terça-feira, abril 10, 2012

Falta Meritocracia

Segundo a mitologia grega, Sísifo era um rei justo e astuto que se envolveu em uma confusão com os Deuses e acabou levando a pior. De todos os personagens da mitologia grega, a ele parece ter sido reservado o pior castigo: foi condenado a empurrar uma pedra até o topo de um monte, soltá-la, descer ao pé do monte e repetir tudo de novo. Eternamente. Castigo considerado pior que a morte. Sísifo simboliza o trabalho inútil. Ele é a versão mitológica do enxugador de gelo. Ele representa todas as pessoas que, não sendo produtivas, estão sempre ocupadas. Sísifo ajuda a entender porque organizações com excesso de funcionários são tão improdutivas. É trabalho que não gera valor, nem tem mérito. Em 1955 foi publicado pela “The Economist” um artigo com o titulo “A lei de Parkinson”, escrito por C. Northcote Parkinson, professor da Universidade de Singapura. O autor explicou que, no trabalho, o tempo disponível é fixo, mas o montante de trabalho é flexível. Assim, as pessoas vão sempre esticar ao máximo a quantidade de trabalho de maneira a fazer com que ela preencha todo o tempo disponível. Por isso, aumenta-se desnecessariamente a burocracia e complicam-se os procedimentos. Segundo Parkinson, isto ocorreria por dois fatores. O primeiro é a lei de multiplicação de subordinados: cada chefe quer multiplicar o número de subordinados para aumentar seu poder em relação aos seus concorrentes. O segundo é a lei de multiplicação do trabalho: o aumento do número de funcionários de um departamento gera aumento no trabalho a ser feito por todos os departamentos que se relacionam com ele. A relação entre recompensa e mérito se enfraquece. Cria-se um sistema perverso que não gera valor para a sociedade. As organizações passam a viver exclusivamente em função delas mesmas sem com isso servir eficientemente a qualquer função social ou econômica. O mérito perde o sentido. A busca e preservação de posições e poder é somente o que conta. O império da lei de Parkinson traz a mesma frustração expressada por Rui Barbosa quando disse que ”de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto“. A lei de Parkinson é o triunfo do corporativismo sobre o mérito. É a condenação da sociedade ao castigo de Sísifo

segunda-feira, abril 09, 2012

Israel

Os Judeus julgam-se acima do bem e do mal. Acham que estão sempre certos em tudo o que fazem, não aceitam críticas de ninguém e se convenceram de que têm carta branca para fazer o que quiserem em qualquer lugar do mundo. Israel é uma nação para os judeus e uma ditadura para os árabes, sejam muçulmanos ou não. Os israelenses usam sempre a justificativa de que estão ameaçados e têm de lutar pela sobrevivência frente aos inimigos. Até aí beleza, mas Israel esta cansado de saber que a ameaça que sofre deve-se hoje, sobretudo, ao fato de ocupar com violência, territórios palestinos. Desocupar as terras palestinas, mediante um acordo, é o primeiro passo para a paz, mas os israelenses não dão nenhuma demonstração de que pretendem fazer isso. Pelo contrário, estão sempre buscando um pretexto para não buscar a paz. Sabem que sempre contarão com o apoio dos EUA, submetidos ao poder econômico judeu e aos interesses geopolíticos da grande potência. Os norte-americanos, a direita mundial e os que consideram que árabes e muçulmanos são intrinsecamente povos belicosos e perigosos, justificam todos os absurdos que os israelenses cometem. Alegam que Israel sofre atentados terroristas, o que é verdade e tem de ser condenado. Mas não se importam com os atos terroristas praticados institucionalmente por Israel nos territórios ocupados, e ilegalmente em outros países. Há uma dupla moral: um lado pode, o outro não. Violência gera violência. Há extremismos dos dois lados, palestino e israelense, e no caso de Israel o extremismo começa no governo tomado por radicais insanos. E assim a paz, com a convivência de dois estados soberanos, fica a cada dia mais distante. Daí, com o apoio dos Estados Unidos, Israel “pode” o que outros países não podem. O poeta alemão Günther Grass, que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, tem toda razão ao dizer que a "potência atômica Israel põe em risco a já frágil paz mundial ao ameaçar bombardear o Irã". Já há nove países com armas nucleares e não é bom para ninguém que haja mais um. Seria melhor que todos renunciassem às bombas, o que está muito longe de acontecer. Mas o bombardeio do Irã por Israel, com apoio direto ou velado dos EUA, porque se suspeita que os iranianos estejam construindo a bomba, é a pior solução, e inaceitável. É típica de um povo prepotente e belicoso!!!

quarta-feira, abril 04, 2012

Sampa

Percorrer a Avenida Sapobemba, cortando a zona leste da cidade de São Paulo, desde os limites da Mooca até São Rafael, é assistir a uma paulatina mudança de paisagem urbana: marcas famosas vão sumindo, construções perdem o acabamento, e os anos de uso dos carros em circulação se tornam proporcionais à quantidade de buracos no caminho. Enquanto rodam dígitos no hodômetro, terrenos baldios intercalam conjuntos habitacionais e casas cada vez mais modestas. O mato invade o espaço que seria das calçadas. A coincidência assume ares premonitórios. Entre a esquina com a Salim Farah Maluf e a encruzilhada com a estrada do Rio Claro, o conteúdo das urnas eletrônicas sofre um câmbio tão radical quanto à substituição do falar italianado pelo sotaque nordestino. São dois territórios com preferências partidárias arraigadas e muito diferentes entre si. Na eleição presidencial de 2010, José Serra teve 72% dos votos na Mooca. Mas a proporção mudava a cada quilômetro adiante, até Dilma Rousseff alcançar 65% da votação em São Mateus. O voto do paulistano está relacionado ao bairro onde ele mora. O PT tem seus maiores redutos na região periférica da cidade, enquanto o PSDB é forte no centro expandido. Esse padrão se repete desde os anos 90 em todas as votações. O determinismo geográfico do voto reflete uma divisão de classe. A explosão demográfica de São Paulo centrifugou imigrantes e trabalhadores de baixa renda entre os anos 40 e 80 do século passado. Em regra, quanto mais longe a moradia, mais pobre o morador. Quanto mais periferia, menos calçamento, iluminação e hospitais. O PT reforçou o geovoto durante os governos de Luiza Erundina e Marta Suplicy. Canalizou investimentos e programas assistenciais para as regiões mais pobres e distantes das zonas sul e leste da cidade. Cativou seu eleitorado em Parelheiros e Guianases, mas alienou eleitores dos bairros mais centrais que se sentiram preteridos com a mudança de prioridade. O PSDB é menos organizado que o PT, como provou o baixo quorum das prévias tucanas na cidade. Mas se faltam militantes, seu eleitorado é tão fiel quanto o petista. Em 2008, PT e PSDB lideraram, juntos, os votos de legenda para vereador em São Paulo: 21% para cada partido. A divisão se repetiu em 2010 na eleição para deputado federal. A legenda do PT recebeu 22%, e a do PSDB ficou com 19%. A concentração do eleitorado tucano é proporcional à riqueza dos moradores. No centro expandido, varia de 82% no Jardim Paulista a 68% no Butantã. Em décadas passadas, a outra parte do eleitorado antipetista foi malufista. É o segmento que se concentra numa faixa contínua, desde o Jaçanã e a Vila Maria, ao norte, até a Vila Prudente. Decepcionado e desamparado por seu líder, esse eleitor voltou-se para quem tem mais chances de derrotar os petistas. Votou em Serra em 2004 e em Kassab em 2008. Nesses pedaços da cidade, só muda a intensidade da vitória, mas o vencedor é sempre o mesmo: petistas na periferia e tucanos no centro e no colar malufista. Por isso, tornou-se estratégico o meio do caminho entre o petismo e o antipetismo. São as zonas eleitorais que oscilam de um partido a outro de eleição para eleição. É também uma zona de transição social, de emergência da nova classe média, que muda de hábitos de consumo e pode mudar também de partido. Na ZL, os termômetros que indicarão para qual lado a eleição vai virar são Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista, Vila Jacuí, Ponte Rasa, Vila Matilde, Itaquera, Conjunto José Bonifácio e Sapobemba. No Sul: Jardim São Luís, Socorro e Campo Limpo. Juntos, eles somam 1 milhão de votos válidos. O futuro prefeito de São Paulo deve sair do balanço dessas zonas.

BRICS

O livro Eclipse” do polêmico Arvind Subramanian, comenta sobre o domínio econômico da China, analisa as medições do PIB de acordo com índice de paridade de poder de compra. Através deste conceito a China deve ultrapassar os EUA em 2012, apesar de que no conjunto total da economia isto ocorrerá somente em 2020. Isto faz lembrar-me do caso do Brasil em que analistas internacionais comentavam que seria a 6ª economia mundial somente em 2037. E o país é desde dezembro de 2011. Em termo de comércio, riqueza e finanças, não há dúvida da potencialidade da China, que ocupa um lugar de destaque no cenário internacional e com maior reserva cambial do mundo, financiando ações em todos os continentes. 
De acordo com o livro de Jim O’Neill, “The Growth Map”, o mapa do crescimento está nos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O livro prevê o desenvolvimento destas cinco nações. O grupo cresceu, em 10 anos, de US$ 3 trilhões para o total de US$ 13 trilhões, muito acima de suas expectativas iniciais. 
No estudo "Paper 99" de 1996, do Goldman Sachs, os EUA seriam ultrapassados pela China em 2045, e na atual conjuntura, isto ocorrerá por em 2020. O Brasil cresce no efeito China com suas commodities, podendo ser beneficiada também a Rússia. Os BRICS são complementares em suas ações, o que é um incentivo maior para o crescimento destes países. Ainda de acordo com este estudo, o PIB será proporcional a sua população, como o caso da China e Índia. O "Paper 204" do Goldman Sachs faz comparações e projeções para 2030, que são:
- A China será a maior economia mundial com 27% do PIB Mundial em 2050, acompanhada, em 2º lugar, pela da Índia, com 12%. Os EUA serão a 3ª maior potência econômica, com 10% do PIB, o Brasil o 4º, com 5%, e a Rússia a 5ª economia, com 3%. Ou seja, quatro dos cinco primeiros serão dos BRICS. A arma secreta do desenvolvimento da China é a educação, do Brasil é o efeito China, atualmente o maior destino das exportações brasileiras. O crescimento da Rússia está vinculado às commodities, mas sua população está envelhecendo e diminuindo, o que influenciará a velocidade do desenvolvimento econômico. A Índia aumentou em 45% suas exportações em 2011, começando a despertar para o novo cenário econômico mundial.
- O Brasil pode tornar-se a 5ª potência mundial entre 2012 a 2014, por vários motivos. A França é a 5ª maior potência mundial e terminou 2011 com um PIB da ordem de US$ 2,8 trilhões contra US$ 2,4 trilhões do Brasil.
- Apesar de todas as projeções e estudos destas instituições, ressalto que existem variáveis que afetarão o desenvolvimento das nações. O mundo passará por transformações radicais, como os reflexos dos efeitos climáticos e ambientais, como a falta de água, da produção de alimentos, do manejo das reservas de florestas existentes, além do efeito tecnologia e conhecimento. Práticas de sustentabilidade e economia verde atreladas à tecnologia inovadora mudarão a realidade. Neste contexto, a tecnologia pode ajudar o Brasil, os EUA, a Alemanha e a Índia, já as commodities que são moedas de troca favorecem a Rússia e o Brasil.

sexta-feira, março 30, 2012

NÍVEIS ALARMANTES

A combinação entre o endividamento público, a Lei de Responsabilidade Fiscal e as metas de superávits primários, associadas às despesas vinculadas à educação e saúde, gerou um quadro financeiro crítico para o poder público. A disponibilidade de recursos orçamentários para investimentos secou dramaticamente. A retomada do crescimento da economia despertou para a necessidade de investimentos na expansão e recuperação da base produtiva do País. A carência e a deterioração das matrizes de energia e de transporte colocam em jogo a expansão econômica. Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, a necessidade de recursos para investimentos em infraestrutura no País é estimada em R$ 800 bilhões. São R$ 376 bilhões em petróleo e gás, R$ 141 bilhões em energia elétrica, R$ 120 bilhões em transporte e logística, R$ 98 bilhões em telecomunicações e R$ 67 bilhões em saneamento. A carência de recursos não se limita apenas às necessidades infraestruturais. A deterioração dos serviços públicos, sobretudo nas áreas de educação, saúde e segurança, atinge níveis alarmantes, capazes de corroer de modo acelerado a sociedade organizada. Em suma, o País vive um estágio caracterizado por uma enorme demanda por investimentos em infraestrutura e serviços públicos frente a orçamentos dramaticamente restritivos. Não há mais espaço para impor maior carga de impostos ao contribuinte e a margem para expansão do endividamento é pequena. Portanto, a questão que se coloca é: como equacionar esse angustiante cenário? Como o País poderia eliminar os gargalos que impedem a economia de crescer e de que forma a crise social poderia ser minimizada? Mais do que qualquer debate envolvendo aspectos ideológicos, o encaminhamento dessa questão passa pela emergência de um novo padrão de relacionamento entre os poderes público e privado. A saída é a implementação de parcerias entre os governos e as empresas. Ao setor privado as evidências apontam não apenas para a capacidade técnica, administrativa e gerencial para sua incorporação na produção de bens e serviços a cargo do Estado. Há capacidade produtiva ociosa em busca de realização e liquidez que poderiam ser canalizada para financiar investimentos sob responsabilidade dos governos. Pelo lado do setor público, desenvolver formas cooperativas de atuação com a iniciativa privada é a saída para a realização dos investimentos necessários. Essa interação se apresenta com enorme potencial para a implementação de projetos voltados à qualificação de serviços prestados pelo Estado e para a provisão de equipamentos sociais. A convergência de interesses legítimos dos setores governamental e privado se faz necessária para o Brasil implementar os investimentos necessários para qualificar os serviços públicos e expandir a infraestrutura. Vale a tese, segundo a qual as transações entre dois agentes econômicos ocorrem quando ambos satisfazem seus interesses. Essa ideia precisa ser difundida e deve nortear as ações relacionadas ao desenvolvimento sócio-econômico no País.

terça-feira, março 20, 2012

Redistribuição Tributária

A saúde financeira dos municípios brasileiros padece de vários problemas. Entre eles, o baixo nível de investimentos, baixa arrecadação própria e endividamento. É o que apurou o Índice Firjan de Gestão Fiscal. Segundo o levantamento, apenas 95 prefeituras têm gestão excelente no país. Em contrapartida, 64% dos municípios receberam uma classificação "difícil" ou "crítica". Talvez o dado que mais preocupe seja o fato de que 83% dos municípios não geram nem 20% de receita própria. Assim, a esmagadora maioria precisa de transferências da União e dos Estados. Informa a Firjan que apenas 83 prefeituras conseguem pagar a folha de pessoal com dinheiro próprio. O peso da folha vem crescendo. Os números da Firjan dão conta que os gastos com pessoal passaram de 45% das receitas correntes líquidas das prefeituras para 50%, um aumento de R$ 38 bilhões. E aqui é importante saber se isto vem sendo em função de salários de professores, de servidores de saúde e do pessoal que atua na área social e de infraestrutura urbana. Se este for o caso, estes gastos estão mais do que justificados. Afinal, não há como melhorar os serviços públicos sem contratar e não há como reter funcionários públicos sem remunerá-los de forma condizente. O levantamento apurou, por outro lado, que existe nos caixas dos municípios menos recursos para investimentos. Metade das prefeituras está em situação crítica, tendo aplicado em 2010, em média, apenas 7% da receita. Em relação aos restos a pagar: 19% das cidades deixaram menos dinheiro em caixa do que as obrigações a serem pagas no ano seguinte. Em outras palavras, rolaram suas dívidas de um ano para o outroO quadro indica o que já estamos dizendo há muito tempo: já é mais do que hora de refazermos o pacto federativo. Sem isso, não há saída. A não ser por meio de crescimento econômico e da arrecadação, o que viabilizaria mais recursos para investimentos. No capítulo investimentos, aliás, indica a pesquisa que, em média, são baixos. A saída, neste caso, é conhecida. Já falamos bastante sobre a importância da reforma tributária - não apenas de mudanças nas regras da cobrança do ICMS, ou o fim do desconto na folha. Estou me referindo a uma extensa reforma social e federativa, que ponha um fim ao caráter regressivo e indireto dos impostos e redistribua, de fato, o bolo tributário de uma forma mais republicana.

sexta-feira, março 16, 2012

Governança e Democracia

O professor Archon Fung acredita que a América Latina pode estar passando por profundas transformações que significariam a reinvenção da democracia. Seu texto é uma análise de livros que tratam da democracia na região. Na verdade, apenas um trata da América Latina. Os outros três tratam do Brasil. O mais importante em seu livro é considerar que o Brasil estaria no epicentro da revitalização democrática e da criatividade institucional!!! 
Tal afirmativa é forte, em se tratando de um país que ainda assiste a tantos escândalos e ainda apresenta traços arcaicos no modo de conduzir a política. No entanto, por mais otimista que possa ser, a afirmação não é desprovida de fundamento. Muitos estão ocupados em encontrar defeitos no sistema político nacional. Eu mesmo já escrevi sobre isso. É fácil. Difícil é encontrar bons exemplos que representem avanços concretos na direção do fortalecimento da democracia. 
Um dos aspectos saudados como inovador por Fung é o Orçamento Participativo (OP), criação do PT gaúcho que institucionalizou o debate sobre as prioridades orçamentárias dos municípios. O OP foi implementado em 1989 por Olívio Dutra, foi mantido durante os 16 anos em que o PT governou Porto Alegre e foi seguido pelas gestões de Fogaça (PMDB) e Fortunatti (PDT). Devido à sua longevidade, essa iniciativa de participação popular ganhou projeção internacional. Mesmo com todo esse prestígio, o OP foi muito questionado em PoA. Como os prefeitos petistas não tinham maioria na Câmara, o OP também foi utilizado como uma forma de conquistar apoio popular, sobretudo nos bairros mais carentes. Por conta disso, a oposição classificava o OP como uma medida que buscava enfraquecer a democracia representativa. Outra crítica era que as comunidades beneficiadas eram aquelas cujos líderes comunitários tinham ligação com o PT. Independentemente dessas avaliações, o fato é que o OP foi uma medida exitosa de democracia direta. 
Outra iniciativa que deve ser saudada como parte do arsenal de medidas não eleitoreiras e que fortalecem a democracia é a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES). Composto por 90 cidadãos representativos de vários setores, o CDES funciona como uma espécie de conselho consultivo para a Presidência acerca dos mais variados assuntos que impactam a sociedade. Em pouco menos de dez anos de existência, o CDES foi capaz de propor soluções e ações que se materializaram tanto como políticas de governo quanto como leis aprovadas no Congresso. Revelou-se interessante, ainda, para os Estados. 
Considerando nossas fragilidades institucionais, estamos longe de representar um modelo para a reinvenção da democracia. Os avanços são lentos e muitas vezes tolhidos de seus aspectos mais inovadores. Porém, algumas das novas iniciativas se revelam bastante interessantes para institucionalizar uma participação mais efetiva da sociedade civil na governança do país. 

quarta-feira, março 14, 2012

A Nova História do Brasil

Hannover, Alemanha, 2001. No final de semana que antecedia a participação de uma delegação de empresários brasileiros, na maior feira de tecnologia da informação do mundo, a CeBIT, uma revista era dedicada ao Brasil. Nela constavam mulheres muito atraentes, em biquínis minúsculos na praia de Copacabana, posando com copos de caipirinha em mãos. Numa única foto, vários símbolos identificavam nosso país: a sensualidade da mulher, a beleza de nossas praias e a exótica e apreciada bebida nacional. Todo o conteúdo da matéria girava em torno destes símbolos e limitava-se a tratar do modo de vida despojado, festivo e descomprometido de nosso povo. Nessa época o Brasil não apenas produzia software, como tinha um mercado superior a US$ 7 bilhões nesta área. Nossa automação bancária já era considerada a melhor do mundo e não usávamos cédulas de papel nas eleições, mas urnas eletrônicas capazes de coletar e apurar mais de 100 milhões de votos em poucas horas. Nossa declaração de imposto de renda era feita via internet em minutos. 
Onze anos transcorreram e saltamos da condição de desconhecidos e estereotipados, para a condição de país homenageado da CeBIT!!! Na cerimônia de abertura, a Presidenta Dilma Rousseff, acompanhada de Ministros e Governadores, sob o olhar atento de sua anfitriã, Angela Merkel, afirmou que as soluções verde-amarelas auxiliam a competitividade brasileira a alcançar a posição de quinta maior economia do mundo. Em 2012, o mercado brasileiro deverá crescer acima da média internacional. Em onze anos, saímos de um acanhado estande, para um espaço de 1.200 metros quadrados distribuídos em quatro Pavilhões. Ao invés de uma infinidade de nomes e logos, uma identidade visual única: Brasil IT+. Conferindo seriedade e profissionalismo à presença brasileira organizada pela Softex. A saga prestigiada por mais de 130 organizações nacionais não serviu apenas para colocar o Brasil definitivamente no radar mundial como opção das grandes corporações globais na hora de especificar suas demandas por sistemas e soluções de informática, gerou US$60 milhões em negócios e a certeza de que o mundo mudou. Afinal, em pouco mais de uma década, os termos: terceiro mundo ou país subdesenvolvido que nos rotulavam, deram lugar as expressões “economia emergente” e “bola da vez”.  

Prioridades

A Fundação Dom Cabral foi ouvir as maiores companhias instaladas no país, que representam 30% do PIB, para saber quais deveriam ser, na opinião delas, as principais obras em infraestrutura. 
As dez obras prioritárias, de acordo com a pesquisa, são: Expansão da rede de banda larga; Duplicação da BR-101; Rodoanel Trecho Norte; Duplicação da BR-116;  Melhorias no Porto de Santos; Concessão de rodovias federais; Aumento da oferta de rede de fibra ótica nas regiões metropolitanas; Aumento da capacidade de terminais e pistas do Aeroporto de Guarulhos; Dragagem dos portos; Construção do segundo anel viário de Belo Horizonte

Todas as obras prioritárias deste país estão sendo tocadas pelo Governo. Os patrocinadores desse estudos deveriam pressionar o IBAMA e o TCU para que não paralisassem as obras. E que defendessem as compensações e os TAC´s que estabelecem, diante de problemas apurados, novas determinações às empresas responsáveis pelas obras, enquanto mantêm os projetos em andamento. É ruim para a sociedade o adiamento, o atraso e a paralisação de obras. Portanto, melhor seria que se evitasse a judicialização das obras. De outro lado, valeria, ainda, pressão sobre as empreiteiras para que não disputassem licitações com preços subestimados para, depois de ganhá-las, não conseguirem fazer as obras, solicitando aditivos. As 259 companhias ouvidas pela pesquisa podem ajudar, e muito, pressionando os órgãos públicos e as empresas do setor de construção na direção de soluções rápidas e urgentes.

Vox Populi

A história, às vezes, acontece sob nossos olhos e não nos damos conta. Só mais tarde atinamos com a importância de algumas mudanças. Semana passada, tivemos uma novidade. Justo onde são tão frequentes que nem merecem registro. Mas não foi coisa corriqueira.
Pela primeira vez, um vídeo de conteúdo inteiramente político postado no YouTube transformou-se em um grande fenômeno de massa, pelo volume de acessos e as reações que despertou. Em apenas três dias, chegou a mais de 50 milhões de visualizações. É provável que já tenha ultrapassado 100 milhões, em apenas sete dias. Os números são eloquentes, mas não constituem o aspecto mais relevante e peculiar do ocorrido. Afinal, virais com estatísticas notáveis não são tão raros. Outro dia mesmo, o vídeo clipe da canção “Ai se eu te pego”, de Michel Teló, se transformou em um acontecimento mundial bem maior que o caso que estamos discutindo: obteve mais de 230 milhões de visualizações. Mas as diferenças são enormes.
A principal é o conteúdo. O vídeo Kony 2012 nada tem de entretenimento. É um documentário político, dura 30 minutos e é falado em inglês. E trata de política internacional e de direitos humanos, considerados temas áridos. O vídeo é uma denúncia das atrocidades cometidas por Joseph Kony, personagem menor e lamentável dos conflitos que, nos últimos 20 anos, vêm devastando a África Central. Em uma região do mundo que vive o pesadelo hobbesiano da ausência do Estado, onde a “guerra de todos contra todos” está declarada e os fortes esmagam os fracos, Kony se distinguiu pelas barbaridades dos soldados de seu “exército”. O palco é Uganda, seu país de origem.
Entre muitíssimas violências, sequestrou milhares de crianças de suas famílias, para escravizá-las e obrigá-las a fazer parte de suas tropas. Esse é o fulcro da denúncia que motivou o vídeo, produzido e postado por uma organização chamada Invisible Children, em alusão à ausência de percepção internacional a respeito das vítimas. A discussão do caso em si - quem é Kony, como chegou a ser o que é, que importância tem hoje em Uganda e na política regional - escapa a nosso interesse. O notável é como um tema que poucos especialistas conheciam até semana passada se transformou em assunto que motiva 100 milhões de pessoas mundo afora. A imensa maioria das reações ao vídeo foi positiva, mas o caráter vagamente esquerdista de seus produtores suscitou a costumeira reação contrária. A internet também se encheu de vociferações contra a “fraude” que estariam perpetrando, com os argumentos típicos da mesma direita raivosa que temos no Brasil. Isso em meio a tudo que é característico da internet - paródias espontâneas, manifestações de apoio, postagens com legendas em dezenas de idiomas...
Que consequências concretas o documentário terá? Vai fazer com que 2012 seja o ano do acerto de contas da comunidade internacional com Kony?? Fará com que o governo norte-americano pare de fazer vista grossa aos conflitos que não colocam em risco os interesses do país???
Difícil dizer. Mas Kony 2012 criou um precedente: 100 milhões de pessoas pararam para ver uma denúncia política e foram discuti-la, sem que fosse necessário exibir imagens chocantes ou sensacionalistas. O YouTube tem milhares de vídeos de conteúdo político. Mas nenhum tinha tido o impacto desse. Será que começou um novo tempo, em que milhões de pessoas mundo afora podem ser mobilizadas por causas políticas e humanitárias???

Veja o vídeo e tire suas conclusões, mas não leve em conta a qualidade da tradução.