessoas – é igual ao total transportado no sistema do Rio de Janeiro. O problema é enorme e se avoluma. E sua solução não se restringe a enfrentar os problemas do metrô, que é o melhor sistema de transporte de massa. Entretanto, nas condições ainda vigentes no Brasil, a responsabilidade primeira do prefeito é com a melhoria e desenvolvimento do transporte coletivo por ônibus e, se puder, contribuir para o incremento do metrô. São Paulo tem investido pouco no metrô e praticamente zero nos corredores de ômibus.

sexta-feira, maio 11, 2012

Toda Mídia


O Wall Street Journal noticia, com tradução destacada pelo Valor, que “Carlos Slim, do México, faz um avanço de surpresa na Europa“, fazendo uma oferta pela “cambaleante” holandesa Royal KPN. O jornal diz que o negócio levantou “especulação de que o homem mais rico do mundo pode embarcar numa conquista inversa da Europa”. O WSJ ouve do banco UBS que “Slim é muito bom na compra de bons ativos em mercados deprimidos” e anota que foi assim, ao entrar no mercado brasileiro, via Net e Claro. A perspectiva de redução nos dividendos, devido às aquisições, levou o BTG Pactual a cortar a nota de investimento na corporação de Slim. O Financial Times também noticia, sob o título “Slim está à caça de pechinchas na Europa”. E o New York Times destaca que “Slim busca expandir seu império à enfraquecida Europa”, ele que “construiu fortuna com a ajuda do crescimento de países como o Brasil“. O WSJ noticia que a americana DirecTV, dona da operadora Sky, “diante do mercado de TV paga amadurecido nos EUA, aposta em mercados de crescimento da América Latina, como o Brasil, onde a penetração de TV paga é baixa em relação aos EUA”. O MarketWatch informa, com novo estudo destacando que os ”Serviços de TV paga no Brasil cresceram mais de 30% em 2011″. Ressalta também que os serviços de banda larga cresceram 20%. Do diretor de pesquisa da Parks: "Existem oportunidades digitais domésticas em vários mercados emergentes, mas o crescimento no Brasil é fenomenal.O TNW, por outro lado, noticia que o Netflix assinou com a Fox para licenciar filmes na América Latina, onde “a maior parte do retorno negativo dos usuários, desde o lançamento no ano passado, focou na falta de conteúdo interessante ou novo”.

quinta-feira, maio 10, 2012

A Cachoeira de Abril


A CPI da Veja. O assunto é sério. Gravíssimo. E é hora de todo cidadão honesto ficar alerta. Os barões da mídia se uniram para que uma CPI não passe a limpo as relações criminosas do bicheiro Cachoeira e parte da chamada grande imprensa brasileira, principalmente a revista Veja. O País não pode perder essa oportunidade de desmascarar aqueles que toda semana tentam mostrar nas bancas que são os reis da honestidade. Falam de ética, mas agem como traficantes da informação. Investigações da Polícia Federal já revelaram que a Veja, da família Civita, agiu como porta-voz do bicheiro, preso desde o final de fevereiro, e manteve com ele uma clara troca de favores. A relação fere, no mínimo, qualquer princípio do bom jornalismo. Evidências mostram que a Veja se submeteu aos interesses do crime organizado, jogou a favor de um determinado grupo político por interesses desconhecidos e usou informações obtidas de forma ilegal para atacar seus inimigos. O diretor de jornalismo da Veja virou confidente, amigo íntimo, do bicheiro Cachoeira e de sua turma envolvidos com ações criminosas, como provam as centenas de ligações grampeadas com autorização judicial. Eles escolhiam até em qual parte da revista a informação "denunciada" seria publicada. Quando as denúncias contra o senador Demóstenes Torres e seus negócios com o bicheiro Cachoeira ameaçavam trazer à tona toda sujeira, a revista dos Civita preferiu dedicar uma capa ao Santo Sudário. Bem diferente da cobertura dedicada ao Mensalão, que mereceu 27 capas desde maio de 2005. Repito: 27. Globo e Folha fazem barricada para proteger Veja. É de dar calafrios quando essa turma se une. Onde estão as reportagens no Jornal Nacional citando a revista e a editora abertamente? Onde se escondeu o jornalismo "plural e independente" da Folha? Querem proteger os que praticam um crime. A Veja tenta intimidar os parlamentares que investigam as ligações de Cachoeira com a revista. “Vou explodir”, ameaça Cachoeira da prisão, de acordo com a Veja. Em entrevista a revista, Andressa Mendonça, mulher do contraventor, diz que o marido pode revelar tudo o que sabe. E agora, Veja? O mais importante agora é ver a coragem dos parlamentares para levar de fato Roberto Civita, o dono, a sentar-se em uma das cadeiras da CPI e encarar as perguntas daqueles que estão lá como representantes do povo. O mesmo povo que a Veja tenta enganar todos os fins de semana.